Batismo de Sangue
Escolhi um filme brasileiro pra voltar a escrever no blog, após o puxão de orelha de nossa editora. Tive a oportunidade de assitir em uma projeção fechada ao filme “Batismo de Sangue” de Helvécio Ratton. O que me levou à sessão foi um compromisso profissional e na verdade estava ali em função protocolar que devia cumprir. Estavam na sessão o diretor, Frei Beto (autor do livro que originou o filme e um dos protagonistas da história), o ator Cássio Gabus Mendes (que interpreta o delegado torturador Fleury) e outras pessoas ligadas ao cinema e à produção do filme.
Confesso que sai comovido com o filme, com a história de Frei Tito e o envolvimento dos freis dominicanos com o movimento de resistência civil à ditadura militar brasileira nos seus anos mais truculentos. O filme tem uma boa produção e Helvécio Ratton teve o cuidado de se cercar de excelentes profissionais do nosso mercado cinematográfico: ótimos figurinos e direção de arte, fotografia e montagem expressivas, um roteiro que consegue amarrar o enredo de forma criativa e bons atores – a interpretação de Cássio Gabus Mendes no papel de Fleruy é marcante. O próprio ator que estava assistindo à projeção relatou seu incômodo ao ver na tela grande a brutalidade com que ele imprimiu ao personagem o que, certamente, é uma das marcas interessantes do filme: mostrar de maneira simbólica, mas sem ser apelativa, a tragédia da tortura na vida daquelas pessoas.
Um filme em que os fatos históricos e as ações relativas a estes acontecimentos não sufocam os aspectos humanistas e mais intrínsecos aos motivos que levaram aquelas pessoas a se envolverem com a guerrilha. Obviamente, em função desta abordagem, o filme não está isento de assumir suas moralidades e visão ideológica sobre os fatos – apelando para o maniqueísmo - mas isto não afeta a integridade e honestidade com que a história é contada. Certamente Batismo de Sangue não se trasnformará em um sucesso de público: é um filme muito triste. A sua importância está, sem dúvida alguma, em ajudar a mais uma vez trazer para perto de nossa realidade contemporânea, aspectos fundamentais de nossa história recente que as vezes dão a sensação de estarem muito distantes, fatos estes que não podem ser esquecidos.
Roberto Moreira S. Cruz