11 de Setembro: O atentado que abalou o mundo
Você pensou que eu ia falar dos Estados Unidos, né? Quer dizer, eu vou, mas quando eu falei "11 de Setembro, atentado!" seu cérebro rapidamente se lembrou daquele puta predião de vidro, pegando fogo, saindo fumaça, o segundo avião entrando na torre gêmea...
Mas eu queria falar era de outro 11 de Setembro. O de 1973. O país, um tal de Chile, que elegeu um presidente socialista em plena guerra fria. Em 1970, o senador Salvador Allende Gossens, apoiado pelo povo chileno (pela parte mais pobre, pelo menos) tornou-se presidente desse país e começou algumas reformas que prontamente diminuíram o desemprego. A reação de Washington foi imediata: a CIA passou a financiar órgãos de imprensa de oposição, e aos poucos o governo foi sendo sabotado. Em 1972, a situação se agravava, dando brecha a um golpe militar liderado por um tal de General Augusto Pinochet Ugarte.
Em 11 de Setembro de 1973, a Aeronáutica do Chile bombardeou o Palácio de La Moneda, sede do governo chileno. Allende preferiu morrer lutando. Suicidou-se dentro do palácio, sem se entregar.
Nos anos que se seguiram, o terror tomou conta do país. A democracia foi expulsa do Chile, juntamente com dezenas de milhares de inimigos políticos do novo regime. O estádio nacional do país foi transformado em um campo de concentração. Ao longo dos anos da ditadura Pinochet, milhares de pessoas foram mortas, torturadas ou "desaparecidas". O mesmo esquema que aconteceu no Brasil, e nos principais países da América do Sul na mesma época.
Em meio a tudo isso, um cineasta: Patricio Guzmán, que inicialmente só queria fazer um documentário sobre a eleição de Allende, continuou filmando durante todo o processo político que se desencadeou e acabou criando uma trilogia antológica e essencial: A Batalha do Chile. Os filmes foram feitos clandestinamente, a partir de 1970, e foram lançados em 3 prestações, en 1975, 1977 e 1979.
Como depois do golpe a Kodak parou de vender filme virgem no Chile, justamente para evitar esse tipo de iniciativa, Guzmán recebia filmes contrabandeados pelo correio, enviados pelo cineasta francês Chris Marker. Depois de usados, os filmes eram contrabandeados para a Suécia, onde amigos exilados de Guzmán revelavam o material e o guardavam em segurança.
Por algum milagre do destino, esses 3 filmes, juntamente a um documentário sobre como foram feitos, foram lançados no Brasil, em DVD, com legendas em português. Disponíveis nas boas casas do ramo. Um material absolutamente essencial para nos fazer pensar em o que significa o cinema, o Brasil e o século XXI.
Escrevo isso no mesmo dia em que Pinochet, que nunca foi julgado por seus crimes, é cremado com honrarias militares no Chile. Ainda temos um longo caminho pela frente.
Locadora do Werneck