blogINDIE 2006
O único post que vou utilizar para discutir Oscar na minha vida


Antes que alguém fale que eu sou um descrente em troféus, tendo desconfiado dos vencedores "Crash", "Tropa de Elite" e "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" em poucos meses, um fato real: há pouco tempo visitei pela primeira vez a casa de um amigo que mantinha no quarto todos os seus troféus de êxitos esportivos (mais precisamente, de futsal). Eu nunca tinha visto uma estante de troféus daquela forma e fiquei ao mesmo tempo deslumbrado e me sentindo um merda, tendo desperdiçado minha adolescência com livros, filmes e músicas que, no final, não lhe dão nenhum mérito para ostentar. Estou numa espécie de crise esportiva.

Mas para mim, troféus são exatamente isso: indiscutíveis apenas em competições com regras bem estabelecidas de comparação. Troféu de festival de cinema é bom apenas para citar no material publicitário, itens de concursos de popularidade, raramente de qualidade: a História de Cinema é geralmente feita por párias sem medalhas. Há algo na condecoração material que banaliza um filme, que deveria ser algo que se ligasse ao âmago do espectador mais do que a um objeto de estante. Haja visto a proximidade do Oscar, que todo mundo acaba vendo hora ou outra, eu só queria colocar dois pontos em questão para não deixar passar em brancas nuvens:

1) "Sangue Negro" teve sua première mundial não em Cannes, não em Berlim, não em Veneza, não em Toronto, mas no Fantastic Fest em Texas. O evento, curado por Tim League e pelo papageek Harry Knowles, já se estabeleceu em duas edições como o grande festival norte-americano do gênero Fantástico e, graças à amizade com Paul Thomas Anderson, Knowles pôde exibi-lo em primeira mão. Ganhando o Oscar, teríamos o primeiro premiado pela academia a ser filhote do Cine Fantástico, ainda que de Cine Fantástico o filme tenha de fato... pouco. Não vamos dizer nada, porque o conceito de Cinema Fantástico está amplo ao ponto de indefinição atualmente, mas até aí, não vamos forçar a barra.

Eu nem quero que "Sangue Negro" ganhe o Oscar de melhor filme, só que ele fosse reconhecido por todos como o melhor filme da leva de candidatos. Aliás, é até covardia: "Juno" é a cinebiografia verborrágica da Jamie Lynn Spears que usa os diálogos como uma espécie de photoshop auditivo que neutraliza qualquer traço de imperfeição (logo, de humanidade) dos personagens; "Desejo e Reparação", sério mesmo?; "Onde os Fracos Não Têm Vez", bem... não tenho nada contra fecófilos (é preciso aprender a respeitar nossas diferenças); De "Michael Clayton", a única coisa que eu sei é que uma vez eu conheci um Michael e o bafo dele fedia como se tivessem abandonado um gato morto em sua boca; e "Sangue Negro", que é um clássico de ambição como o cinema raramente vê, que deve a Malick, Kubrick, Pollock, Selleck e tantos outros ecks por aí. Conheço três pessoas que se dizem parecidas com o Daniel Day-Lewis. Uma delas é a Juliettte Lewis.

2) Tirando o prêmio de melhor ator para Daniel Day-Lewis, estou cagando Marisa Montes para todas as outras categorias, exceto uma: a Academia foi muito criticada por ter excluído uma série de filmes celebrados da sua seleção de candidatos ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro. Eu digo: nunca a Academia teve uma seleção de candidatos tão fortes. Não que eu esteja torcendo por algum deles, pelo contrário: a seleção parece ter sido feita por um curador de algum festival cabeçudo de cinema de arte. Todos os títulos pegaram os jornalistas de surpresa, nenhum dos "usual suspects" com os quais eles preencheram suas listas. Melhor de tudo: é uma seleção que permitiu ao mundo inteiro DESCOBRIR filmes, independente de quem vai ganhar ou de quem sequer é bom: "Die Falscher" e "Beaufort" (tem crítico brasileiro que gosta muito deste) existem para baixar há décadas, o filme anterior do diretor de "Mongol", Sergei Bodrov, só existe no Brasil em DVD (chama-se "Nômade" e não foi concluído direito por problemas de orçamento; elenco internacional, superprodução murcha), os outros eu não sei.

Fechando num círculo, "Mongol" também é outra première mundial do Fantastic Fest do sr. Knowles. Mais importante do que isso: será que teremos Tadanobu Asano, protagonista do longa, caminhando o tapete vermelho do Kodak Theatre? Mais importante do que isso ainda: será que os crentes da Igreja Universal recém-aberta na frente do Kodak Theatre atrapalharão a cerimônia com o alto volume dos hinos e dos cultos?
  Bernardo Krivochein    quarta-feira, fevereiro 20, 2008
 
 
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