O que assistir no "É Tudo Verdade"?
Serão 141 filmes, entre longas e curtas. Todos documentários. Serão 5 cidades, São Paulo ( começa dia 22 de março e vai até 01 de abril) , Rio ( de 23 a 01) e depois Brasília, Campinas e Porto Alegre. O festival "É Tudo Verdade" cresceu e muito. Seu orçamento agora está na casa de 1 milhão de reais, e graças a determinação de seu diretor, Amir Labaki, pode se expandir para além de SP e Rio. Diante desta imensa lista com a programação, e considerando que são todos filmes documentários, fiquei pensando o que assistir, como escolher entre tantos filmes, tão interessantes. Então ao invés de publicar a lista completa aqui, vai umas sugestões.
Claro que a mostra competitiva é sempre especial, porque traz filmes que passaram por uma seleção, inéditos e na mostra internacional serão só 14 longas. Entre eles listo alguns e porque:
- "Fabricando Polêmica" (Manufacturing Dissent, Debbie Melnik, Canadá, 77’, 2007) – Um retrato das manhas e artimanhas de Michael Moore. Apesar do Michael Moore ser uma figura polêmica e um tanto ilustre do mundo do documentário, sempre achei ele um tanto suspeito e você? Duvido que este doc desafie o mito, mas...
- "Três Camaradas" (Drie Kamaraden, Masha Novikova, Holanda, 99’, 2006) –Três jovens chechenos, amantes dos Beatles, Led Zeppelin e Pink Floyd. Termina a URSS, começa o conflito na Chechênia. Numa década, duas guerras impactam tragicamente três destinos. Selecionado para o Sundance 2007. Pela curiosidade do tema, do lugar, de ter uma questão que diz respeito ao destino de cada personagem.
- "Manhã no Mar" (Mañana al Mar, Inês Thomsen, Alemanha/ Espanha, 83’, 2006) – Paulina, 76 anos, Joseph, 88 e Antônio, de quase 80, não dispensam visitas ao mar, apesar do inverno em Barcelona. Porque é próximo de uma ficção, é poético, ingênuo.
- "Perdedores e Ganhadores" (Losers and Winners, Michael Loeken e Ulrike Franke, Alemanha, 96’, 2006) – O choque cultural entre funcionários alemães e operários chineses que chegam à Alemanha para desmontar uma fábrica. Filme de abertura, Leipzig 2006; melhor filme, Um Mundo/Praga 2007. Porque viver na Alemanha como imigrante não é bolinho, porque o chineses são durões, ou não?
Da Competitiva Brasileira são 7 longas que estão competindo a 100.000 reais!, eu veria:
- "Descaminhos" (Marília Rocha, Luiz Felipe Fernandes/Alexandre Baxter, João Flores, Maria de Fátima Augusto, Leandro HBL, Armando Mendz e Cristiano Abud, Brasil/MG, 73’, 2007) – Viagem antropológica entre paisagens naturais e urbanas, pelas cidades e pela vida das comunidades às margens das ferrovias, a partir do olhar de oito novos diretores.
Porque gosto do trabalho de alguns deles. Porque o trabalho é coletivo e são jovens diretores.
Das outras mostras especiais:
-"Você Vai Atuar Esta Noite?" (Spelar Du Ikväll?, Are You Playing Tonight?, Torben Skjöt Jensen, Ulf Peter Hallberg, Suécia, 73’, 2006) – Neste filme-ensaio que combina documentário e ficção, o ator bergmaniano Erland Josephson, vítima de Mal de Parkinson, contempla a própria identidade e investiga a verdade oculta do teatro, contracenando com algumas das grandes atrizes suecas: Lena Endre, Maria Bonnevie e Stina Ekblad.
- "Acampamento de Jesus" – (Jesus Camp, Heidi Ewing e Rachel Grady, EUA, 84’, 2006) – A diretora do acampamento de verão Kids on Fire, na Dakota do Norte, Becky Fischer, esforça-se para que não haja mau entendimento: Harry Potter é um inimigo de Deus condenado à morte no tempo do Antigo Testamento. Crianças ouvem atentamente o que ela diz e são criadas num movimento político que, segundo os líderes, pode ser determinante para as eleições nos Estados Unidos.
-"Cine Manifest" (Cine Manifest, Judy Irola, EUA, 75’, 2006) – No início dos anos 70, um grupo de jovens formou um coletivo de produção chamado Cine Manifest, em San Francisco. Mais de 30 anos depois, eles se reencontram. A maioria tem as mesmas crenças políticas, mas os realizadores descobrem que trocaram um pouco do idealismo pela experiência da vida real.
- "Kobe" (Rainer Komers, Alemanha, 45’, 2006) – Sem diálogos nem narração, apenas com sons captados in loco, é revelado o cotidiano da cidade marítima japonesa, danificada por um terremoto em 1995.
- "Handerson e as Horas" (Kiko Goifman, Brasil, 52’, 2007) – Handerson é um morador da periferia de São Paulo. Seu trajeto diário para o trabalho leva cerca de três horas, mas essas horas podem ser a vida acontecendo, principalmente quando os amigos resolvem comemorar o aniversário dele dentro do ônibus.
- "Sempre no Meu Coração" (Andréa Pasquini, Brasil, 52’, 2006) – Mostra um pequeno clube desconhecido comandado por um músico genial e sugere uma “viagem” no tempo através da memória e do afeto.
Claro que há muito mais e ainda 17 documentários curtos do diretor polonês Krzysztof Kieslowski, alguns inéditos, deliciosos como:
"O Escritório" - Filmado com uma câmera escondida, o documentário satiriza a burocracia e o trabalho de um escritório e "Estação" - A câmera do diretor registra pessoas que estão adormecidas ou esperando por alguém ou algo na estação central de Varsóvia.
Ah! E não podemos esquecer da conferência internacional que acontecerá no Itáu Cultural paralela ao festival. Este ano a idéia é "ampliar a reflexão sobre o complexo tecido que envolve a ética, princípio fundamental ao documentário que, diferentemente da ficção, trabalha com reais situações e personagens".
Há que se escolher!
Francesca Azzi