Todo mundo só vai querer saber de Jia
Há muitas atrações na 31a Mostra. E o Clube da Mostra ( no quinto andar do Shopping Frei Caneca, em diversos dias e horários) vai abrigar vários debates sobre a crítica cinematográfica, mulheres diretoras, cinema latino, cinema documentário, genocídio armênio (?), co-produções e outras tantos temas e pessoas menos ou mais interessantes. Mas de tudo isto a única coisa realmente imperdível, a meu ver, é o encontro com Jia. Ele é o cineasta mais jovem que mais repercurte suas idéias no momento, guarde seu nome Jia Zhang-Ke. Dia 31/10 às 21h.
Com apenas 37 anos este chinês com certo ar adolescente, meio tímido, vai abafar em São Paulo. Todos só vão querer vê-lo e saber de seu novo filme (tanto sucesso fez seus filmes nas edições passadas (O Mundo, Plataforma, Dong) que o último "Still Life" foi comprado e distribuído no Brasil pela Califórnia Filmes com o nome "Em Busca da Vida"(acesse a crítica que escrevi no site da Zeta Filmes.)
Jia está com uma Retrospectiva quase completa de sua obra na 31a Mostra e tão jovem assim já levou o Leão de Ouro em Veneza e deve estar no mínimo mimado, e com razão! Seu novo filme é "Useless" que traduzido como "Inútil" é um documentário sobre a crescente indústria da moda na China e as mudanças sociais que ela reflete. "Analisando o trabalho da jovem estilista chinesa Ma Ke, o diretor usa as roupas e como são produzidas para descrever o impacto que o tumultuado desenvolvimento econômico chinês está tendo sobre a população do país."
Segundo Silvia Aloisi da Reuters, na cobertura de Veneza 07, "Useless é dividido em três partes e leva o espectador desde as fábricas deprimentes de roupas em Guangzhou, no sul da China, até os glamurosos desfiles de moda em Paris. Em Guangzhou, parte de uma área que se tornou uma das maiores regiões manufatureiras do mundo, fileiras de operários trabalham dia e noite em máquinas de costura.
Alguns dos vestidos que produzem são os criados por Ma Ke, mas a estilista também está procurando afastar-se da produção industrial e das roupas anônimas para produzir vestidos mais únicos, feitos a mão. Jia a acompanhou a Paris, onde no início do ano a estilista apresentou a nova linha Useless (inútil) que dá nome ao filme -- peças que Ma Ke cobre de sujeira para lhes conferir uma aparência natural e autêntica. De volta à China, o diretor mostra a expansão do consumo de massas, com jovens mulheres lotando lojas de estilistas ocidentais para comprar o máximo em termos de símbolos de status: uma bolsa da Louis Vuitton ou Prada.
A terceira parte do documentário leva o diretor a sua província natal, Shanxi, onde os pequenos alfaiates estão fechando suas barracas e indo trabalhar nas minas, expulsos do mercado pela mão-de-obra barata empregada nas fábricas de roupas.
"Antes do filme, eu não sabia nada sobre moda, mas através da moda pude compreender muitas coisas sobre meu país e sua sociedade", disse Jia à Reuters. Ele disse ainda que quer que o filme mostre as contradições de seu país e a crescente disparidade entre ricos e pobres movida pelo boom econômico.
Isto está diferenciando muito Jia das outras gerações de cineastas chineses: sua coragem ao enfrentar as verdades socio-econômicas e políticas de seu país. Ele espera que seu filme chegue a pelo menos dez cidades chinesas. Pelo visto não conta com um aval oficial o que o torna ainda mais original.
Bem, espero que consiga ingresso para uma sessão de "Useless". Na ingresso.com não consigo comprar para a sessão de sábado, dia 20. Não sei porque não estão vendendo esta sessão e não há nenhuma explicação até agora. Mas disputar com os paulistanos os ingresso na hora da sessão, pra isto eu não tenho energia não. Paulistanos são imbatíveis nas filas e os mineiros, impacientes! Acabam deixando pra outra ocasião.
Francesca Azzi