Sempre que vemos a série de fotografias feitas por Edward Muybridge em meados do século XIX, nos sentimos atraídos a processar a idéia de movimento que está alí implícito. A pesquisa feita por este artista, com o intuito de provar que o movimento das coisas se dava através de uma repetição continuada, em série e imperceptível, formulou os primeiros mecanismos para a representação do movimento das imagens, que se concretizou efetivamente com cinematógrafo dos irmãos Lumiére. A invenção do cinema se dava essencialmente pelo princípio da repetição de uma imagem, descontinuada por quadros e capaz de representar instantâneos do mundo real. Esta mesma possibilidade da repetição formatou as estilísticas do cinema de vanguarda de Hans Richter, Man Ray e Duchamp, que através da manipulação das cenas descontínuas, animação de elementos cênicos e experimentos com a imagem abstrata, criaram formas expressivas puramente sensoriais de se fazer cinema. “Anemic Cinema” (1926) de Duchamp é uma brincadeira muita séria desta possibilidade. A imagem de uma espiral, em contínuo, cria a ilusão do movimento de algo que não sai do lugar (as formas espiraladas foram desenhadas por Duchamp em pranchas que são acionadas em um movimento giratório). Vale a pena conferir em http://www.ubu.com/film/duchamp.html.