INDIE 2007 - Proposta de Percepção
"O Dia Em Que O Porco Caiu no Poço" não é nem o meu filme preferido de Hong Sang-soo ("O Poder da Província de Kangwon" facilmente leva esse mérito - é onde Sang-soo chega mais próximo de fazer sua versão de um suspense de serial killer, uma trama que transfere seu mistério justamente para aquilo que move, ou imobiliza, seus personagens ao invés das maquinações de plot; ninguém está falando sobre ele, o filme não passou ainda, não foi visto, foi ignorado ou o quê?), mas sob a luz da negatividade geral do qual ele tem sido alvo (ingenuidade minha achar que todos - do público! - apreciarão Sang-soo, um diretor que definitivamente não é para principiantes, haja visto suas referências), eu fiquei, digamos, "aperreado" com uma coisa: ninguém, mas ninguém mesmo, em nenhuma crítica suscitada da exibição no INDIE se deu o trabalho de refletir a grande pergunta: por que diabos o filme se chama "O Dia Em Que O Porco Caiu No Poço".
Nâo há porco. Não há poço. Cacete, mal sequer há dia, visto que a maior parte da ação passa-se à noite. Logicamente, era mais adequado o filme se chamar "Quatro Filhos da Puta Infelizes Cruzam o Caminho Miserável de Cada Um". E ficamos na dúvida se há ou não uma queda. Meu convite é convidar os críticos a retornar ao filme refletindo o seu título. Não é que meramente isso os fará reavaliar o filme, transformando uma resenha negativa em positiva, mas a grande magia do filme, acredito, esconde-se nesse título e sua associação com o filme que batiza - quando eu mesmo descobri, o filme acabou ganhando muito na minha memória.
É uma sensação boa poder debater isso no blog durante essa edição do INDIE. Ano passado, houveram poucas oportunidades - para não dizer nenhuma - de descobrir como os filmes, os quais suamos sangue para trazer para um pequeno festival em BH (mas que, dentro de seu nicho, tem mais visibilidade internacional do que alguns dos grandes eventos cinematográficos brasileiros, orgulho-me em dizer, ainda que só pra ver se alguém valoriza), estavam sendo refletidos, recebidos, assimilados. A diferença que um ano fez é que surgiu uma vontade nova de se escrever sobre os filmes envolvidos nos sites, blogs e mídia impressa mineira. Agora eu posso saber como "O Dia Em Que O Porco Caiu No Poço" é recebido por geral. Anos anteriores? Bof!
Acho que esse convite para que os filmes sejam refletidos e debatidos deveria estender-se. Minha proposta - não para esse ano, pois seria algo impossível de se concretizar a dois dias do fim do festival - é que um filme do INDIE seja escolhido para ser exibido (por critérios de interesse) numa sessão Cineclube, após a qual os membros da mídia impressa e eletrônica, além da curadoria do festival, viessem a debatê-lo, visando esclarecer o público, motivar a participação, a escrita, a reflexão. Acredito que possa ser melhor do que os eventos do gênero que acontecem em outros festivais, porque se eu me aventuro a rebater as críticas do primeiro longa de Sang-soo (inédito no país até então), é por constatar que a "nova" escrita cinematográfica da região não é afetada por um ranço de arrogância. Ou um debate virtual promovido entre os sites. Alguma coisa assim.
Então, fica a idéia para o ano que vem. Mas que a mera noção de estar sendo informado da recepção do filme é encorajadora, ah, lá isso é. Motiva. Como surpreender público e filmólogos em geral em 2008? Com a última trilogia de Lisandro Alonso? Os épicos de Lav Díaz? Uma retorspectiva de Apichatpong Weerasethakul, contrapondo com o prodígio filipino Raya Martin? (e aí estão algumas dicas para vocês aventurarem sua cineflilia). O futuro é excitante porque o presente é feliz.
Bernardo Krivochein