Algumas razões ainda para ver as Maletas de Tulse Luper
Num post anterior comentei aqui o quanto este projeto de Peter Greenaway "The Tulse Luper Suitcases" que está na programação do VideoBrasil era pouco inédito. Desde 2002/2003, Greenaway vem exibindo os produtos deste mega projeto que se constitui de 3 filmes longas, um website (que já concorreu e ganhou o Fluxus em 2003), CD-ROMs (isto ainda existe?), mais de 90 DVDs, e ainda Live Images e exposição dos objetos, e das maletas. O Bernardo escreveu uma crítica de um dos filmes em 2003, no site da Zeta Filmes e que eu relendo hoje, encontrei as mesmas sensações na exposição das Maletas.
As maletas são lindas, antigas, bem montadas e cheias de referências. Esta coleção de objetos antigos, misturados a projeções e um clima retrô, século 19, faz você se sentir imerso na própria cenografia de Greenaway. Cada maleta inspira uma associação psicanalítica, todos os vícios, virtudes e fetiches do homem inglês estão ali: de brinquedos a filmes pornôs, da mala de mel aos figos verdes, as rosas murchas a lingeries do passado. Objetos (100 objetos que explicariam o mundo) que contam muito mais do que uma história, apelam para sensações olfativas e para associações nada banais.
O que, no entanto, complica um pouco esta interpretação é o excesso. Greenaway ( como aponta a crítica do Bernardo) tem uma ânsia de querer falar de tudo, contar uma história completa da humanidade, que quase beira a ansiedade fálica, do homem fantasiosamente "completo" que exibe nenhuma repressão. Nesta ânsia pela completude, expõe uma certa infantilidade, como o menino que se esbalda no melado, sonha com mulheres de liga e acha que o cinema é pouco para tanta diversão. Greenaway assim age como um meninão que ainda não recebeu a devida repressão paterna. O que acontece é que o excesso das malas acabam por interferir num significado melhor ( no sentido de mais precisamente ambíguo) para tudo aquilo. Roberto, que estava comigo, comentou que se fosse apenas 1 mala daquelas, deslocadas dali, teria outro peso... Um mala apenas e não 30? Uma parte pelo todo, teríamos uma metáfora mais pungente.
A exposição fica em cartaz até dia 25 de outubro, (esta quinta-feira!), no SESC da Av. Paulista e caso você esteja em São Paulo, de qualquer maneira, vale muito a pena uma visita.