Quando se tem sorte, um filme só basta para fazer seu festival. Segunda-feira, me aventurei apenas na sessão de 17h45 para assistir ao fenômeno de bilheteria italiano "Meu Irmão É Filho Único", roteirizado pelo mesmo time que fez o espetacular "O Melhor da Juventude" (filme que me foi recomendado por um leitor anos antes do crítico do New York Times elegê-lo o melhor filme de 2005). Local: Estação Ipanema. Velhas falantes na sessão: como não?
Mas seria necessário um pé-de-cabra nos dentes para me irritar, pois o prazer de assisti-lo é gigantesco. História sobre uma família italiana durante os anos pós-guerra na cidade de Latina, Itália, o filme revolve em torno de Accio, o irmão caçula que se associa ao partido fascista local apenas para se rebelar contra sua mãe e seu irmão. Não saberia dizer se é um grande filme (existem cenas que apreendem beleza através de enquadramentos não ideais, improvisados, que sugerem que o diretor tem uma verve mais experimental do que a acessibilidade do filme deixa acreditar), é sim uma versão mais acessível e diluída de "O Melhor...", começa um pouco "italiano" demais (o ator mirim que interpreta o jovem Accio me irritou um pouco), mas existem tantas ousadias divertidas ao longo do filme (a cena em que cantam a versão "defascistada" de "Ode à Alegria" de Beethoven é uma hilária provocação à correção política tanto da época quanto a vigente), o protagonista Elio Germano tem uma performance irresistível como o revoltado personagem principal e a satisfação ao final da sessao é tamanha que fica difícil não recomendá-lo. É um belo filme, um com fundo político fortíssimo, mas que prefere sufocá-lo com o humano, consciente que é a ele que a política finalmente serve. Ando fetichizando os italianos ultimamente, algo que sempre fiz mais timidamente. Vou acabar aprendendo essa língua. Acaba o festival, me aventuro nas 300 horas de duração de "O Melhor da Juventude" de novo. Espero apenas escrever um texto que fique à altura do filme.