Greenaway, o cinema não morreu, mesmo que esta preposição não seja tão óbvia assim
Ontem, dia 30, não resisti ao Greenaway. Abrindo o 16o VideoBrasil com sua performance do seu, já quase antigo projeto, "The Tulse Luper Suitcases" na frente do Itaú Cultural esquina com o Sesc, na rua. Quem poderia resistir a presença do diretor de "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante", "Zoo, um Z e dois zeros" "Afogando em Números", "A Última Tempestade" e "O Livro de Cabeceira", "8 mulheres e 1/2", enfim, todos guardados em algum lugar na lembrança?
As sobreposições de imagens, planos, personagens e registros de escritas verbais de Greenaway questionavam a própria capacidade fílmica do cinema. A tela para ele tinha que ser múltipla, incapaz de conter todas as informações geradas pela sua compulsão em criar um mundo de narrativas referencializadas numa concepção e direção de arte fabulosa, ora renascentista, ora barroca, tudo ao mesmo tempo, revelando personagens emblemáticos. Sabíamos todos que ali estava um conceito de cinema eletrônico no primeiro momento, e de cinema expandido num segundo, passados os anos 80 e 90. A era do live image foi acolhida pelos projetos do cineasta. Tudo bem. Só que agora já se passaram mais 6 anos ou mais! (os live images estão tremendamente desgastados).
E.. ontem primeira frase de Greenaway: "o cinema está morto". Bela idéia, já tão discutida, enfim, o esgotamento da narrativa etc, mas pouco provável. Tudo que havia em sua performance que se fixou na memória, das 3 telas projetadas por este toucher screener compulsivo tem a ver com seu cinema... a montagem, a narrativa não-linear, corre alguns riscos ao clicar numa imagem e não outra, ao ter uma trilha ao vivo e não mixada, mas.. repito tudo que permaneceu como dado estético, como imagem escondida nas nossas retinas para lembrarmos no dia seguinte tem a ver com o cinema. Seus personagens, seus figurinos, seus planos com intensa profundidade, sua verve fetichista, sua abordagem das esquicitices humanas em 92 objetos que representam o mundo... no mais tudo que havia de eletrônico era repetição e ruído que todos nós registramos como um ato déjà vú de um senhor de respeito.
Greenaway envelheceu, e isto é triste de saber. Mas o cinema dele já fez história.
**( foto do Folha Online/Danielo Verpa:Folha Imagem)
Francesca Azzi