Roland Barthes escreveu em seu livro "Fragmentos de um discurso amoroso": Dois poderosos mitos fizeram-nos acreditar que o amor podia, devia sublimar-se em criação estética: o mito socrático (amar serve para criar uma multidão de belos e magníficos discursos) e o mito romântico (produzirei uma obra imortal escrevendo a minha paixão). Que o amor, ou mais ainda a sua perda, serve para criar discursos verbais ou visuais já sabíamos. Mas de maneira inédita, o amor origina um museu. The Museum of Broken Relantionships ou em bom português ( traduzido da matéria da Der Spiegel,leia aqui tradução da Folha Online) como o Museu dos Relacionamentos Fracassados.
Em cartaz num prédio velho na Berlim Oriental, este museu poderia ser muito bem confundido com um mercado de pulgas onde o passado se apresenta em pedaços, em cacarecos, (objetos esquecidos, deixados, dados ao outro, por ele bem lembrado). Ready made dos infernos pessoais, cada objeto conta a história de um relacionamento de seu ex-dono. Os organizadores do museu itinerante que começou de maneira curiosa na Croácia pedem que as pessoas de cada lugar doem seus objetos e suas narrativas a respeito.
"Zvnonimir Dobrovic (quem está organizando a exposição em Berlim) explica que a idéia nasceu quando dois artistas de Zagreb, Olinka Vistica e Drazen Grubisic, romperam e quiseram fazer algo criativo com os vestígios de seu relacionamento. "Eles reuniram todos seus objetos e depois pediram os dos amigos", explica. "A imprensa interessou-se e as pessoas começaram a doar itens."Logo, os artistas tinham um trailer cheio de objetos, e o Museu de Relacionamentos Fracassados nasceu."
Que graça será que tem ver um antigo vestido de noiva, uma cafeteira, um machado ou algemas de pelúcia rosa? Talvez aquilo que não está visível nos objetos da Praça Benedito Calixto em São Paulo, ou no mercado de pulgas de nenhuma cidade, sejam as pequenas narrativas que acompanham cada objeto. Se este está no lugar de uma dor, de uma lembrança que não quer se apagar, vá lá e o transforme em algo simbólico? Como as seguintes anotações, a partir de uma prótese que está no Museu:
PRÓTESE - Zagreb, 1992: Em um hospital de Zagreb conheci uma assistente social bela, jovem e ambiciosa do Ministério da Defesa. Quando ela me ajudou a conseguir certos materiais que eu precisava para minha prótese, pois era inválido de guerra, o amor nasceu. O membro protético durou mais do que nosso amor. Era feito de material melhor!