Quando crescer vou assistir ao Oscar
Ontem, domingo, calor, chuva e a noite todos na expectativa do Oscar. Meu filho antes de "ter que ir pra cama" disse: "quando crescer vou assistir ao Oscar até o final". Fiquei pensando nesta frase e neste siginificado do Oscar. Claro que há esta curiosidade, queremos ver o glamour, as celebridades. A mesma sensação temos ao ler uma revista de fofocas, ver todos os vestidos, todos os cabelos, saber quem está no Red Carpet, quem não foi, especular quem envelheceu, quem rejuvenesceu, quem está vestindo quem. Um mundo muito superficial e de pura diversão que não consome nem dois neurônios do seu cérebro, uma sensação próxima a de assistir uma série de TV. Um espetáculo-jogo de vaidades no qual nós somos meros espectadores, interessados superficialmente, meros consumidores. Mas o que mais me impressiona no Oscar, ou na sua transmissão, é como os comentaristas, e até mesmo críticos e interessados em cinema, levam a sério a premiação, o tom monumental de Rubens Ewald Filho, dono de citações memoráveis, que se coloca íntimo de tudo e de todos do mundinho hollywoodiano, estando ali no estúdio da TNT em SP! E ainda, vestidos a caráter, ele com seu pancake clássico e tuxedo (!), e a repórter com um modelito de mal gosto, como se estivessem lá, o que convenhamos ... ( Me pergunto já que Rubens curte tanto esta coisa de celebridades do cinema, porque não vai lá e não se mete no Red Carpet e não apresenta ao vivo!?). Pior ainda na Globo, a voz meio grave e comovida de José Wilker ( ele é um ótimo ator, sim), que leva tão a sério o Oscar a ponto de criticar filmes como "Dream Girls" e torcer para filmes como "Pequena Miss Sunshine" como se isto significasse pontos divergentes, fazendo análises medíocres dos filmes e diretores. Este ano foi duro e o espetáculo foi arrastado e desinteressante. Não há mais protestos ( todos banidos) e até filmes independentes já fazem parte da premiação... que falta de graça. O Oscar a tudo consome.
O Oscar não nos diz respeito. Esta verdade dói muito porque todos nós queremos fazer parte deste mundo do entretenimento. Veja lá este ano os mexicanos, (arrasaram?), com seu world movie "Babel" ou com o incredibile "Labirinto do Fauno", todos como se estivessem agora fazendo parte da grande nação-América."Entramos pela porta da frente desta vez"... E como brincou Ellen DeGeneres ( aliás tão certa no seu tom cômico/sem graça num certo déja vu debochado, sem constrangimentos excessivos, como manda o Oscar): "onde estão os americanos, eles são aqueles que preenchem os lugares quando ficam vazios?". E apesar de ter falado que Penélope Cruz é mexicana foi tão gentil e cuidadosa ( "o cinema não existiria se não fossem os gays e os negros"). Assim como foi gentil Clint Eastwood (que elegância, que fleuma!) ao traduzir o discurso do italiano Ennio Morricone, ou ao fazer "Cartas de Iwo Jima" em japonês. Porque a América é assim tão plural... mas o Oscar... Tudo no Oscar é diluído nas aparências, e hoje a boa política de mercado é esta.
O Oscar é uma longa sessão no salão de beleza, um mar de fofocas e depois você ainda pode ver todos os modelitos na internet (oba!), no E!, na Caras (irq, oh revista chata!). Mas não me venha falar de cinema, o cinema ali é mero detalhe. Não leve tão a sério o Oscar.
Francesca Azzi