Zumbidos de Cannes: Dia 2
Konstantin Lavronenko e Maria Bonnevie em The Banishment, de Andrey Zyagintsev
>> O novo projeto de Michael Haneke foi um dos dois contratos quentes nesses primeiros dias do festival, noticia Geoffrey Macnab para o The Guardian. Em The White Ribbon, Haneke se aventurará nos filmes de gênero, ao que a história (aparentemente de proporções Heimat-ianas) aborda as conspirações mortais do império Austro-húngaro. Jean-Claude Carriere está afinando o roteiro e a produtora regular de Eric Rohmer, Margaret Menegoz, vai lidar com a papelada. No mesmo artigo, Haneke justifica a ausência do remake americano de Funny Games em Cannes por acreditar que seria ridículo aparecer com o mesmo filme duas vezes no mesmo festival ("Funny Games", o original, competiu em 1997). As notícias antecipadas são que o remake plano-a-plano do filme tem 20 segundos a menos do que o original, aparentemente devido a substituição da estética do VHS (uma das chaves do filme) pelo DVD e que agora os personagens usam celulares (ué, no original também, não?). Zumbe-se que as atuações de Naomi Watts e de Michael Pitt são espetaculares. Link aqui.Konstantin Lavronenko e Maria Bonnevie em The Banishment, de Andrey Zyagintsev
>> Os outros que acabaram de ficar mais ricos foram Los 5 Amigos: os diretores mexicanos Guillermo del Toro, Alejandro Gomez Iñarritú, Rodrigo García, Alfonso Cuarón e seu irmão Carlos Cuarón conseguiram vender seu projeto-pacote onde ofereciam, a um preço multimilionário, 5 filmes de uma só vez assinados por cada um. A produtora Cha Cha Cha, em acordo com a Universal Studios e seu braço indie Focus Features lidarão a produção, distribuição e vendas internacionais. O projeto mais adiantado de todos é o de Carlos Cuarón, Rudo y Cursi, estrelando os atores mexicanos favoritos desde Roberto Gomez Bolaños e Maria Anotnieta De Las Nieves: Gael García Bernal e Diego Luna. Eu sou um link.
>> Foram exibidos 10 minutos do novo projeto de docu-comédia-engajada de Larry Clark (diretor de Borat). Agora Clark se unirá ao comediante/comentarista político Bill Maher. O tópico desta vez é a religião e Maher cruza o mundo entrevistando e testando as convicções de vários pastores, rabinos, líderes extremistas, etc. Apesar de longe de estar concluído, o promoreel causou um respeitável furor.
TRIANGLE de Johnnie To, Tsui Hark e Ringo Lam - Fora de Competição
"Enquanto as personalidades dos diretores brilham através de seus respectivos segmentos, o filme é bem mais coeso do que este tipo de projeto tem qualquer direito de ser, uma potente mistura de ação, suspense e até um pouco de comédia pastelão. É um fascinante experimento, um cujas fraquezas são facilmente cobertas não apenas pela inovação da obra, mas também pela virtuosidade técnica dos diretores, da equipe e de sua infinita série de performances fortes." Todd Brown, Twitch
"Se você está pensando que o resultado inevitável seria um filme apresentando nenhum investimento emocional real de nenhuma das partes envolvidas, tudo o que posso dizer é ding ding ding ding ding ding ding! 'Triangle' começa com hieratividade maníaca de Tsui, passa por um interlúdio supraroteirizado de Lam e fica completamente fora-de-controle à maneira das colaborações ocasionais de To com Wai Ka Fai." Mike D'Angelo, ScreenGrab
"Me relembrou The Good German de Steven Soderbergh. Os diretores estavam se divertindo com esse experimento. Mas eles não estavam pensando na platéia. Eles são amigos há 30 anos e ninguém teve que tomar responsabilidade por essa bela bagunça." Anne Thompson
"O filme te atropela e te cansa sem nunca fazer nada realmente inteligente ou interessante. A coisa sequer passa como um pastiche do cinema de Hong Kong, uma vez que Triangle é nonsense e incoerente demais para envolver o espectador em qualquer outro nível senão o visual." Kirk Honeycutt, Hollywood Reporter
LE VOYAGE DU BALLON ROUGE de Hou Hsaio-hsien - Filme de Abertura da Un Certain Regard
"O filme não é remotamente bonitinho, a idéia de um balão flutuando pela capital francesa é lidada com um genuíno senso poético e lírico... Não há muita história aqui, mas se sair do cinema imaginando sobre o que esse filme maravilhosamente calmante se tratou, Hou finaliza com uma cena bastante inspirada que amarra tudo junto. Para este crítico, é prvavelmente o melhor final para um filme desde aquele que Valeria Grisebalch sonhou para 'Longing'" Geoff Andrew, Time Out
