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Um dilema para o fim de semana

Paulo Vilhena em uma cena de "O Magnata"

Então... "O Magnata" enfim saiu em DVD após sua meteórica passagem pelos cinemas brasileiros, dando assim mais uma oportunidade aos espectadores para ignorá-lo, em outro formato.

Confesso que pelo trash da coisa, eu quero assistir ao "filme do Chorão". Digressão: o crédito "um filme de" - pelo menos em Hollywood - só é permitido aos filmes nos quais o mesmo artista assine simultaneamente o roteiro e a direção. No resto do mundo, o crédito é conferido com menos rigor aos diretores, mas deve ser a primeira vez no mundo que atribui-se a autoria ao roteirista/produtor ao invés da direção. Cinema brasileiro, cinema pioneiro. Palmas ao diretor Johnny Araújo pelo desapego - ou indiferença - a obra ao ponto de renegar-lhe a autoria/responsabilidade. Ele deve saber o que faz.

Sessões de filmes podreira sempre foram uma tradição bastante prezada entre todos os círculos de amigos que freqüentei, seja a inesquecível sessão dupla de "Cinderela Bahiana" (quarta reprise) com "Marcela: a Fantasminha Tarada" (um pornô válido apenas pela paudurescente incompetência técnica), "Xuxa e os Duendes" ("batam palmas se vocês acreditam em duendes!" - rapaz, e como aplaudimos...), ou mesmo a sessão de "Xuxa Requebra" em pleno Rock in Rio 3 ("aê...quem é esperto, não usa drogas!"), ou ainda "Dom" de Moacyr Góes. E eu juro que a nacionalidade em comum dos filmes é puramente acidental. A verdade é que eu morro de vergonha de ser visto alugando este filme.

Isto vindo de quem já alugou O Intrometedor Anal 6 em pleno meio-dia, na frente de alunas de colégio católico (E aê? Belê?...).

Parece que uma lápide social intransponível será colocada sobre meu cadastro na locadora caso eu alugue este filme. Os balconistas parecem até bastante acostumados com o meu histórico, que acumula o marco das únicas locações já feitas para "Crocodilo", "DinoCroc", "Octopus" ou "Boa vs. Python" (fã da Nu Image bem aqui), mas algo me diz que o aluguel de "O Magnata" será minha letra escarlate. Eu poderia baixá-lo, mas o arquivo pode atrasar todos os meus outros downloads e eu tenho que privilegiar minha querida zoofilia amazonense. Eu poderia comprar o pirata, mas o custo superior a de uma locação e o inconveniente de manter o disco para possíveis futuras zoações de terceiros me desmotivam. E, afinal de contas, não é nenhum "Tropa de Elite" que mereça realmente ser comprado pirata. Chegou um momento em que se comprava DVD pirata do "Tropa de Elite" mesmo quando já se possuía outras cópias, só pelo costume. Chego perto do filme na prateleira, respiro fundo, mas não consigo pegá-lo nem para ler a sinopse no verso, com medo de pegar alguma ziquezira de pele. E ei, por que esse olhar repreendedor, sua velha escrota? A pessoa não tem mais o direito de atirar um DVD no chão e se tremer de nojo?

Só me resta imaginar a elaboração Diablo Codyana emprestada aos diálogos híper-elaborados, o emocionante pathos de arrependimento do personagem de Paulo (inho?) Vilhena Piovani, a estética MTV tão vanguardista no cinema... dos anos 90, o skate na veia (na véia?), o surfe na veia, os esporrrte radical tudo na veia, mano, os puta prédio, as puta mina lôca, os puta carro, as puta puta e, como esquecer?, a trilha sonora de Nino Rota. Uma pena, pois eu queria realmente decifrar essa obsessão que Chorão nutre pelos magnatas - que remete aos marajás do Collor: tinha aquele clipe do "Rubão, Rubão, deu um tiro na fuça do ladrão desiludido da vida" que ensaiava uma espécie de desprezo ao gênero ricaço-acha-que-pode-tudo e aqui temos um longa dedicado a estudar esse personagem, provavelmente fazendo-o ter uma epifania sobre o vazio de sua vida, mas ainda perdoando-o de certa forma. Eu, hein. Mas Deus sabe o que faz. Provavelmente será o único longa-metragem a passar em alta rotação na MTV. Infelizmente, é o único filme realmente merecedor de uma dublagem humorística do Hermes & Renato que não terá essse direito.

NOTA: já ouvi falar os montes de "10.000 A.C.", inclusive um boato de que Jesus ainda não existia nessa época. Talvez seja o preço a pagar pelo paganismo: me xingaram o novo filme de Emmerich dos pés a cabeça, chamando-o da pior coisa de que um filme desse tipo pode ser chamado: de "chato". Sem "O Magnata" então, sexta-feira, sessão da meia-noite, me aguarde.
  Bernardo Krivochein    sexta-feira, março 07, 2008
 
 
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