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RIOFAN: END OF THE LINE

Still de "End Of The Line" de Maurice Deveraux

Dentre todos os títulos longa-metragem na programação do RioFan, "End Of The Line" é um dos tecnicamente mais bem resolvidos: trabalho seguro de câmera, bem fotografado, uma trilha-sonora original digna de uma produção de terror bem apadrinhada por algum estúdio, efeitos especiais decentes. Poderia-se dizer que as qualidades de produção acabam desfavorecendo o filme, ao que os pontos positivos evidenciam as reais carências do filme, bem mais do que as ocultam. Através da mirabolante transformação de um orçamento independente num filme de aspecto bem mais valioso (nunca uma superprodução; pense numa continuação de filme de sucesso feito diretamente para o vídeo... essas produções contam com mais dinheiro do que se imagina), Maurice Deveraux ergue as expectativas do público, que passa a escrutinizá-lo sem preconceito, sem condescendência. Uma pena pelas suas falhas (o final bem concebido, mas mal executado; os atores caricatos; os múltiplos sustos gratuitos e sem fundamento algum), pois são eles que impedem "End Of The Line" de se destacar além do estado de passatempo eficaz no qual atualmente se encontra.

A ótima história vem alicerçada no terror bastante compreensível de estar só numa estação metroviária: um grupo de incautos tenta sobreviver nos trilhos subterrâneos à perseguição de milhares de crentes religiosos, quando o seu pastor os convoca a salvar as almas dos infiéis do apocalipse, assassinado-os neste que seria o dia do juízo final. Eles não precisavam nem mostrar a faca: apenas a idéia de se encontrar no mesmo vagão de trem enquanto eles começam a entoar o coro de música gosple já é o bastante para causar o apocalipse nas minhas calças. Se o recheio é delicioso, são as arestas que não estão lá muito bem cozidas: a história de fundo da protagonista, obviamente tentando insinuar um possível desequilíbrio psicológico (e assim levar o espectador a desconfiar da veracidade do que se vê), é abandonada rapidamente, apenas protelando o início da ação. Uma vez ultrapassado o estabelecimento da personagem, trecho com muito a nenhum valor para o filme, Devereaux empilha uma número exagerado de sustos baratos (estragando a boa construção de atmosfera) e até se estrambelha um pouco ao tentar cobrir os múltiplos eventos e personagens presentes dentro de um metrô repentinamente parado nos trilhos, ao mesmo tempo que tenta preservar o terror e as surpresas (ao ponto de precisar voltar no tempo, após já conhecermos o evento principal, para poder apresentá-los).

Mas conseguindo dar conta desta apresentação esburacada, o que se segue é um terror bastante digno que faz o máximo de sua situação e de sua locação, conseguindo angustiar e prender a atenção. No todo, Deveraux consegue fazer um filme que se leva a sério (ainda que muitos queiram debatê-lo), que não entra em território de galhofa, que não joga a toalha mesmo quando alguns elementos não estão exatamente colaborando - caso das atuações tão caricatas que chegam a distrair. O elenco, mesmo nas cenas iniciais, parece antecipar a histeria da qual seus personagens serão vítimas ao exagerar na interpretação da mais ligeira linha irônica de diálogo. Assim sendo, o centro psiquiátrico no qual a protagonista trabalha deve ser um hospital dedicado aos atores canastrões do Canadá: "End Of The Line" teve ter o elenco dos piores coadjuvantes há muito tempo vistos, fazendo de suas modestas cenas um grito desesperado por atenção; eu não consigo me esquecer o quão ruins estavam o padre católico e o enfermeiro. Stanislavski girou tanto no túmulo que se tornou uma broca cadavérica, perfurando a crosta terrestre (última localização do radar: arredores de La Paz). Salvam-se Joan McBride como a líder cultista, criando uma vilã completamente detestável e possível, e Neil Napier, espécie de astro de filmes independentes de gênero no Canadá, como um herói sem virtudes idealizadas. É apenas lógico que os dois melhores em ação acabem tendo que se enfrentar.

Ao invés de atingir o muro à toda velocidade, Deveraux freia a condução. Acabamos o filme sãos e salvos, sem um impacto digno de nota. Este compromisso com a boa forma cinematográfica surge num dos filmes que mais se beneficiariam de ousar em seu baixo orçamento. O roteiro de "End Of The Line" se desenvolve de forma bastante eficaz, mesmo sendo corretinho (não há nenhuma afronta aos sentidos ou a moral, já que o filme é uma catarse para quem não agüenta a Igreja Universal), deixando-nos ansiosos para descobrir se Deveraux evoluirá no próximo filme. Aqui ele mostra saber como valorizar ao máximo a pequena produção. Será que com mais oportunidade ele ousará ou simplesmente se conformará? A descobrir.

"End Of The Line" Canadá, 2006. 95min. Direção: Maurice Deveraux. Estrelando: Ilona Elkin, Nicolas Wright, Neil Napier, Joan McBride, Emily Shelton, Tim Rozon. Site oficial: http://www.endofthelinemovie.com/

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  Bernardo Krivochein    terça-feira, maio 06, 2008
 
 
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