A ótima história vem alicerçada no terror bastante compreensível de estar só numa estação metroviária: um grupo de incautos tenta sobreviver nos trilhos subterrâneos à perseguição de milhares de crentes religiosos, quando o seu pastor os convoca a salvar as almas dos infiéis do apocalipse, assassinado-os neste que seria o dia do juízo final. Eles não precisavam nem mostrar a faca: apenas a idéia de se encontrar no mesmo vagão de trem enquanto eles começam a entoar o coro de música gosple já é o bastante para causar o apocalipse nas minhas calças. Se o recheio é delicioso, são as arestas que não estão lá muito bem cozidas: a história de fundo da protagonista, obviamente tentando insinuar um possível desequilíbrio psicológico (e assim levar o espectador a desconfiar da veracidade do que se vê), é abandonada rapidamente, apenas protelando o início da ação. Uma vez ultrapassado o estabelecimento da personagem, trecho com muito a nenhum valor para o filme, Devereaux empilha uma número exagerado de sustos baratos (estragando a boa construção de atmosfera) e até se estrambelha um pouco ao tentar cobrir os múltiplos eventos e personagens presentes dentro de um metrô repentinamente parado nos trilhos, ao mesmo tempo que tenta preservar o terror e as surpresas (ao ponto de precisar voltar no tempo, após já conhecermos o evento principal, para poder apresentá-los).
Mas conseguindo dar conta desta apresentação esburacada, o que se segue é um terror bastante digno que faz o máximo de sua situação e de sua locação, conseguindo angustiar e prender a atenção. No todo, Deveraux consegue fazer um filme que se leva a sério (ainda que muitos queiram debatê-lo), que não entra em território de galhofa, que não joga a toalha mesmo quando alguns elementos não estão exatamente colaborando - caso das atuações tão caricatas que chegam a distrair. O elenco, mesmo nas cenas iniciais, parece antecipar a histeria da qual seus personagens serão vítimas ao exagerar na interpretação da mais ligeira linha irônica de diálogo. Assim sendo, o centro psiquiátrico no qual a protagonista trabalha deve ser um hospital dedicado aos atores canastrões do Canadá: "End Of The Line" teve ter o elenco dos piores coadjuvantes há muito tempo vistos, fazendo de suas modestas cenas um grito desesperado por atenção; eu não consigo me esquecer o quão ruins estavam o padre católico e o enfermeiro. Stanislavski girou tanto no túmulo que se tornou uma broca cadavérica, perfurando a crosta terrestre (última localização do radar: arredores de La Paz). Salvam-se Joan McBride como a líder cultista, criando uma vilã completamente detestável e possível, e Neil Napier, espécie de astro de filmes independentes de gênero no Canadá, como um herói sem virtudes idealizadas. É apenas lógico que os dois melhores em ação acabem tendo que se enfrentar.
Ao invés de atingir o muro à toda velocidade, Deveraux freia a condução. Acabamos o filme sãos e salvos, sem um impacto digno de nota. Este compromisso com a boa forma cinematográfica surge num dos filmes que mais se beneficiariam de ousar em seu baixo orçamento. O roteiro de "End Of The Line" se desenvolve de forma bastante eficaz, mesmo sendo corretinho (não há nenhuma afronta aos sentidos ou a moral, já que o filme é uma catarse para quem não agüenta a Igreja Universal), deixando-nos ansiosos para descobrir se Deveraux evoluirá no próximo filme. Aqui ele mostra saber como valorizar ao máximo a pequena produção. Será que com mais oportunidade ele ousará ou simplesmente se conformará? A descobrir.
"End Of The Line" Canadá, 2006. 95min. Direção: Maurice Deveraux. Estrelando: Ilona Elkin, Nicolas Wright, Neil Napier, Joan McBride, Emily Shelton, Tim Rozon. Site oficial: http://www.endofthelinemovie.com/
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