O BLOGINDIE vai ter seu layout reformulado. Estamos em processo de mudanças por aqui. Esperamos voltar em breve. Quem quiser saber quando voltaremos mande seu email no fale conosco no site da Zeta Filmes que informaremos quando tivermos a nova data. Até breve.
Saio imediatamente do cinema para o computador como quem precisa dar uma notícia urgente:
"Fim dos Tempos" é um dos melhores filmes que eu já vi.
Este é o perigoso momento da adjetivação. Chego a ter palpitações ao pensar no quanto eu tenho que escrever sobre o filme que eu acabei de ver. Excitação destilada. Preciso respirar e organizar melhor o pensamento. Muitas vezes no passado, quando eu me animava com um filme, não poupava esforços e o elevava aos céus - apelando ao mais básico - porque eu me sentia na missão de motivar a quem quiser que estivesse lendo para assisti-lo - especialmente porque se tratavam de filmes menores, obscuros, sem distribuidora no Brasil ou que as pessoas simplesmente não estavam prestando atenção. Não vou mentir: é uma táctica que funciona.
O perigo está na hipérbole. Se eu digo que "Fim dos Tempos" é o melhor filme do ano, isto significa que o espectador irá obrigatoriamente gostar? Não. Se "Fim dos Tempos" é de fato o melhor filme do ano, isto não significa que o fator de entretenimento está garantido, que é tecnicamente impecável ou inovador. Neste caso, ser o melhor filme do ano significa sobretudo que "Fim dos Tempos" se trata de um filme com algo de muito importante a dizer sobre o status quo da experiência cinematográfica contemporânea, independente do que você sente ou não por ele - o que é algo menos divertido de se prometer de uma experiência cinematográfica do que um simples abstrato "esse filme é foda para caralho!", que eu sempre fiz muito.
"Fim dos Tempos" é uma das ponderações mais poderosas sobre o rapport do cinema blockbuster e o novo espectador. Vou logo sublinhar os aspectos essenciais do filme para mim, esperando poder dissertá-los melhor no texto que virá a seguir.
3 cenas essenciais para o cinema de entretenimento contemporâneo: os personagens fugindo do vento, Mark Wahlberg conversando com uma planta de plástico e Wahlberg e Zooey Deschanel conversando através das paredes (bela adaptação de "Abelardo e Heloísa").
Já havia falado no texto sobre "Transformers" que, sob o CGI, teríamos planos dignos de um diretor sensualista tailandês. Estas cenas, especialmente a da planta de plástico, vêm sendo ridicularizadas pela crítica. Ora, o que esta cena tem de diferente de uma Liv Tyler interpretando com uma bola de tênis presa a uma vara de pescar, servindo de referência a altura do Hulk que será inserido na pós-produção? Por que Ian McKellen atuando com um Balrog completamente imaginário é digno de apalusos, enquanto os personagens de "Fim dos Tempos" fugindo do mesmo nada é ridículo?
Muitos estão dizendo que "Fim dos Tempos" é um ato de humildade de M. Night Shyamalan, retornando ao seu cinema mais pueril da fase de "Sinais" do que sua defesa feroz de ideologias em "A Vila" e "A Dama na Água". Nada poderia estar mais longe da verdade. "Fim dos Tempos" é o maior dedo médio erguido ao atual cinema de entretenimento hollywoodiano, um sonoro "vai tomar no cu, computação gráfica!" A diferença entre o seu filme de ação hollywoodiano e "Fim dos Tempos" é que simplesmente Shyamalan decide não inserir o CGI no plano. O espectador é levado a confrontar o fato que seu blobckbuster de férias trata-se de ridícula pantomima e que o atores estão fundamentalmente atuando com o nada. Se CGI é a suspensão da descrença, "Fim dos Tempos" é "O Rei Está Nu!" do cinema hollywoodiano. Por exemplo: qual não seria o embaraço geral da platéia aoassistir a um filme como "Garfield" sem seus efeitos visuais ainda inseridos? É bem o que acontece com a cena de Wahlberg e Deschanel conversando sem a presença física do outro: a voz descorporalizada.
E prepare-se para um ataque ao críticos norte-americanos tão cortante quanto aquele encontrado em "A Dama na Água": o último trecho do filme estabelece um programa de televisão com dois personagens discutindo o fenômeno. O entrevistador coloca uma das indiretas mais divertidas ao comportamento elitista e preconceituoso da crítica norte-americana frente a mera sugestão da crítica internacional de que Shyamalan poderia muito bem ser um auteur: "nós poderíamos admitir que o fenômeno se tratasse de um primeiro alerta caso acontecesse em qualquer outro lugar do mundo, menos aqui [costa leste, coração dos EUA]." Ou seja, a arrogância norte-americana em se ver como crucial e absoluta que jamais admitiria ter perdido o reconhecimento de um grande auteur para os críticos internacionais (insistindo agora em negá-lo e destrui-lo de uma vez por todas). Ao estabelecer o último plano no filme no país que o abraçou como grande diretor - fazendo assim um sentido agradecimento - Shyamalan decide premonitoriamente mudar o eixo central cinematográfico e sócio-político para bem longe dos EUA, cada vez mais decadente no cenário mundial, em recessão, etc.
Isto deixando passar os pontos mais viscerais de uma grande sessão de cinema: atmosfera cortante, sustos chocantes, uma história cativante, planos criativos (ainda que aquém do deslumbre visual dos seus filmes anteriores) e um roteiro que não toca uma nota errada. Amei do início ao fim. Alguns fillmes nos motivam a comprar o DVD; eu quero adotar uma película 35mm de "Fim dos Tempos", preservá-la. Pessoal da Fox, me contactem antes de mandar as cópias para a guilhotina, por favor.
O que justifica as críticas negativas? Bem, nada. É como a frase que cunhei para definir a prática: crítica cinematográfica é o pleno exercício do "escrotínio".