"Para mim, apenas um pouco desse naturalismo não- enfático e anti-dramático tem longo alcance - ainda estou esperando por um longa-metragem de Hou que seja tão apaixonante e envolvente quanto a adorável primeira história de seu último filme, 'Three Times'" Mike D'Angelo, ScreenGrab
"A versão de Hou parece inicialmente mais convencional do que o original, um filme inteiro de duas horas, com uma trama unificadora distinta focada numa fabricante de bonecas e seu filho, repleto de diálogos entre os personagens e uma estrela, Juliette Binoche, para ajudar a colocar tudo nos trilhos. À segunda vista, o filme é cheio de reflexões sobre cinema e arte, referencia o passado e o presente, flashbacks fluídos que se embrenham na história sem deixar rastros e observações sobre os bastidores das mágicas que artistas precisam operar frente aos seus clientes." Dan Fainaru, Screen Daily
"Contemplativo e às vezes poético, mas fica mais forte quando é pego pelo redemoinho de emoções conflituosas do personagem de Binoche, uma fabricante de bonecas esgotada pelo trabalho e mãe de um menino de 7 anos que ela deixa aos cuidados de uma babá chinesa na maioria do tempo... Apesar do filme se indulgir talvez um pouco demais em planos do balão titular sobrevoando o horizonte parisiense, ele permanece um símbolo muito bem escolhido para os simples prazeres da infância, a vitalidade contínua e as qualidades regenerativas da arte (através de sua conexão com o quadro e com o curta-metragem) e, através da cor, com a própria China." Boyd van Hoeij, european-films.net
THE BANISHMENT de Andrei Zvyagintsev - Em Competição
"Adaptado do romance The Laughing Matter de William Saroyan, a falta de humor de The Banishment é comparada apenas para sua inchada auto-importância, cada plano claramente foi encerrado com a instrução 'Vamos tentar de novo, mas com mais sobriedade dessa vez.' Aliás, atenção cineastas do mundo: a moratória para Arvo Pärt continua em efeito!" (nota: essa moratória tá declarada desde que 'Paraíso', 'Gerry' e outros não-sei-quantos filmes utilizaram a mesma música do compositor, moratória bem-vinda aliás) Mike D'Angelo, ScreenGrab
"O cineasta parentemente deseja aniquilar o próprio prospecto do fracasso, da maldição do veterano. 'Existe uma supestição de que o segundo filme sempre é um fracasso,' disse ele. 'Alguns chamam de uma queda de energia. Justificação só pode vir de sua obra.' Aos 159 minutos, o filme requer uma paciência extraordinária e aqueles inclinados a se render ao clima pesado e ao ritmo elusivo estão destinados a testemunhar uma revelação significante... O filme sofre de problemas estruturais, mas também é gloriosamente barroco, as imagens tão belas e evocativas que algumas das qualidades problemáticas da narrativa e da construção de personagens são mitigadas pelo alcance firme do estilo visual. O tom é mais difícil de decifrar. Claramente, não é um filme realista, seu estilo sendo mais na veia de um sonho sombrio e um devaneio assombrado." Emanuel Levy
"Se apenas o devastador plano de abertura fosse seguido tanto por beleza e algo genuinamnte profundo, daí a decepção não seria tão palpável." Jay Weissberg, Variety.
"The Banishment começa como um suspense, com um carro esbravejando cidade adentro e uma cirurgia clandestina na qualum homem retira uma bala do braço de seu irmão. Então, cada vez mais lentamente, o filme cai nas garras de olhares longos e solenes para o vazio, profundos tragos em cigarros, diálogos crípticos que pouco revelam e um drama diminuto que aprece velho, cansado e esvaziado de um propósito real." Nick Holdsworth, Hollywood Reporter
"The Banishment confirma Zvyagintsev como um mestre do clima e de composição, mas o ritmo ponderoso e a duração épica transformam o filme numa espécie de teste de resistência." Allan Hunter, Screen Daily
"O filme é repleto de signos místicos e imagens; algumas são preciosas, mas elas de fato se empilham. O diretor de fotografia, Mikhail Krichamn, que ganhou prêmios por seu trabalho em 'O Retorno' faz maravilhas numa paleta de cores luminosas e sombras escuras." Joan Dupont, International Herald Tribune
(tradução das compilações do Greencine e mais outras fontes)
DICA: Os diários de Cannes por Emmanuel Burdeau para a Cahiers du Cinema em duas versões, francófona e anglófona.