De Olho na Mostra
A Mostra Internacional de São Paulo está acontecendo desde o dia 20, sexta-feira, e segue até dia 04 de novembro. Com uma programação extensa, (consulte no site da mostra), a ansiedade é grande para aqueles que querem acompanhar tantos filmes. Parece que a organização este ano está fazendo de tudo para tornar o evento mais "simpático", explico: todos os anos reclama-se muito que a Mostra traz a São Paulo mais de 50 convidados internacionais e que literalmente "não faz nada com estes convidados". Nos bastidores, comenta- se também que os diretores não se encontram e que não se estabelece um clima de festival. Mas com o lounge e o Clube da Mostra, Leon Cakoff tem tentado resolver este problema, promovendo além de debates e reflexões, aulas na FAAP e o site com mais entrevistas e bate-papos com diretores, além de ínumeras fotos. A sensação que se tem é de que "estamos fazendo o melhor" ou o "visivelmente melhor" para sanar esta cobrança/carência apontada por muitos.
Tenho lá minhas dúvidas se para fazer um festival de cinema devemos corresponder a tantas expectivas impostas pelos patrocinadores e pela imprensa. Cobranças que dizem respeito ao fato de que os festivais são realizados com dinheiro público e, claro, precisam dar uma contra-partida séria para este público. Para um diretor-produtor, um festival de cinema está se tornando uma tarefa faraônica, porque não importa mais tanto a sua curadoria ( se escolheu os filmes mais instigantes ou importantes do ano seguindo a sua pesquisa ou a sua linha de trabalho e o perfil do festival) mas sim o número de filmes que traz, o número de convidados e qual a importância deles num cenário mundial, o número de salas, o número de festas e sessões badaladas e open-air, etc. Assim os festivais passam a ganhar peso estatístico, ou seja, passam a fazer parte da categoria, maior do Brasil, maior da América Latina, e conquistam um status que ao final representa mais mídia, mais repercurssão, mais visibilidade. Mas e para o público ou para si mesmos ( porque quem realiza um festival de cinema está com certeza embuído de alguma determinação própria, pessoal), o que tudo isto siginificaria?
A meu ver para um festival de cinema interessa os filmes e o público. Todo o resto é um pouco para "encher linguiça". E nisto alguns festivais são campeões. Tudo bem, não sou contra palestras e "ouvir a voz" de um diretor antes de seu próprio filme rodar é bom e... ponto. A diferença não está aí, em festas de abertura regadas a mulatas, ou canapés de rúcula, ou vodca de graça no espaço Lounge.
Pelo que tenho acompanhado, a Mostra de SP está se transformando a cada dia mais num festival para adultos e velhos. Os jovens estão afastados da Mostra simplesmente porque o ingresso é muito caro. Há um programa chamado "Festival da Juventude" mas não são os melhores filmes, nem os melhores horários ( manhã e primeira sessão da tarde) e só engloba os estudantes secundaristas. Acho que nos seus 30 anos, a Mostra de SP poderia ter como contra-partida para o público um ingresso subsidiado e entrada franca. Esta preocupação é constante para eventos que usam o dinheiro público para se tornarem viáveis. Duvido que a Mostra sequer pense nisto.
E só para terminar, quem quiser acompanhar a cobertura da Mostra de SP, que este ano recebeu mais de 611 pedidos para credenciamento da imprensa e só concedeu 150 ( por questões de custos orçamentários, acredite se quiser!) criando uma polêmica entre vários sites especializados que foram completamente exclúidos (tivemos acesso as cabines, isto sim) ou com limitação na cobertura, pode ler algumas críticas nestes mesmos sites da Zeta Filmes, da Revista Cinética e da Contracampo.
** Acima, foto do filme "Fora do Jogo" do iraniano Jafar Panahi que faz parte da programação da 30a Mostra.
(Francesca Azzi)
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