Já há alguns anos a Bienal de São Paulo abandonou o projeto da sala especial para obras históricas de suas edições. Foram os tempos em que ir a Bienal era também uma oportunidade de ver e rever obras importantes da história da arte do século XX. Passaram por ela salas especiais de Malevitch, Picasso, Mondrian, só pra citar aqueles que me lembro agora... Mesmo assim, a Bienal tem apresentado alguns artistas que, se não fazem parte de uma mitologia tão definitiva da arte ocidental, pelo menos já são celebrados como nomes antológicos neste contexto. A Bienal deste ano tem obras de artistas importantes do que poderíamos chamar da turma da terceira idade da exposição. Marta Gordon Clark, Dan Grahan, Marcel Broothaers e Leon Ferrari. Dentre eles esta Ana Mendieta. Artista cubana que fez carreira nos Estados Unidos e pertenceu à geração das artes do corpo nos anos 70. Ana é sem dúvida um dos nomes mais importantes desta geração de mulheres artistas – ao lado de Marina Abramovic, Yoko Ono, e algumas outras poucas - que ajudaram a mudar um certo tom de preconceito que havia ainda naquela época sobre o sexo feminino. Ana Mendieta usava seu prórpio corpo ou uma representação deste em suas performances, misturando sua anatomia com a natureza, deitada sobre a terra, coberta de pedras, ensanguentada sob lençóis. Atos de sacrifício e imolação. Em suas obras a figura da mulher, muitas vezes representada pelo seu próprio corpo, é sacralizado em rituais de passagem e libertação da moral e ética da cultura masculina . Ana morreu jovem, aos 37 anos e sua sala na Bienal é uma bela homenagem póstuma ao seu ativismo estético.