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Ocelot em "As Aventuras de Azur e Asmar"



O diretor de Kirikou, Michel Ocelot, optou em seu último filme " As Aventuras de Azur e Asmar" por deixar grande parte dos diálogos em árabe sem tradução ao contar a história de dois garotos, um francês e um de origem árabe ( Magrebiano, talvez marroquino), criados pela mesma mulher. A africana Jenane é ao mesmo tempo mãe de Asmar e ama-de-leite de Azur. E o mais interessante é que as falas em árabe como estão, a música acalentando os bêbes, as brigas entre estes dois meninos tão distintos mas criados como irmãos, são tão compreensíveis que revelam uma fala em outro nível. Nenhuma criança na platéia, já que eu vi a versão dublada, pareceu estranhar o que estava em árabe. O árabe é uma língua fascinante, cheia de melodia e ritmo. Ocelot usa o árabe como o gancho de sedução, de algo a desvendar, tratando as crianças com inteligência e intuição.

Não me esqueço da fala da mãe de Kirikou: "uma criança que nasce sozinha, também pode se lavar sozinha" ( eu repetia tanto isto para meu filho toda vez que ele me pedia coisas que ele mesmo era capaz de alcançar), este espírito das lendas africanas, nas quais as crianças são seres independentes capazes de mudar o curso da história da humanidade é a base do trabalho de Ocelot. Com técnicas de animação tradicionais e desenhos que recuperam uma sensação primitiva, completamente diferente dos desenhos dos grandes estúdios, Ocelot, hoje com 43 anos, passa com " As Aventuras de Azur e Asmar" a usar o 3D. O desenho que às vezes parece um pouco duro nos movimentos, é de uma grande perfeição, e cada cena é construída como um quadro. E apesar dos pequenos problemas nos movimentos dos personagens, no seu desenrolar o filme é capaz de captar a atenção, a curiosidade e enfim, construir a idéia de que um mundo virtual, assim construído de uma lenda ou fantasia, pode se fazer maior que seus meios tecnológicos, ou seja muitas vezes o conteúdo supera a forma ( ou você pouco se importa se o desenho quebra com uma lógica tradicional, você mergulha assim mesmo). Mas há também momentos primorosos do próprio desenho, em que se enxerga uma complexa gama de cores vivas e detalhes tão ricos como na cidade no Magreb, construída com cores impressionantes e nos detalhes dos personagens e dos animais.

A dicotomia entre o branco e o negro, os olhos azuis e castanhos, uma Europa em tons azulados e amarelos (inspirada na pintura impressionista?), e uma África em tons berrantes e vivos ( ricamente bizantina em seus adereços), torna tudo mais perfeito. Se as duas crianças foram separadas pelo destino ( um pai autoritário e escravagista), a força da língua materna ( a lenda da Fada Djinn, contada pela Mãe Negra, carinhosa e gentil) os unirá. Azur segue em busca de sua família de coração. Atravessando os mares irá encontrar sua Babá rica com a vida feita, dona de comércio e seu irmão postiço também um homem em busca do amor. O senso de justiça e igualdade poderiam "infantilizar" demais o filme, e minha preocupação era a de que Ocelot teria feito um filme para crianças pequenas até 6 anos. Mas que nada, o sentido de aventura, a questão da conquista de lugares inimagináveis, os desafios e a procura do amor, são surpreendentes também para os quase adolescentes. E quando ao final as escolhas e as combinações são refeitas, deixam um gostinho de que vale a pena ter "a moral da história", que filmes assim nasceram de histórias emblemáticas e que mesmo com final feliz, não banalizam a inteligência do espectador nem de nenhuma criança rebelde. E como disse um dos espectadores mirins não tem nada a ver com o Big Brother, ainda bem!

(Francesca Azzi)
  INDIE    quarta-feira, fevereiro 07, 2007
 
 
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