Zumbidos de Cannes: Dia 6
>> EXCLUSIVO: ALGUNS DOS FILMES COMPRADOS PARA DISTRIBUIÇÃO NO BRASIL (até agora)
CONTROL de Anton Corbjin - Daylight Filmes
THE BAND'S VISIT de Eran Kolirin - Swen do Brasil [?]
BREATH de Kim ki-duk - California Filmes
ASHES OF TIME REWORKED de Wong Kar-Wai - Imagem Filmes
THE BLACK OASIS de Stephen Elliott - Imagem Filmes
TIMBER FALLS de [?] - PlayArte
BLACK WATER de Andrew Traucki e David Nerlich - PlayArte
ROMULUS, MY FATHER de Richard Roxburgh - California Filmes
>> Caso na coletiva de imprensa de Chacun son Cinema, que reuniu alguns dos grandes diretores da atualidade: entre Egoyan, Gitai, Hsaio-hsien, os irmãos Dardenne, os irmãos Coen, Salles e outros, estava um Roman Polanski (também na Croisette para conseguir financiadores para seu próximo projeto, Pompeii, a ser estrelado por Orlando ia-abandonar-tudo-e-virar-budista-mas-parece-que-desisti Bloom) que irritou-se com a pergunta meio babaca de um jornalista filhote de cruz-credo, subiu nas tamancas (deve ter demorado alguns minutos com a ajuda de um banquinho para o Ananias polonês) e bradou enfurecida a santa: "Vocês jornalistas estão realizando entrevista com 33 dos maiores diretores da atualidade e vocês não tem nada de interessante para perguntar?!?" Logo após dar o espetáculo, Polanski rodou sua capa e escafedeu-se para fora do palco, deixando na tenda onde se realizava o evento o inebriante futum de mal estar, tanto para os diretores quanto para os jornalistas. O debate é entre aqueles que apóiam a iniciativa de Polanski (e Cannes é tapete vermelho, numa coletiva de imprensa é virtualmente possível que saia qualquer coisa de interessante) e outros que acharam a cena apenas uma forma desesperada de chamar atenção. Só compreende Polanski, Romário. Ah, e Luana Piovani, mas essa pode pegar na mão do diretor o quanto quiser, porque papel no filme dele não rola não.
>> "Aqui em Cannes, as pessoas gostam de julgar o sucesso ou o fracasso de um filme através do número de espectadores que saem da sala. Mas o êxodo de ontem à noite do filme de Abel Ferrara 'Go Go Tales' não prova que ele é um fracasso.' Xan Brooks desenvolve no blog do The Guardian. Clique aqui.
>> No mesmo The Guardian: Quando 35 diretores se reuniram em Cannes para mostrar a diversidade de sua arte (em Chacun Son Cinema), a falta de mulheres foi chocante. Será que Jane Campion era a única que se elevou aos seus padrões?" pergunta Kira Cochrane no artigo "Onde estão as mulheres cineastas em Cannes?"
>> E uma triste história de amor: Glenn Kenny da agora e-magazine Premiere, conta como o diretor David Lynch, que era super amigo, super simpático e super legal, passou a evitá-lo durante esse Festival de Cannes. Leia mais em "David Lynch simplesmente não está tanto a fim de mim" no seu blog.
DEATH PROOF de Quentin Tarantino - Em Competição
"Até aqui, Tarantino privilegiou tanto a ação (Pulp Fiction) quanto o diálogo (Jackie Brown). Dessa vez, ele exercita os dois com a máxima intensidade. O filme não é este que está neste momento, agora, diálogo ou ação, diálogo que atrasa a ação, ou ação que anula o diálogo. Uma faz esquecer a outra, e isto é intoxicante. Não há preferência, é 100% espectador, 100% autor. Seja bla-bla-bla, seja a estupidez. Seja os agradecimentos, como disse Cyril Neyrat ao sair imediatamente do Debussy. Dizer e fazer, esses são iguais e esses são igualmente absolutos: QT é tanto um escritor genial de diálogos quanto é genial filmador de carros e lutas. Pura inteligência numa parte e na outra. Puro amor. Pura alegria. Ambos são perfeitamente iguais, mas não pertencem tanto ao filme quanto às mulheres e sua fúria. Tarantino hoje se transforma num dos raros grandes diretores da História que não é um misógino." Emmanuel Burdeau, Cahiers du Cinema
"Bom começar dizendo que é fantástico passar por uma descarga elétrica de cinema desse tipo, e também tão rara. Se a obra de Tarantino tem uma carga toda especial de eloquência, até agora ele não havia se dedicado especificamente ao gênero "ação", e, em tratando-se de Tarantino, ele parece entender que a palavra significa movimento, deslocamento, solavanco e ruído. Efeito sobre a platéia indescritível, o que me leva a crer que o objetivo do projeto Grindhouse (resgatar a experiência comunal do cinema B) foi amplamente atingida, não apenas no sentido cerebral e conceitual, mas especialmente de maneira visceral... Tarantino, dominando totalmente a linguagem, leva o filme do longo lero ao filme de horror e ação num tempo espetacularmente curto." Kléber Mendonça Filho, Cinemascópio
