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Festival do Rio 2007: Ausências (confirmadas e ameaçadas)

Estou varrendo os releases de imprensa, os e-mails, tudo em busca de uma programação prévia do Festival do Rio na qual eles mencionavam, entre muitos outros filmes, a vinda de “Les Chansons d’Amour” de Christophe Honoré. Tinha certeza de que este filme, ausente da programação lançada ontem, tinha sido mencionado oficialmente em algum momento. Será que eu inventei isso? Seria um texto especulativo com o qual me confundi?

A cultura em geral (e não apenas cinematográfica) não apenas admira ou prestigia um evento como o Festival do Rio: a cultura depende dele para atualizar-se, integrar-se na discussão artística corrente no mundo afora, especialmente num momento em que recebe-se notícias do cinema mundial sem atraso, sem espera. Imagino a angústia de platéias brasileiras em décadas anteriores, lendo em revistas importadas ou em cartas de amigos morando no estrangeiro, sugestões de filmes que elas não saberiam se sequer teriam acesso (ainda que isso renda acessos de saudosismo como aquele de Artur Xexéo, da sensação incomparável de se ter acesso a um filme proibido). Não sei se é uma questão de curadoria ou de custo (ou ambas), mas cada vez mais chego à conclusão de que o grande valor dos festivais de cinema não são os grandes filmes celebrados que, exatamente pelo êxito com público, crítica e imprensa, garantem sua distribuição local. Os festivais de cinema, para mim, se justificam muito mais pela exibição dos injustiçados, dos não-tão-bons, dos decepcionantes, dos ambiciosos-mas-sem-chance-alguma-de-sucesso-comercial, de todos os filmes cuja chance já fora negada em suas exibições frustradas mundo afora. Acho que o espectador comum poderá se identificar com o seguinte: da mesma maneira que ele é atraído por um filme elogiado e se impõe a obrigação de verificar “se ele é bom mesmo”, os filmes desprezados me convidam a descobrir se eles são realmente tão ruins quanto dizem. É nessas “provas dos nove” que normalmente encontra-se a sensação mais ambicionada por freqüentadores de festival: a revelação absoluta.

Existem surpresas na programação do Festival do Rio 2007, mas senti ausência de muitos títulos que pessoalmente aguardava assistir, a grande maioria filmes rejeitados pela crítica no Festival de Cannes e divisores de público em Toronto. 2007 se encerrará, novamente, com lacunas – como fazer listas de melhores do ano sem ao menos ter uma oportunidade de se perder determinado filme?

Para falar a verdade, pude assistir alguns títulos surpreendentes do Auckland International Film Festival – NZ, que consistem-se em alguns dos melhores filmes que vi no ano, e que se revelaram também ausentes da programação do Festival do Rio. Recomendo depois que ajeitar minha coluna depois do evento. Por um lado, é até bom: a enxurrada de filmes do Festival testará sua permanência na minha memória. Estou aberto.

Mas o verdadeiro perigo é da ausência dos filmes já programados. Todo festival está propenso a atrasos, cancelamentos e imprevistos – e certamente o Festival do Rio já conheceu a trifecta o bastante a ponto de adotar maior prudência ao publicar a programação (identifiquei apenas dois filmes “A programar” no catálogo: “Lust, Caution” e “Ne Touchez Pas La Hâche”). Como a venda de ingressos antecipados e passaportes começou hoje, ainda preciso verificar a lista de filmes ainda não-liberados. Angústia dupla: não saber se o filme virá e, quando o filme for liberado, os ingressos se esgotarem antes de ser capaz de comprá-los. Vida de festival. E a má alimentação. E a dor na coluna. E o cansaço. Mas a gente volta por causa de uma terceira angústia: a de se encontrar um grande filme. É o grande jogo.

O filme anterior de Christophe Honoré, “Dans Paris”, será exibido.

* O filme de Sidney Lumet, "Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto", não faz mais parte da programação do Festival do Rio.



***

É Diferente para Cariocas

"Aos que compraram o DVD pirata de Tropa de elite, um aviso: não é preciso revê-lo no cinema. Não há diferença significativa entre a versão alternativa, que circula livremente pelas esquinas da cidade desde o início de agosto, e a definitiva, a oficial, que abre hoje à noite, em sessão para convidados, a edição 2007 do Festival do Rio, que traz 420 longas. Afora a reconfiguração de alguns planos, a inclusão de pequenos trechos na narração em off e a retirada dos intertítulos, que dividiam a narrativa em tópicos, o filme, exibido ontem para a crítica especializada, é o mesmo, com o mesmo poder de fogo. Os "contraventores" que não conseguiram segurar a curiosidade até o lançamento em circuito do polêmico filme de José Padilha, marcado para o dia 2 de outubro, no entanto, só perceberão a distância na qualidade técnica." Carlos Helí de Almeida (que não deve gostar de alguém da produção) na reportagem "Muito Barulho por Nada", capa do Jornal do Brasil de quinta-feira. Link.

Eu sei que estou devendo um texto sobre "Tropa de Elite", mas já estou tão saturado pelo assunto que estou pensando em revolucionar e não falar. A quem interessar possa, o filme de Padilha teve os ingressos antecipados para sua única sessão público no Festival do Rio esgotados em 1 hora.

É um rito de passagem diferente para cariocas, assistir "Tropa de Elite". Diria-se que o carioca sofre uma obrigação de assisti-lo que não afeta moradores de outros estados. Reconhece-se a história, reconhece-se "na" história, os lugares, os costumes. Pior, é transmitida uma sensação (fabricada) de correspondência quase infalível com a realidade do Rio de Janeiro, com o adendo de, ao contrário de um filme americano, não promover uma cultura de medo, mas uma cultura de auto-afirmação. O BOPE assassinando marginais com vassouras na bunda é o carioca classe-média se vingando do pivete que roubou sua carteira, algo inconcebível no politicamente incorreto importado da vista grossa de organizações internacionais. O carioca atual é meio frustrado: precisa se mostrar civilizado quando seu desejo interno animalesco já não mais se contém. Engraçado como o carioca não se reconhece nos playboys fumando maconha no morro (o papel que mais lhes seria adequado), na hipocrisia da ONG dirigida por privilegiados, na universidade (PUC-RJ) que distorce a realidade com o politicamente correto e discursos humanitários, mas se reconhece na brutalidade do BOPE (que é justa, independente do que José Padilha quer forçar as pessoas a interpretarem de seu filme), na virtuosidade do personagem de Wagner Moura, no heroísmo de Batista. Mas enfim, é Rio de Janeiro e é Festival de Cinema. A imagem positiva vem primeiro.
  Bernardo Krivochein    terça-feira, setembro 18, 2007
 
 
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