Acorda! Foi só um pesadelo...
Eu tive um pesadelo essa semana, sonhei que estava indo para o cinema mas todas as salas estavam fechadas... Desolado, na volta dei uma voadinha (eu sempre faço um vôo nos meus sonhos) e pousei, acordando assustado. Pela manhã, entre várias facadas na manteiga gelada, comecei a pensar no cinema, no futuro do cinema, no futuro das salas de cinema (melhor que no futuro índice do meu colesterol).
Pensando nesses 111 anos de cinema, eu acho que a coisa não mudou tanto....É claro que as técnicas de filmagem evoluíram muito e hoje a gente acha toscos os efeitos especiais de filmes de 3 anos atrás. Mas, mesmo com a chegada do aparato digital, que fez incríveis avanços no som, a projeção ainda é mecânica, e utiliza a mesma tecnologia centenária, se é que se pode colocar essas duas palavras numa mesma frase. Tudo bem que não se usam mais aquelas hastes de carvão em brasa dentro de um projetor e que as cópias de acetato de hoje não pegam fogo como aquelas com nitrato de prata de mil novecentos e lumière...
Mas o que não mudou mesmo foi o ato de você consultar um jornal (ok, um site na internet), escolher um filme, ir para o cinema, pagar seu ingresso, comprar um drops Dulcora, ops! quero dizer, um combo de pipoca e coca lite, sentar junto com um bando de gente barulhenta e passar 2 horas vendo um filme na tela grande. Ou seja, seu avô e sua avó viram os modelitos de Greta Garbo em Grande Hotel praticamente seguindo o mesmo ritual que fez você correr para o multiplex mais próximo para conferir o desfile fashion de Anne Hathaway em O Diabo Veste Prada.
Hoje, podemos ver cinema na TV, DVD no carro, curta no celular, longa no Ipod... Concluí, enquanto travava mais uma batalha matinal com a tampa atarrachada da geléia de damasco: se durante este tempo todo, e mesmo agora, com tanta concorrência, este hábito permanece praticamente intacto, então eu consigo enxergar um futuro para a existência das salas de cinema, mesmo que elas estejam todas socadas no trigésimo andar de um shopping em expansão. E para aqueles que, como eu, adoram o cinema no cinema vai aí uma teoria clássica, e hiper-otimista, típica de seminário sobre a indústria cinematográfica: todo mundo tem cozinha em casa, mas os restaurantes continuam cheios.
Assim, mesmo aquelas pessoas que acabaram de adquirir seus rômitiatres, equipados com o mais novo DVD-blue-ray-next-generation-plus, vão continuar assistindo as eternas porcarias de sempre e uma ou outra obra-prima (que estão cada vez mais raras, mas isso é assunto para um outro post) num cinema perto de você.
Eduardo Cerqueira