O Indie e seu público
Muitos jornalistas, amigos e pessoas envolvidas com cinema, comentam que não entendem o fenômeno de público do Indie. Outros comentam que os festivais estão sempre cheios ( nem sempre para ver filmes, não é?) e depois as salas do circuito cultural ficam vazias e para onde vai toda esta gente? Isto, em Belo Horizonte. Mas muita gente também sempre diz que não entende como o Indie, por ter uma programação bem complexa, com filmes de diretores estreantes, muitas novidades, consegue atrair este público. Talvez só uma pesquisa possa responder estas tantas perguntas. Achamos isto e aquilo, mas não temos nenhuma certeza. Olhamos o nosso público com curiosidade e ficamos lá no meio organizando filas, formatos de exibição e sessões junto com os monitores, os porteiros, bilheteiras, técnicos do Usina e da Rain Digital ( que aliás agradecemos muito todo o apoio). A verdade é que não sabemos porquê.
Observamos este ano que o público está cada vez mais jovem, e pensamos que também é natural que seja assim, afinal, teoricamente nosso público inicial já envelheceu 8 anos. Então quem tinha 18 anos em 2001, hoje está com 26 anos, já trabalha, já está com a tarde ocupada, é natural que diminua o ritmo de freqüência. Mas novos garotos estão com 18 e estão lá. É esta renovação que nos interessa, e claro a manutenção também de um público adulto, formado alí.
Não acho que é apenas a gratuidade que torna mais acessível ao público, nem é como diz um jornalista mineiro, uma hipocrisia falar em democracia nos festivais, já que o público seria de classe média (ele também não sabe porque não freqüenta os festivais. Aliás ele nunca foi lá no Indie para ver qual é a cara deste público ( Não foi por falta de convite!). E ele também não fez pesquisa para saber quais as camadas da população são privilegiadas com a entrada franca). Enfim, estamos todos falando sem saber.
O fato é que não interessa apenas que seja um público grande, interessa que seja um público de qualidade que busca conteúdos culturais de alto nível informacional. O Indie nunca se disse democrático quanto a seu contéudo, pelo contrário, a proposta é articular novos contéudos estéticos que não são de fácil assimilação, instigar valores estéticos e éticos que vão além da indústria cultural padronizada e que se encontram fora do mercado/circuito comercial. Enfim, neste sentido, nosso público se mostra sim um público privilegiado, não no sentido de classes, mas de conseguir assimilar conteúdos complexos. Esta é a idéia de formação de público. Apresentar e cultivar o prazer estético, manter uma certa regularidade destes contéudos e permanecer. Talvez esta seja, entre todas, a missão do festival mais importante: permanecer para conseguir formar o hábito, para apostar no futuro de uma cidade onde o cinemas de ruas e o cinema cultural está quase desaparecendo.
Veja então, o público do Indie deste ano!
Fotos: Alexandre C. Mota ( Aldeia Fotografia e Imagem)
Francesca Azzi