Cahiers du Cinema vota os 100 mais belos filmes do mundo
Palmarès deixa incômoda sensação final
Numa votação em massa, a mentalidade de colméia havia de imperar; isso não é surpresa. O que é surpresa - uma das mais incômodas - é ver a revista que revolucionou radicalmente a análise cinematográfica no mundo inteiro (e que ainda se mantém referência de bons filmes, ainda que os anos Jean-Michel Frodon sejam regidos por uma placidez um tanto monótona) oferecendo, nesta grande e pretensiosa oportunidade de revelar ao mundo os "100 filmes mais belos do mundo" uma lista que, salvo a generosidade cultural da França, difere-se muito pouco da anual lista americana da AFI, encabeçada, todos os anos, por Cidadão Kane. alista inisinua que a definição de "beleza" concebida para a eleição dos filmes foi a mais lugar comum, a da figuratividade, do inquestionavelmente e imediatamente reconhecível como belo, aliás, resgatemos esse "imediatamente reconhecível" e associemo-lo também à sensação de déjà vu das seleções.
71 críticos de cinema participaram do projeto de Claude-Jean Philippe, com o apoio da prefeitura de Paris, onde, aparentemente, a única regra era que os filmes escolhiam deveriam ser obrigatoriamente longa-metragem. Mas imagina-se que era até redundante estabelecer tal regra explicitamente (assim, como a regra não dita, de que nenhum filme contemporâneo é elegível, aparentemente). O que eu espero pessoalmente de uma lista, especialmente da Cahiers du Cinema e muito mais nessa época em que o cinema do mundo se faz acessível digitalmente, é a descoberta, o filme desconhecido, ou o filme antes dado como feio defendido lindamente, milagrosamente por um indivíduo no máximo de seu poder de retórica. Eu quero ser surpreendido. A presente lista é apenas uma afirmação dos velhos aviões de carreira.
Bem, publicaremos o Top 15 dos 100 filmes selecionados, que se fazem todos disponíveis para o seu conhecimento no link no final do post (inclusive, os Top 15 vem acompanhados de links para o YouTube: trailers, imagens raras de filmagens, etc. - isso sim ficou muito legal, mas, novamente, seria melhor que a internet tivesse maior crédito do que esse). As 71 críticas novas para os filmes de preferência de cada crítico serão publicadas numa Cahiers especial (que este mês, traz o novo Ford Coppola na capa e um sugestivo especial de 30 DVDs):
1) Cidadão Kane, Orson Welles
2) O Mensageiro do Diabo, Charles Laughton
3) A Regra do Jogo, Jean Renoir
4) Aurora, F. W. Murnau
5) O Atalante, Jean Vigo
6) M, O Vampiro de Dusseldorf, Fritz Lang
7) Cantando na Chuva, Stanley Donen
8) Um Corpo Que Cai, Alfred Hitchcock
9) O Boulevard do Crime, Marcel Carné
10) Rastros de Ódio, John Ford
11) Ouro e Maldição, Eric Von Stroheim
12) Rio Bravo, John Ford
13) Ser ou Não Ser, Ernst Lubitsch
14) Viagem à Toquio, Yasujiro Ozu
15) O Desprezo, Jean-Luc Godard
Para ver a lista completa, visite o site da Cahiers du Cinema. Será que eu inicio um movimento para votação de uma lista complementar dos 100 mais belos filmes já feitos?
Bernardo Krivochein