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Compartilhe: Into The Wild



O ator Sean Penn não está estreando como diretor em "Na Natureza Selvagem" (é seu quarto longa de ficção) mas há alguma coisa muito atraente e jovem que o faz parecer um filme de estreante, no bom sentido do termo. Uma jovialidade quase inocente ou uma permissividade ingênua que em pensamentos seria... "eu posso me mostrar com aquilo que gostaria de ser lembrado" ou, ainda, "eu posso me esbaldar naquilo que minha cultura pode espelhar de mais sensível, sentimental e verdadeiro". "Into the Wild" evoca o tempo todo, em seus longos 148 minutos de duração, os tópicos: liberdade, sociedade, natureza, verdade, sentimento, moral, solidão, e este mix de tudo é um mergulho numa utopia pós-hippie, que nem seus tios mais velhos acreditariam mais.

Falando assim parece que o filme é superficial, mas aí é que está. É esta força pós-utópica de Christopher McCandless (personagem real que o escritor e alpinista Jon Krakauer se baseou para escrever o livro, um best-seller no Estados Unidos, de mesmo nome roteirizado por Sean Penn) que faz com que o filme tenha uma empatia insuportavelmente compartilhada por todos - quem nunca pensou em abandonar tudo e partir em busca de uma liberdade grau zero?

A história, que se passa entre o final da década de 80 e início dos anos 90, é real: depois de sua formatura aos 22 anos, Chris (Emile Hirsch) doa sua poupança, abandona sua família, seu carro, destrói sua identidade, seus cartões de crédito e seguridade, queima o que lhe sobra de dinheiro e parte em busca daquilo que considera sua liberdade. Sem dinheiro, viaja por dois anos pelos lugares mais belos e inóspitos, trabalha daqui e dali, conhece pessoas que se afeiçoam a ele, e parte para um plano audacioso: ir para o Alaska onde pretende viver em meio a natureza por sua conta e risco.

O que impressiona em Chris é sua determinação, força física e disposição para estar sozinho, sem vínculos, sem cronogramas. Sua rebeldia não está apenas na vontade de trilhar um caminho menos convencional ou em se negar a obedecer os parâmetros da tal "american society" mas numa entrega ao acaso, numa total falta de estrutura para viver a aventura de sua vida. Ao se negar a planejar seu caminho, ele deixa de ser um aventureiro do tipo esportista e atlético e bem programado dos dias de hoje, que corre maratona cercado de água e gatorade ou que escala montanhas guiados por GPS. Chris não tem gadgets, nem mapas, se cerca de livros (literatura e filosofia, alguma coisa sobre plantas), conselhos sobre caça, não tem rádio, nem como se comunicar, é um simples andarilho num corpo bom fisicamente. E com este espírito aventureiro ( um termo tão anos 70) que ele parte para o Alaska.

É fácil ver como Sean Penn se encantou com a história de Krakauer & Chris, ele mesmo um ator "quase" outsider/rebelde, que sempre demonstrou ares de insatisfação com o star system. Este filme é sem dúvida seu alter-ego. O roteiro, os letterings, a fotografia, a música, a narração em off da irmã de Chris (uma voz doce e sentimental que conta a história)- o filme se faz tão genuinamente americano! A escolha de Eddie Vedder (Pearl Jam) para a trilha é perfeita, porque em certos momentos é isto: música e imagens, belas imagens, uma câmera nada modesta que explora todas as possibilidades visuais deste belo país. Acompanha Chris, seus gestos, seu olhar, seu cabelo, sua alegria, tão de perto, num tom às vezes quase documental, o que torna em certo momento, o seu olhar, e piscadela para câmera, um gesto praticamente natural. Ok, sabemos que é um filme de ficção. Chore, sem culpa, não há como escapar deste sentimentalismo!

A América já sonhou com um mundo assim no qual o dinheiro não seria o centro da vida, um país idílico, numa fantasia idem. Onde os pais seriam os representantes de um mundo velho, arraigado ao poder e a mentira vã do dinheiro; e os filhos seriam este futuro da potência sentimental, do encontro do homem com seu verdadeiro estado natural, andante, sem vínculos, ludens. Mas sabemos que a divisão que se faz hoje em dia não é tão romântica e que esta mesma sociedade chama a tudo que não acolhe de freak! Christopher McCandless não é um freak porque sabe que sua experiência será compartilhada, ao escrever sobre ela e dizer: "sou um viajante estético cuja casa é a estrada." Quando enfim conclui que o melhor da liberdade é que ela seja compartilhada... assim como as escolhas estéticas de Sean.
  Francesca Azzi    segunda-feira, março 03, 2008
 
 
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