Descendo a Estrada Zyzzyx: como a pior bilheteria da História deslanchou uma batalha entre mídias e formatos fonte: CHUD, Box Office Mojo
Se ninguém nunca esperava, foi porque ninguém - ou quase ninguém - nunca viu. Devin Faraci, crítico e repórter do site CHUD, foi informado de um pequeno, mas curioso factóide: a pior bilheteria de todos os tempos pertencia a um tal "Estrada da Morte" ("Zyzzyx Road", disponível em DVD nacional pela Califórnia Vídeo), dirigido por Jon Penney e estrelado por Tom Sizemore, Katherine Heigl e Leo Grillo, esse último também dono da Leo Grillo Productions, que realiza filmes nos quais o próprio Grillo possa estrelar. O excêntrico nome do filme (pronuncia-se "Zai-zix") é baseado numa estrada real, assim batizada com o intuito de ser a última palavra dos dicionários e guias turísticos. O contador Grant (Grillo) conhece Marissa (Heigl) em Las Vegas e os dois fazem o demônio de duas costas num motel de beira de estrada. Mas o namorado de Marissa os flagra e, acidentalmente, Grant o mata. O casal enterra o presunto na estrada título e a culpa o lança num thriller "pispicológico".
"Zyzzyx Road" foi exibido durante uma semana no Highland Village Park Theater em Dallas, Texas - como mero cumprimento de acordo com os demais financiadores e distribuidores internacionais (que exigem exibição em circuito como parte do contrato e para tirar dos filmes o estigma de "diretos para o vídeo"), uma prática normal para vários filmes. O total especulado de uma semana em cartaz: 30 dólares. Futuramente, ao ser entrevistado pelo próprio Faraci, Grillo revelaria que, na realidade, a bilheteria real foi de 20 dólares, uma vez que dois dos ingressos foram ressarcidos pelo próprio Grillo a dois membros da equipe de seu próximo filme, curiosos para conhecer o seu trabalho. Faraci então partiu para a missão de encontrar pelo menos um dos raros espectadores que pagaram para assistir "Zyzzyx" nos cinemas, o que rendeu mais artigos e estendeu a fama da história - no mesmo dia, reproduzida por vários blogs e sites.
Até o momento em que o repórter Dade Hayes reproduziu a história no jornal Variety, dedicado aos profissionais da indústria de entretenimento. O mesmo Variety que reproduziu as seguintes palavras de desprezo ao jornalismo de internet: "Se alguém parece que não tomou banho ou não sai de casa por semanas, ele provavelmente é um blogger." (Peter Bart)
A história de Faraci foi descaradamente roubada pelo jornal (com direito a plágio) e a fonte - um site de Internet - foi devidamente ignorada. Os protestos se espalharam como rastro de pólvora e, temendo uma retaliação, uma menção tardia e incomodada foi feita, respeitando a mentalidade jornalística arcaica do formato.
Mas as batalhas não terminam por aí: durante as filmagens de "Zyzzyx", uma outra produção chamada "Zzyzx" (Richard Halpern) iniciou uma batalha pelos direitos de utilização do título. Grillo ganhou o primeiro round, afastando a produção concorrente com uma ordem de suspensão e extinção. Mas não só o filme foi realizado como o diretor Halpern disponibilizou o seu filme pela internet e deixou nas mãos do público a decisão de qual dos dois filmes é o melhor.
Se o caso de Faraci com a Variety remete à discussão sobre o papel da crítica e os novos formatos (há um ótimo texto na Revista Cinética sobre isso), o caso de Grillo e Halpern só estende a insustentabilidade do formato tradicional de distribuição para a contemporaneidade, talvez pelo excessivo número de filmes sendo realizados, também uma questão colocada em foco pela Cahiers du Cinema na segunda metade do ano passado. E se a sala de cinema é mero protocolo para os distribuidores internacionais de determinado filme, que vislumbra principalmente o mercado de DVD? E se a internet se torna o único meio de exibição para determinados filmes? E se nem exibição no cinema não garante que seu filme seja visto, como fazê-lo ser notado entre os incontáveis vídeos da Internet? Como fazê-lo se distingüir entre os demais?