
Cinema Sim fala de um cinema-arte que inclui um espectador em pé, desperto.
Dispa-se de suas idéias sobre cinema. Imagine que é possível experimentar uma outra concepção de imagem em movimento que vai além daquilo que você conhece como oficial. Se algum dia você pensou em criar uma imagem com sua câmera portátil e fazer um vídeo, saiba que poderia ir muito além e criar sua própria máquina. A exposição "Cinema Sim - Narrativas e Projeções" traz experiências que vão além da velha arte centenária de contar histórias (e a questiona essencialmente) e nos coloca em pé diante das questões que envolvem a especularidade. Não é, como diz o curador, Roberto Moreira S. Cruz, no catálogo, "uma exposição sobre cinema, mas sobre idéias e conceitos que relacionam o cinema às artes visuais".

Com todo este cuidado cenográfico, no entanto, o evento não suplanta as próprias obras, motivo principal de tudo. E a exposição foge da linha "cenográfica" - como aquelas que são produzidas para além de um contéudo estético e que plantam sua base na construção de uma temática, como as exposições tão comuns no Museu da Língua Portuguesa ou na Oca em São Paulo, ou a dos museus temáticos como o Museu do Futebol. Nestas exposições e museus temáticos interessa mais a cenografia e o nível de envolvimento criado com o espectador ( se intenciona uma interação, um jogo). Não há obras (em si ou per se) mas sim uma alusão a artistas ou movimentos que são explorados de maneira imersiva, às vezes superficial, às vezes divertidamente lúdica.
"Cinema Sim" não tem nada a ver com esta onda. Os artistas e suas obras estão ali como centro de uma curadoria, que demonstra um grande interesse nas idéias. E todo o entorno colabora para a obra. Isto deve ter feito os artistas convidados muito felizes.
No geral, as obras parecem estar divididas em duas grandes intenções. De um lado estão as máquinas criadoras de imagens, luz ou sensações que questionam a essência desta grande estrutura de imagem que temos do mundo ( das câmeras fotográficas industriais, das lentes, tema já tão discutido pelos teóricos da semiótica). Nesta experiência criativa está uma questão política na qual o artista se defronta com a sua capacidade de reconstruir o conceito, o clichê ou o produto pronto de consumo:imagem.

Quase tudo em Cinema Sim intenciona lembrar esta condição ilusionista e porque não, uma política do olhar.



Enfim, muito a se discutir no Seminário Ainda Cinema, que contará com a presença dos artistas e de um dos mais importantes teóricos franceses nesta área, Raymond Bellour, no sábado dia 01. É entrada franca e livre! O Seminário está sendo transmitido online. Veja no site tudo a respeito das obras e seminário e a mostra de vídeo: O Visível e o Invisível com curadoria de Berta Siechel, diretora do Dept de Audiovisual do Centro de Arte Reina Sofia em Madri.
A exposição fica em cartaz até dia 21 de dezembro.
"Cinema Sim - Narrativas e Projeções", no Itaú Cultural ( Av. Paulista 149, São Paulo).