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Tropa de Elite influencia brincadeiras de meninos

O que poderia ser apenas mais uma headline de algum jornal por aí é, na verdade, um fato constatado na minha casa. O filme "Tropa de Elite" criou uma empatia entre as crianças de tal maneira que a brincadeira predileta agora é se vestir improvisadamente de Bope (com coletes de couro preto, espadas fingindo ser cacetetes, gorros e bonés tipo quepe) e fingir ser o Capitão Nascimento. Meu filho de 11 anos, que ainda não viu o filme na íntegra, mas que já teve acesso a cenas pelo YouTube, sabe as falas e repete as máximas "pede pra sair" e outras pérolas como "quem manda nesta porra sou eu", etc. Agora que o filme ganhou Berlim ( que fato mais inesperado, será que sem legendas o filme é melhor?), os meninos ontem estavam inspirados e com uma câmera de celular a brincadeira ficou mais fidedigna ao original. Ele filmou seus amigos fazendo a perseguição do Capitão Nascimento ao que eles chamaram de "fogueteiro" (o traficante que avisa aos demais). Num plano-sequência a perseguição filmada tem momentos de tensão quando então o fugitivo sobe ao 15o andar do prédio. Logo meu filho deve postar o filminho dele que ele está chamando de "Tropa de Elite 2!!!!" no youtube pros amigos verem...( e pensar que o filme brasileiro dele preferido já foi "O Homem que Copiava", dá até tristeza) e assim os amigos poderão rir também da brincadeira.

Quem na infância não gostava de brincar de polícia e ladrão? E quem até hoje não gosta de filmes policiais não é? Hoje decidimos deixá-lo assistir ao filme na íntegra, (coisa que a maioria dos pais já fez!), mas para quem sabe ele entender o que diz o rap do morro do dendê que ele canta sem parar, e quem sabe desistir da brincadeira de Capitão Nascimento. Tomara que seu olhar crítico possa ir além do entretenimento que supostamente o filme como ficção-diversão-brincadeira oferece.

Fiquei pensando porque "Tropa de Elite" gerou esta simpatia instântanea popular e com as crianças...? E vendo bem por um outro lado talvez seja isto, seja este fato de tratar a violência de forma tão estilizada e com requintes, que se torna mesmo um filme infanto-juvenil como qualquer outro filme comercial americano (que aliás Berlim parece estar acolhendo com força). Tente ver Tropa de Elite com os olhos de um garoto de 12 anos que não vive na favela, que é constantemente bombardeado por notícias sobre violência urbana do Rio e de São Paulo, para quem tudo aquilo parece ameaçador mas ao mesmo tempo atraente. O Capitão Nascimento pode ser um héroi dos quadrinhos Marvel, com seu lado sombrio e ameaçador que manisfesta sua perversão, e que talvez não fique tão longe assim de um Batman... um Rambo ou um Charles Bronson. Homens e meninos adoram esta coisa de soldado e capitão, entre uma ordem e outra, a fantasia rola solta.

Quando Padilha diz que os críticos não entenderam seu filme, acho que de certa maneira ele tem razão. Ele como documentarista ( gerou uma expectativa), fez um filme baseado numa realidade que para nós, críticos, é urgente, é real demais para ser fantasiosa. E se levamos o filme muito a sério não conseguimos vivenciar aquilo que ele tem simplesmente de ficcional. Este prêmio deve servir como um tapa de luvas a todos nós que detestamos este filme mas ao mesmo tempo sabemos que talvez um júri estrangeiro possa ter observado esta ficção/realidade como algo extremamente exótico. Numa espécie de prêmio paternalista à diversão esquizofrênica gerada pela violência no Brasil.

Mas enfim, o que interessa é que se o Capitão Nascimento virar uma série de TV vai ser um grande sucesso entre as crianças e Wagner Moura vai ser mais badalado do que a Xuxa. Daria até um parque temático do Tropa com várias brincadeiras divertidas e na lojinha poderiam vender aquele gorro do Padilha, com o qual ele recebeu o prêmio, seria sem dúvida vendido as dúzias!

** Na foto acima o boneco do Capitão Nascimento que eu desconhecia, será que tem a linha completa? Quem será que está fabricando?
  Francesca Azzi    domingo, fevereiro 17, 2008
 
 
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