"[T]alvez, Death Proof seja, muito ao contrário da brincadeira desatenta que eu imaginei, o filme que Tarantino sempre esteve se preparando para fazer. Um filme onde tudo o que era “elogiável” mesmo para a alta cultura cinematográfica em seus filmes anteriores (a cronologia desmontada, o caráter um tanto épico das suas narrativas, a presença de grandes atores-símbolos) fica para trás (ou no mínimo um tanto de lado), e o que importa mesmo é o movimento, são as imagens, são os sons, a música, a completa imersão do espectador numa catarse constante banhada de sexo, de violência, de artifícios, de identificação, de cinema enfim. Death Proof é antes de tudo isso: cinema, puro e simples, o tipo de espetáculo que simplesmente não poderia ser (re)produzido por nenhuma outra forma de arte. Por isso tudo, e muito mais (a ser dissecado com calma no futuro), é um filme grandioso [...]" Eduardo Valente, Revista Cinética
STELLET LICHT de Carlos Reygadas - Em Competição
"Desenvolve-se um drama familiar, mas logo suspeitamos que esta família está mesmo a serviço de Reygadas, obstinado pela idéia de evocar não apenas Bresson, mas também o russo Andrei Tarkovsky e o dinamarquês Carl Dreyer. Se funcionou para eles, porque não funcionaria também para Reygadas? É, mas a fina linha que separa a homenagem orgânica do pastiche pode sempre ser um problema. Ao final da sessão, o som agora se põe, em tempo real, muita gente querendo ir embora e aguardando o esperado fade." Kléber Mendonça Filho, Cinemascópio
"Uma história sobre graça e o mundo decadente, Stellet Licht tem uma grande dívida com o mestre dinamarquês Carl T. Dreyer, mesmo quando oferece contínuas provas da arte intensa e individual própria do sr. Reygadas." Manohla Dargis, The New York Times.
"Traços - e, lá para o final, grandes e distintos borrões - de Ordet de Carl T. Dreyer colorem Stellet Licht... que conta uma história silenciada de adultério e crise espiritual que se desenrola numa comunidade Menonita contemporânea. Os visuais widescreen tipicamente envolventes e a presença de atores não-profissionais falando um Plautdietsch derivado do alemão formam uma combinação inicialmente hipnótica, mas o encanto se quebra bem antes do final da inflada duração do filme, indicando um teste de resistência para todos exceto as platéias mais ascéticas do circuito de arte." Scott Foundas, Variety
Uma fábula alegórica de sutil força e profundidade, [porém] os planos longos e silêncios estudados ainda são de uma pretensão inegável. Há um plano em que a câmera desce do céu noturno para captar a alvorada de um novo dia que, enquanto bela, demora seis minutos. E esse só é o primeiro plano do filme." Kirk Honeycutt [eu não gosto de Reygadas, mas gosto da descrição do plano]
"Bastante como The Banishment, exibido há alguns dias para desdém completamente universal, Stelle Licht um conto não-adornado de infidelidade matrimonial, sem uma história digna de nota e de uma intensa fascinação com a paisagem e os cortornos das faces humanas. Mas é o tom e julgamento que importam em épicos miniatura como esses e Reygadas, para quem esse filme representa um enorme salto de maturidade, compreende a diferença entre choques sombrios e angústia sutil. Não há modo possível de resumir o poder de Stellet Licht sem descrever cada plano individualmente, e mesmo assim, você só estaria tendo uma vista geral de seu poder cumulativo; só posso dizer que estava arrebatado do início ao fim, apesar de ser o tipo de cinéfilo Neanderthal que feralmente prefere narrativas tradicionais do que poemas tonais." Mike D'Angelo, ScreenGrab
LE SCAPHANDRE ET LE PAPILLON de Julian Schnabel - em Competição
"Até terça-feira, parecia que o candidato principal a Palma de Ouro era 'No Country for Old Men' dos irmãos Coen. Mas com 'Le Scaphandre et le Papillon' de Julian Schnabel, a competição deve se tornar acirrada. O filme lindamente fotografado é focado no editor da Elle Magazine Jean-Dominique Bauby, que sofreu um infarte intenso e ficou totalmente paralizado. Mas Bauby, que está ligado à maquinas para ajudá-lo a respirar, ainda possui sua inteligência, sua imaginação e o uso de um dos olhos. E enquanto permanece deitado no leito do hospital, lentamente descobre uma razão para viver. ele quer escrever um livro." Charles Ealy, Austin Movie Blog
"Uma tentativa passável de capturar um retrato belo e intimista sobre o que é realmente essencial e recompensador na vida. Mas o filme não é sobre nenhuma dessas coisas,e não chega sequer perto de 'Antes do Anoitecer' em termos de ressonância poética e impacto emocional. É realizado sensivelmente e tecnicamente bem feito, mas é um filme sobre um estado de quase 100% de confinamento que se faz parecer um bocado confinador." Jeffrey Wells
