Novo filme de Philippe Garrel abre Indie 2008 em BHZ
Philippe Garrel, veterano diretor francês, 60 anos hoje, me parece, teve um único filme lançado comercialmente no Brasil, no ano passado, Amantes Constantes (Les Amants Réguliers) de 2005. Amado e cultuado por uns e ignorado por outros, trazia seu filho Louis Garrel como François, numa Paris agitada pelos movimentos de maio de 68. Agora volta com o mesmo preto & branco, e o mesmo olhar fotograficamente nouvelle vague ( nos dois casos, a fotografia é de William Lubtchansky, o mesmo de Nouvelle Vague de Godard (1990)- que escreveu "A" história junto a cineastas pós-vanguardistas franceses da década de 60 e 70 como Agnés Varda, Marcel Camus e que possui mais de 100 filmes no seu vasto curriculum (113 no Imdb!). Aos 71 anos, Lubtchansky não treme a mão em seus contrastes e planos fechados e subjetivos.
La Frontière... é um filme cheio de aura. Destes filmes que trazem um clima e no qual a construção de uma lógica qualquer parece estar um pouco além do óbvio. Há uma história, mas interessa muito mais a subjetividade dos personagens, e é neste artificialismo contemporâneo que se encontram a mulher, o homem, o amante, a próxima mulher. O universo está fechado para que esta pequena visão romântica aconteça, pouco importa se os conceitos são atuais, se poderia haver telefones, emails e celulares. Se poderia existir outro mundo, que não aquele... Para Garrel há apenas um homem, uma mulher apaixonados, ou separados. Neste universo atemporal tudo contribui para a construção de quase um culto. Um cinema culto, à beleza feminina encarnada na loirice demoníaca de Carole ( Laura Smet, filha da atriz Nathalie Baye de Uma Relação Pornográfica!) e no ar angelical, disperso, dúbio, ingênuo e sensual de François (o filho Louis Garrel). Culto também à histeria, a disfarçada ingenuidade de Eve (a não menos bela e morena, Clémentine Poidatz), a um certa visão masculina de mundo. Culto, enfim, ao próprio cinema e seu caráter poético, lúdico, ainda incapaz de ser completamente decifrado.
Recebido com vaias e grande polêmica pela crítica francesa em Cannes, Philippe Garrel está ainda mais convicto de seu reflexo no espelho. Ele preza por seu estilo. É vaidoso e não deve satisfações à ninguém. Nessa escolha por falar sobre este homem jovem e apaixonado, François, há com certeza algo de si mesmo. La Frontière deixa a todos surpresos, não apenas porque encarna um elemento fantástico mas porque demonstra que o cinema pode ainda ser a fala de um autor cult, cultuado ou não, mas intensamente personalizado, nesta escolha.
Nesta quinta-feira, dia 09, às 20:30h, os convidados do festival poderão assistir ao A Fronteira da Alvorada, em cópia 35, no Savassi Cineclube. O filme passará para o público na sexta-feira, dia 10, as 21:30h, no Usina. E será posteriormente distribuído pela Imovision.
A sinopse:
Carole (Laura Smet) é uma estrela de cinema. Apesar da fama, ela vive praticamente sozinha. O marido, que trabalha em Hollywood, parece desprezá-la. François (Louis Garrel) é um fotógrafo que quer registrar seus momentos mais íntimos. Tornam-se amantes. Durante duas semanas vivem no hotel aonde François a fotografa. Um ano depois, logo após seu casamento, ele tem uma visão.