O cinema (apesar de sua grandiosidade e ubiqüidade como arte moderna e industrial, reproduzível e amplamente distribuída), pode ser uma experiência única, pequena, não-comercial e quase artesanal. No Indie 2008, o programa Cinema de Garagem, que tem curadoria do video-artista Dellani Lima busca a presença destes filmes feitos com nenhum orçamento, nenhum patrocínio e que são o retrato daquilo que chamamos primeiras experiências cinematográficas. Apesar da câmera estar lá, a edição, a idéia e o conceito que envolve a narrativa, há por trás destes filmes, um livre manifesto, é onde está o conceito de experimentação, num sentido estético mas também no sentido vanguardista de quebra das normas pré-estabelecidas, a busca pela renovação do código, o novo? Claro que sabemos que as vanguardas não existem mais, mas há no gesto da provocação um resquício de tentativa, um compromisso com a criação, uma liberdade, uma jovialidade, uma contestação que só pode ser compartilhada com um público assim tão jovem quanto. Hoje, a sala estava lotada, um riso solto no ar a cado pequeno detalhe, denunciava: estamos todos aqui reunidos para ver o que há de ser experimentado! Estamos aqui reunidos para comemorar o Cinema de Garagem, quer tema melhor? Quer público melhor do que este? Tudo em aberto...
Amanhã, muito aguardado é o Tomba Homem de Gibi Cardoso. Ele, o Gibi, é figura carimbada na cidade, e com certeza terá um público grande. Já estamos pensando em fazer a segunda sessão. O que Gibi ressaltou durante os Diálogos Independentes foi também a sua experiência com os diretores Cao Guimarães e Lucas Bambozzi ao usar seus instintos para achar personagens (Alma do Osso, Andarilho, Fim do Sem fim etc) e que por muito tempo buscou a Tomba Homem. No filme, me impressionou o cuidado que Gibi teve com Tomba Homem, um olhar observador, leve e nada agressivo, uma visão gentil, poética de um travesti que já é idoso, doente, cheio de histórias do passado, mas nada rancoroso.
Gibi não teve patrocínio para realizar o filme, e não conseguiu nenhuma captação através das leis de incentivo, mesmo assim não desistiu e usou o seu bar para arrecadar dos amigos o dinheiro necessário para realizar seu primeiro filme. Qual será seu próximo personagem? É o que eu queria perguntar para ele.
Mariana Peixoto, jornalista do Estado de Minas, fez uma matéria de capa do Caderno EM Cultura, com o Gibi Cardoso, hoje, dia 13/10. Entenda melhor quem é Tomba Homem e Gibi, lendo a matéria aqui.