INDIE 2007- São Paulo||| Com vocês: HONG SANG-SOO! O coreano mais cult do cinema mundial. ( Leia abaixo entrevista publicada no indie.Zine )
Hong não gosta de dar entrevistas. Ele disse certa vez em Cannes: “É muito mais importante assistir a meus filmes e tentar desenhar os seus próprios significados, do que escutar as minhas palavras”.
Pois este coreano tímido, de 47 anos, que começou sua carreira há apenas 11 anos atrás, revela-se um esteta, admirador do cinema do japonês Ozu, de Rohmer e de outros grandes franceses. Seus filmes reafirmam suas influências e sua boa intenção de contar histórias bem particulares, entrecruzando a vida de seus personagens sutilmente, com ar casual, cria um possível instantâneo do que significa os encontros & desencontros na vida do homem coreano comum.
“Eu começo com uma situação ordinária e banal, e esta situação tem algo em si que me faz sentir forte. É um sentimento estereotipado, mas muito forte. Tenho este desejo de olhar para isto. Talvez seja um sentimento cego. Eu o coloco na mesa e olho pra ele. Abro e estas peças submergem, elas não estão relacionadas umas com as outras. Mas eu tento achar modelos que façam com que estas peças se encaixem, é o que faço”.
(Se você puder NÃO assista apenas a 1 filme de Hong. Assista a todos (Do dia 30/11 a 6/12, o Indie 2007 SP, no Cinesesc, exibirá com entrada franca, 6 filmes desse diretor). Talvez assistindo a apenas um filme, você não consiga entender sua complexidade, às vezes disfarçada por uma superficialidade meio “nouvelle vague”, à primeira vista. Seus temas recorrentes fazem com que você entenda melhor do que se trata esta particularidade e decifre O MUNDO DE SANG SOO. Os filmes dialogam entre si, os personagens e temas se complementam de um filme para outro. A compreensão assim acontecerá num outro nível).
“É muito gratificante para mim como ser humano fazer filmes. Me estimula e me encoraja. Procuro por algum tipo de forma, finalizo alguma coisa. Filmar é um reflexo do ser!”
Para a revista Cinema Scope (http://www.cinema-scope.com por Kevin B. Lee) ele falou sobre Mulher na Praia, confira.
» Qual foi a sua inspiração para fazer “Mulher na Praia”?
HONG SANG-SOO: Quando eu concebo uma idéia para um filme, ela me vem normalmente com uma situação do dia-a-dia. Para mim, tem que conter algo que eu conheça instintivamente, que se eu mergulhar naquilo, o resultado revelará tensões, dilemas, coisas que eu gosto de lidar. Desta vez, aconteceu que eu conhecia uma mulher que trabalhava com cinema. Um dia, eu fui para o campo e tinha um destes restaurantes na estrada. Uma mulher que trabalhava lá me lembrou esta outra mulher. Por alguns minutos eu senti como se a conhecesse, que estava tocando seu braço e lhe perguntando “como está?”. Senti esta afinidade. Apesar de saber que era absurdo, isto ficou na minha cabeça. Quando comecei a pensar em qual filme eu queria fazer, esta situação veio.
» Como nos outros filmes, este aborda o processo da filmagem, desta vez com a cena onde o diretor entrevista duas mulheres numa mesa. Você faz algum tipo de entrevistas assim para seu filme?
HONG: Eu sempre quis fazer mais entrevistas com as pessoas reais, mas sou um tanto preguiçoso. Na minha carreira, eu acho que me aproximei das pessoas nas ruas apenas duas vezes. Mas com os atores e atrizes eu faço muita entrevista. Preciso de uma fotografia da pessoa, não como ator, mas como pessoa. Não quero ser influenciado pelo que eles são ou o que eles fizeram como atores. Tento percebê-los como pessoas de verdade, como se estivesse encontrando-os pela primeira vez. Sinto que preciso mostrar algo dentro do personagem principal, o problema que está na mente dele.
» O fato do protagonista ser um diretor de cinema parece convidar o público para uma associação autobiográfica.
HONG: Não é que estou falando da minha filosofia através dele. É difícil distinguir a personalidade do personagem e a minha influência. O que eu faço com meu personagem é mais importante que sua profissão. Quando escolho a profissão de certo personagem formo expectativas intrínsecas sobre o que ele pode ou não ser capaz. Se ele não é um diretor, não pode seguir uma estranha e pedir uma entrevista. Mas quando decidi que ele seria um diretor, eu não sabia que teria que fazê-lo conduzir estas entrevistas.
» Alguns dizem que Mulher na Praia é seu filme mais acessível. Você pensa em termos de acessibilidade do público?
HONG: Comecei a pensar nisto depois de Conto de Cinema, tinha um desejo como diretor de ficar cavando dentro de mim mesmo, descobrindo novas coisas sobre o que é meu verdadeiro mundo. O outro desejo é me comunicar com os outros. Talvez seja minha idade, mas uma pequena voz fica me perguntando quando estou filmando “Será que eles vão entender isto?”. Eu não tinha esta voz antes.
Veja um quadro que bolamos para brincar um pouco como os temas recorrentes na obra de Sang-Soo (** clique no quadro para ampliar):
Consulte toda a programação do INDIE 2007 - SP|||| de 30 a 06/12, no CINESESC, Rua Augusta, 2075.
Francesca Azzi