O cinema, num nível pessoal, tem lá seus encantos, (não é a toa que aficcionados passam horas e horas vendo e discutindo filmes no mundo todo) mas exatamente no lugar onde o cinema encanta, uma exposição de arte pode desencantar. Uma façanha bem mais desafiadora para os inúmeros freqüentadores dos museus e galerias por aí. Você pode se encontrar num universo mais real, luzes acesas ou não, mas seu corpo está de pé, se move. Numa exposição, você é um ser ativo e seus olhos escolhem aonde e quanto tempo olhar, ao contrário do cinema que quase sempre condiciona a sua mira. Mas certas exposições causam um impacto tão grande no seu corpo e na sua existência que dificilmente um filme causaria... por que?
Isto que me perguntei ao visitar uma retrospectiva completa da Louise Bourgeois no Centre Pompidou em Paris (a exposição fica até 2 de junho). Ali centenas de objetos, esculturas, instalações, pinturas produzidas pela artista durante toda a sua vida... ela já está com mais de 90 anos é uma mulher pequena, magra mas absolutamente vivaz e inquieta. O impacto de ver os objetos que ela construiu é muito forte ( nada comparado a uma imagem de um objeto, nada), você enxerga o esforço, a textura, a linha onde tudo começa e termina. Para quem vive em meio ao esforço de comunicação das imagens, foi um choque, quase um medo de encarar a verdade de Bourgeois.
Ela é taciturna em suas descobertas, seus livros relatam um pai tirano que ela tenta entender em todos os seus processos de criação. Uma mãe morta logo cedo, mulheres do pai a tolerar. Seu trabalho é multiforme, seu universo psicanalítico, sua infância presente, o sexo, o amor, a morte, tudo muito intenso assim como os materiais vários: metal, vidro madeira, tecido, algodão, cera, bronze. O feminismo, a questão da opressão e libertação daa mulher está muito presente. Suas aranhas tão famosas como símbolo daquilo que, segundo a curadora da mostra, siginifica uma mãe, a rainha que protege a teia. O cinema nunca daria conta de Louise e esta é uma verdade. O cinema parece frio demais perto de seu coração material e encarnado em coisas simbólicas.
"I am a scientific person. I believe in psychoanalysis, in philosophy. For me the only thing that matters is the tangible", diz Louise.
Talvez seja bom deixar as palavras de lado, as imagens de outro e construir um objeto qualquer.
*Foto: trabalho de 2001, Seven in Bed.
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