blogINDIE 2006


Zumbidos de Cannes: Dia 5

Kristjan Kasearu e Mart Laisk em Magnus de Kadri Köusaar

BREATH de Kim Ki-duk - Em Competição

"Em 'Breath', fantasia surreal de Kim Ki-duk passada no corredor da morte, uma jovem mulher vinga-se do marido infiel ao visitar um assassino prestes a ser executado e tendo um dos mais estranhos casos com ele... O diretor extrai interpretações intensas de seu elenco, especialmente Zia, e cria imagens impressionantes dentro da curiosa lógica de seu conto. Tem algo a ver com inalar maldade e exalar bondade, mas aqueles que esperam que o filme faça algum sentido não devem segurar o fôlego." Ray Bennett, The Hollywood Reporter

"Kim Ki-duk, cuja reputação internacional baseou-se por vários anos nos excessos que ele se indulgia em filmes como 'A Ilha' e 'Bad Guy', não chega a atingir o mesmo nível ao qual ascendeu em 'Primavera, Verão...', mas ele não sente mais a necessidade de chocar e opera maravilhosamente dentro das condições minimalistas que ele impõe a si mesmo." Dan Fainaru, Screen Daily

"Um dos trabalhos mais dispersos e desapaixonados desse maverick sul-coreano, apesar de ainda marmorizado com momentos tenros e estranhamente cômicos, este filme que afeta sutilmente o espectador será melhor aceito entre já existente fã-clube de Kim do que arrebanhará novos membros." Derek Elley, Variety

"'Breath' é sério candidato a ser lembrado como o filme no qual a predileção de Kim por personagens mudos tornou-se intolerável até mesmo para seus fãs... Como o festival pode preferir 'Breath' ao invés do penúltimo filme de Kim, o soberbo e alegórico 'Time', que foi exibido aqui apenas no Marché, é além da minha compreensão. É como se rejeitar 'Festa de Família' de Thomas Vinterberg, e então programarem 'Dogma do Amor.'" Mike D'Angelo, ScreenGrab

PARANOID PARK de Gus Van Sant - Em Competição

"Em 'Paranoid Park,' o novo experimento independente e de baixo orçamento de Gus Van Sant, o diretor está mais aberto ao que ele encontra, ávido por absorver os detalhes cotidianos de um rapaz em particular e da crise repentinamente imposta sobre ele. Portanto ele realizou um dos seus melhores filmes até então, recapturando a mágica de seus belos trabalhos anteriores tais quais 'Mala Noche'e 'Drugstore Cowboy.'... Van Sant usa um elenco composto em sua maioria de não-profissionais e permite que seu brilhante diretor de fotografia, Christopher Doyle, filme num estilo livre, tanto em Super 8 e 35mm, para que ele capture as emoções e as sensações dos estudantes e skatistas. Este filme pode ir a qualquer festival que desejarem seus produtores e deve ser extremamente bem sucedido nos circuitos cinematográficos da Europa e América do Norte." Kirk Honeycutt, The Hollywood Reporter

"Acabo de sair do 'Paranoid Park', do Gus Van Sant, e na minha opinião ele se supera. 'Elephant' visto agora seria uma experiência de erro e acerto, 'Last Days' uma experiência radical mais segura e esse novo filme o formato bem desenvolvido e, ao que parece, no ponto." Kléber Mendonça Filho, Cinemascópio

"Com uma mise-en-scène maestral e inigualável de um diretor no ápice de sua arte e que engaja-se em experimentações visuais e auditivas, reciclando e renovando os avançoes de seus filmes anteriores, 'Paranoid Park' é uma jornada fascinante e hipnótica que encantou admiradores do diretor vencedor da Palma de Ouro de 2003, mas que não emocionou as platéias insensíveis ao convite artístico de Van Sant, que consideram o filme (respeitavelmente ainda assim) apenas uma sucessão de belas imagens." Fabien Lemercier, Cineuropa

"Não é realmente significativo quando asseguro que 'Paranoid Park', o novo filme de Van Sant, é precisamente o retrato lírico e provocativo da adolescência que todos erroneamente pensaram que 'Elefante' era... No mais, este conto brilhantemente esquizóide de Alex (estreante sensacional Gabe Nevins), um colegial skatista punk com um peso na consciência, adentra a mentalidade adolescente com uma clareza e eloqüência que 'Elefante', com seus ecos de tragédia do mundo real que distraíam (e, aomeu ver, eram obscenos) jamais poderia alcançar." Mike D'Angelo, ScreenGrab

"Um riff semi-experimental e visualmente apaixonante de Crime e Castigo de Dostoievski que quase não tem nenhum ponto de contato com a existência humana... Van Sant quer que suas cenas breves, impassíveis e subpopuladas - algumas delas filmadas em 8mm, outras com música sobreposta para que não ouçamos o diálogo - pareçam mais a verdadeira existência adolescente do que os clichés do cinema comercial. É um objetivo justo, mas o efeito derradeiro é o oposto. Como essas crianças ótimas foram parar num filme de arte tão meia-idade, e como podemos resgatá-las dele?" Andrew O'Heir, Salon

"A má notícia é que o recente modus operandi de Van Sant atravessou a linha do 'momentum' para se tornar 'rotineiro' - ele se transformou no equivalente cineasta do personagem Wooderson de 'Jovens, Loucos e Rebeldes' (Dazed and Confused): ele fica mais velho, mas os protagonistas permanecem com a mesma idade... Imagino quando - ou se - seu cinema feroz do início de sua carreira retornará." James Rocchi, Cinematical