"Sendo mais intrigante em suas tentativas de recriar a experiência da paralisia na tela grande, o longa-metragem filmado de forma estonteante se morfa em uma colagem de sonhos e fantasias, distanciando um pouco o espectador da consciência de Bauby exatamente quando procura nela envolvê-lo mais profundamente. Ainda assim mexe com o espectador, e já vendido para um grande número de territórios, o agridoce Papillon deve conquistar uma recepção calorosa mundialmente após ser libertado do casulo de Cannes." Justin Chang, Variety
"Um pequeno milagre [...] Tomando um approach diferente ao vencedor do Oscar de 2004 'Mar Adentro', no qual Javier Bardem interpretava um quadriplégico suicida, o filme traz uma perfomance principal igualmente refinada de Mathieu Amalric, e se equipara ao amplo apelo daquele filme." Ray Bennett, The Hollywood Reporter
"Narrado com humor e humanidade, 'Le Scaphandre...' não falhará em emocionar qualquer platéia. Mathieu Amalric se tornou um dos atores franceses mais ocupados e confiáveis nos últimos anos... Apesar do papel ter sido oferecido originalmente para Johnny Depp, é difícil imaginar qualquer outro lhe fazendo justiça." Allan Hunter, Screen Daily
BLIND MOUNTAIN de Li Yang - Un Certain Regard
"Li Yang demonstra mais uma vez que ele é o mestre da tenão fílmica com seu segundo longa-metragem, 'Blind Mountain.' Baseado na prática cada vez mais intensa do tráfico de esposas na China rural, falta nesta história assustadora e, ainda assim filmada límpidamente, sobre o seqüestro e venda de uma jovem universitária, a narrativa rica e o estudo de personagens do impressionante debut de Li, 'Blind Shaft'... Mas ele nos oferece uma aula de manipulação de público, intensificando nossa identificação com a heroína abusada e nos alimentando com apenas migalhas de esperança nos momentos certos, para nos manter em suspense até seu final deliciosamente abrupto, que provocou um acesso de aplausos catárticos dos membros da imprensa durante a primeira exibição do filme na Un Certain Regard."Lee Marshall, Screen Daily (Preciso. Ver. Esse. Filme. Agora.)
"Mesmo com os muitos cortes exigidos pelas autoridades chinesas ao diretor para permitir que o filme fosse exibido em Cannes, 'Blind Mountain' retém um enorme impacto político além de ser um drama comovente." Ray Bennett in the Hollywood Reporter.
"Se o espectador responde ao tema (certamente válido) do filme - a história se passa no começo dos anos 90, mas poderia se passar no presente em várias áreas distantes da China - o filme tem uma entediamente falta de desenvolvimento dramático que um punhado de personagens sem profundidade. A maior parte da ação e o desenvolvimento potencialmente interessante, se passam durante o último rolo, quando termina abruptamente com um final fácil e edificante justamente quando tudo começara a ficar interessante." Derek Elley, Variety
PLOY de Pen-Ek Ratanaruang - Un Certain Regard
"O problema principal do filme de Ratanaruang é que na passagem que faz de um cinema mais observacional das relações no começo para um cinema que tenta mesclar sem distinções realidade, fantasia e pesadelo, o cineasta nem se sai totalmente bem numa parte nem na outra – e com isso parece mais formalista até do que realmente é, porque não conseguimos acreditar de todo no que encena. Há, de novo, momentos de força (especialmente quando a jovem Ploy do título está em cena), mas no geral o filme se aproxima perigosamente do “cinema falsamente profundo” de um Kim Ki-duk." Eduardo Valente, Revista Cinética
GARAGE de Lenny Abrahamson - Quinzena dos Realizadores
"Engraçado, emocionante e trágico, Garage a segunda colaboração entre o diretor Lenny Abrahamson e o roteirista Mark O'Holloran - depois do premiado 'Adam & Paul' - já era suspeito a possível boa surpresa de Cannes 2007. A confirmção está aqui... pois o filme emocionou a platéia durante sua exibição na Quinzena dos Realizadores." Vitor Pinto, Cineuropa
"Chamar 'Garage' de um filme pequeno, mas o diamante Hope, todas as partes consideradas, também tem proporções mínimas. Os dois, em todos os casos, são tesouros." Peter Brunette, Screen Daily
"Humor cansado abre caminho para drama capenga... a narrativa se arrasta providenciando piadas baratas e quando o roteiro revela suas intenções dramáticas, a trama torna-se de uma obviedade sem sal." Russell Edwards, Variety
(tradução das compilações da Greencine, Allocine e outras fontes)