Comecei a gostar de cinema por causa da Sessão Coruja que a Globo exibia depois das 11 da noite. Por incrível que pareça, naqueles tempos de ditadura era possível assistir na TV a alguns filmes que se tornaram célebres. Um deles foi Taking Off (em bom português Procura Insaciável) de Milos Forman. Este foi um dos bons filmes realizados naquela época sobre a contra-cultura, o monvimento hippie e os ideais de amor livre e paz. Assisti novamente este filme, em uma sessão coruja, só que agora do Telecine Cult. Lembrei-me que naquela época (meados dos 70) os filmes eram exibidos na televisão com cortes, devidos aos temas que a censura considerava impróprios para os brasileiros – todos devem se lembrar de Laranja Mêcanica com as bolinhas pretas correndo pela tela para não aparecer a genitália desnuda dos atores – e olha que isso foi no cinema; era hilário! Pois bem, em Taking off, uma das cenas mais antológicas da época também foi banida naquela esquecida sessão noturna. No filme, os pais americanos estão as voltas com a crise de identidade de seus filhos e com a moda de sair de casa pra cuidar da própria vida. Para tentar entender o que se passava na cabeça de seus filhos, em uma reunião da Sociedade dos Pais de Filhos que Fugiram de Casa, um conceituado psicólogo sugere que todos fumem um baseado. Para auxiliá-lo, ele pede que um de seus pacientes, um jovem hippie, aplique os coroas. A cena é fantástica e o ator que dá a lição de como acender o “joint”, fumar e tragar puxando o ar para não engasgar e depois se deixar levar pelo barato do “bagulho” é Vincent Schiavelli, que alguns anos depois fez um dos piradinhos de “Estranho no Ninho”, dirigido também por Milos Fornam e que consagrou definitivamente Jack Nicholson.
A moral da história poderia ser: - As aparências enganam. No final do filme o motivo das saídas de casa da filha era um namorado. Para tentar estabelecer uma relação mais amigável, o pai sugere a ela que o convide para um jantar. Na noite do encontro, após ver a figura do namorado, um cabeludo estranho no melhor estilo flower power, a mãe desiste e começa a chorar. O pai tenta contemporanizar e ser simpático perguntando pro rapaz o que ele fazia na vida. A filha então responde pra ele: ele é músico, compõe suas próprias músicas e toca 5 instrumentos. O pai acha aquilo insignificante e pergunta se ele ganhava algum dinheiro com isso. Ele então, abre a boca pela primeira vez e responde: - Sim, no ano passado ganhei aproximadamente 290 mil doláres! O pai embasbacado, engasga com o vinho – isto deveria ser pelo menos 10 vezes mais do ele ganhava em seu emprego de classe média. O namorado prossegue: - Estou pensando em comprar um míssil transcontinental para equilibrar as forças!
O sonho acabou mas as lembranças de tudo isso são deliciosas.