A MIGHTY HEART de Michael Winterbottom - Fora de Competição

"Em sua primeira produção para um grande estúdio, Michael Winterbottom apresenta uma minuciosa riqueza de detalhes para esse retrato metódico e rigoroso do seqüestro e morte de Pearl no Paquistão, visto através dos olhos daqueles que se esforçaram para o seu retorno. Winterbottom, que já havia se aventurado nas polºiticas do Oriente Médio com 'Neste Mundo' e 'O Caminho para Guantánamo' prova ser o homem à altura da tarefa. Apesar do prolífico e camaelônico diretor inglês não é um cineasta que se repete, seus dons para a narrativa docudramática - uma habilidade de guiar tramas complicadas, evitando toda oportunidade de sensionalismo em nome de uma sutil sensação de crescente ameaça - não poderia ser mais adequada ao material." Justin Chang, Variety

IMPORT/EXPORT de Ulrich Seidel - Em Competição

"De vez em quando mesmo o crítico, que deve tentar analisar e contextualizar e tentar trazer alguma luz sobre a experiência artística, tentando achar algum olhar objetivo a partir da sua subjetividade, deve se permitir um momento em que simplesmente deixe de lado o distanciamento e trace um limite. Pois o meu é este: depois de tentar 3 vezes, sem conseguir, ver até o fim o primeiro filme de Ulrich Seidl na Mostra de SP (Dias de Cão), ontem eu resolvi arriscar uma olhada no seu novo filme na Competição, Import Export. E, doloroso como foi, eu até assisti 1h50 das 2h15 do filme – mas, como dizem os americanos “enough is enough”. Me perdoem se não haverá nenhum comentário crítico sobre o filme, portanto, para além deste: nem por todo o dinheiro do mundo eu entro de novo numa sala de cinema passando um filme de Ulrich Seidl – assim como eu não assisto o vídeo do assassino de Virginia Tech. Há determinados limites onde compactuar com certas coisas é apóia-las. Estou fora." Eduardo Valente, Revista Cinética

"Na mesma veia de seu filme mais conhecido, 'Dias de Cão'(2001), o autor e documentarista austríaco Ulrich Seidl continua neste filme, seu primeiro longa de ficção em seis anos, a explorar os aspectos mais sombrios da existência humana. Seidl já foi descrito como um sadista, mas sob toda a tragédia, depressão e constante crueldade está obviamente um idealista desapontado implorando que as pessoas cuidem umas das outras." Peter Brunette, Screen Daily

"Miserável, mas maestral. A marca registrada de Seidl, seu olhar destemido para o desespero não surgirá como nenhuma surpresa aos já familiarizados com seu trabalho. Performances impecáveis de atores majoritariamente não-profissionais acrescentam vida à visão obscura de Seidl, apesar do uso explorativo e insistente de pacientes geriátricos reais, que beira a crueldade." Russell Edwards, Variety

"Com um roteiro sem perspectiva central inadequadamente filmado, o filme não deve ir muito mais longe do que sua inexplicável inclusão na competição aqui em Cannes." Ray Bennett, The Hollywood Reporter

MAGNUS de Kadri Kousaar - Un Certain Regard

"'Magnus,'escrito e dirigido por uma jovem mulher chamada Kadri Kousaar, é o primeiro filme da Estônia a ser incluído na competição oficial em Cannes. O filme pinta um retrato tão negro da vida no antigo estado soviético que acabou sendo banido em seu país de origem. Eles podem ter tocado num ponto sensível." The Hollywood Reporter

"Foi apaludido ontem no Debussy, onde foi exibido dentro da mostra Un Certain Regard. Uma experiência reconfortante para Kadri Kõusaar, de 26 anos, que estava determinada a levar essa difícil história de um suicídio adolescente para as telas, convencendo seu elenco e equipe altamente inexperientes a segui-la em sua primeira viagem ao mundo dos longa-metragens. Apesar de seu tema sombrio, o filme não é só tristeza e tragédia, ao que é iluminado pelo estilo de vida rock'n'roll e libidinoso de Mart... O filme foi produzido pela Donus Film no Reino Unido com a Vitamin K Film na Estõnia. Banido dos cinemas na Estônia porque uma mulher moveu um processo contra o filme, acusando-o de ser baseado na sua vida, 'Magnus' ainda tem uma chance com platéias internaconais." Annika Pham, Cineuropa

"Gentilmente alternando-se entre comédia descompromissada e drama pesado, o filme filosoficamente concebido 'Magnus' é uma experiência emocional profunda. Inspirado em eventos reais, este impressionante debut da diretora-roteirista de 26 anos Kadri Kousaar é bem orquestrado e ocasionalmente, visualmente inovador. Personagens francos e engraçados o previnem de cair na morosidade quando o filme contempla as grandes questões da vida. Infelizmente, deixa a bola cair no desnecessário rolo final. Atualmente, está sendo suprimido na Estônia devido à motivos de âmbito legal instigadas por uma 'conhecida do protótipo.' Vagas proemninetes em grandes festivais são certas, mas prospectos internacionais podem também pagar dividendos para distribuidores corajosos." Russell Edwards, Variety

COUNTERPARTS de Jan Bonny - Quinzena dos Realizadores

"Penetrante e incomum história de violência doméstica na qual a vítima em evidência é o marido... No entanto, este tipo de exercício em imparcialidade não foi compartilhado com a platéia. Inesperadamente (ou não), o público aplaudiu entusiasticamente quando Georg finalmente reagiu às agressões da esposa. 'Estava curioso para ver como as pessoas responderiam àquilo. Acho que a violência é tão extrema que tal reação é normal. É preciso relaxar a tensão. É como rir num filme de horror. Algumas outras pessoas não aprovarão. Elas pensarão que não havia razão para que ele explodisse, especialmente se ele se conteve por todos esses anos,'concluiu Bonny." Vitor Pinto, Cineuropa
  Bernardo Krivochein    segunda-feira, maio 21, 2007
 
 
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