blogINDIE 2006



Para toda uma humanidade (For all Mankind), o homem foi a Lua

Para quem é ainda um aficcionado por astronautas e por todo universo da Nasa, Apollos e conquistas espaciais, o filme "For All Mankind" é retrô necessário. Documentário de 1989, produzido e dirigido por Al Reinert foi resgatado da poeira e exibido recentemente no IFC ( um cinema para indies em NYC). As imagens são da NASA e os relatos são dos astronautas, a música é do Brian Eno, mas acho que ainda sim os garotos (mankind) iriam curtir.

Al Reinert transpôs as imagens para 35 mm criando um efeito macroscópico e belo desta visão espacial, copilou imagens de 9 viagens espaciais entre 1968 e 1972, e acabou construindo uma narrativa com ínicio-meio e fim desta experiência.

Faltam os dilemas pessoais dos astronautas (isto também ficou por conta de Kubrick em 2001, Uma Odisséia no Espaço), uma visão crítica mais aguçada, menos didática. "For all Mankind" é um destes docs para escola, da National Geographic. Mas as imagens e o espírito da nostalgia valem muito.

Você é da comunidade que ainda acha que o homem não foi a Lua? Dá uma conferida então. Claro que ele está na íntegra no YouTube ( 8 partes) e com certeza perde muito de sua grandeza visual:


  Francesca Azzi    quarta-feira, fevereiro 27, 2008    3 comentários
 
 
VIDEOPOST 25/02

>> Jimmy Kimmel: A Vingança

Que fique claro para as mulheres: nunca subestimem a fúria de um homem traído. Há algumas semanas, um trecho do talk show "The Jimmy Kimmel Show" fez sucesso estrondoso na Internet. Nele, o ex-apresentador do "The Man Show" era surpreendido pela namorada, a comediante Sarah Silverman, com a confissão musical que, bem, ela estava fodendo Matt Damon.



Porém, ontem, no programa pós-Oscar de Kimmel, ele não deixou barato e se vingou da traição de Silverman e Damon da melhor maneira possível: fodendo Ben Affleck. (e com o auxílio de inúmeros outros)



>> Robots Can't Act: já estou viciado na mencionada série de animação há muito tempo (na qual robôs reproduzem cenas de filmes famosos com sua voz monótona e atuações inexpressivas: é como qualquer novela com Carolina Dieckmann), mas nunca pensei que eles viessem a um dia melhorarem o material original, como é o caso com o novo episódio, sacaneando "Juno". Calha que remakes podem ser melhores do que os originais, no final de contas. Link.

>> A única verdade que você precisa saber sobre ter animais de estimação (e/ou crianças pequenas). Eu vi esse anúncio do [adultswim] e nao consegui parar de rir. Porque meu senso de humor é sofisticado.

  Bernardo Krivochein    segunda-feira, fevereiro 25, 2008    1 comentários
 
 
O único post que vou utilizar para discutir Oscar na minha vida


Antes que alguém fale que eu sou um descrente em troféus, tendo desconfiado dos vencedores "Crash", "Tropa de Elite" e "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" em poucos meses, um fato real: há pouco tempo visitei pela primeira vez a casa de um amigo que mantinha no quarto todos os seus troféus de êxitos esportivos (mais precisamente, de futsal). Eu nunca tinha visto uma estante de troféus daquela forma e fiquei ao mesmo tempo deslumbrado e me sentindo um merda, tendo desperdiçado minha adolescência com livros, filmes e músicas que, no final, não lhe dão nenhum mérito para ostentar. Estou numa espécie de crise esportiva.

Mas para mim, troféus são exatamente isso: indiscutíveis apenas em competições com regras bem estabelecidas de comparação. Troféu de festival de cinema é bom apenas para citar no material publicitário, itens de concursos de popularidade, raramente de qualidade: a História de Cinema é geralmente feita por párias sem medalhas. Há algo na condecoração material que banaliza um filme, que deveria ser algo que se ligasse ao âmago do espectador mais do que a um objeto de estante. Haja visto a proximidade do Oscar, que todo mundo acaba vendo hora ou outra, eu só queria colocar dois pontos em questão para não deixar passar em brancas nuvens:

1) "Sangue Negro" teve sua première mundial não em Cannes, não em Berlim, não em Veneza, não em Toronto, mas no Fantastic Fest em Texas. O evento, curado por Tim League e pelo papageek Harry Knowles, já se estabeleceu em duas edições como o grande festival norte-americano do gênero Fantástico e, graças à amizade com Paul Thomas Anderson, Knowles pôde exibi-lo em primeira mão. Ganhando o Oscar, teríamos o primeiro premiado pela academia a ser filhote do Cine Fantástico, ainda que de Cine Fantástico o filme tenha de fato... pouco. Não vamos dizer nada, porque o conceito de Cinema Fantástico está amplo ao ponto de indefinição atualmente, mas até aí, não vamos forçar a barra.

Eu nem quero que "Sangue Negro" ganhe o Oscar de melhor filme, só que ele fosse reconhecido por todos como o melhor filme da leva de candidatos. Aliás, é até covardia: "Juno" é a cinebiografia verborrágica da Jamie Lynn Spears que usa os diálogos como uma espécie de photoshop auditivo que neutraliza qualquer traço de imperfeição (logo, de humanidade) dos personagens; "Desejo e Reparação", sério mesmo?; "Onde os Fracos Não Têm Vez", bem... não tenho nada contra fecófilos (é preciso aprender a respeitar nossas diferenças); De "Michael Clayton", a única coisa que eu sei é que uma vez eu conheci um Michael e o bafo dele fedia como se tivessem abandonado um gato morto em sua boca; e "Sangue Negro", que é um clássico de ambição como o cinema raramente vê, que deve a Malick, Kubrick, Pollock, Selleck e tantos outros ecks por aí. Conheço três pessoas que se dizem parecidas com o Daniel Day-Lewis. Uma delas é a Juliettte Lewis.

2) Tirando o prêmio de melhor ator para Daniel Day-Lewis, estou cagando Marisa Montes para todas as outras categorias, exceto uma: a Academia foi muito criticada por ter excluído uma série de filmes celebrados da sua seleção de candidatos ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro. Eu digo: nunca a Academia teve uma seleção de candidatos tão fortes. Não que eu esteja torcendo por algum deles, pelo contrário: a seleção parece ter sido feita por um curador de algum festival cabeçudo de cinema de arte. Todos os títulos pegaram os jornalistas de surpresa, nenhum dos "usual suspects" com os quais eles preencheram suas listas. Melhor de tudo: é uma seleção que permitiu ao mundo inteiro DESCOBRIR filmes, independente de quem vai ganhar ou de quem sequer é bom: "Die Falscher" e "Beaufort" (tem crítico brasileiro que gosta muito deste) existem para baixar há décadas, o filme anterior do diretor de "Mongol", Sergei Bodrov, só existe no Brasil em DVD (chama-se "Nômade" e não foi concluído direito por problemas de orçamento; elenco internacional, superprodução murcha), os outros eu não sei.

Fechando num círculo, "Mongol" também é outra première mundial do Fantastic Fest do sr. Knowles. Mais importante do que isso: será que teremos Tadanobu Asano, protagonista do longa, caminhando o tapete vermelho do Kodak Theatre? Mais importante do que isso ainda: será que os crentes da Igreja Universal recém-aberta na frente do Kodak Theatre atrapalharão a cerimônia com o alto volume dos hinos e dos cultos?
  Bernardo Krivochein    quarta-feira, fevereiro 20, 2008    6 comentários
 
 


Precisamos ver os novos filmes japoneses!... e os números espantosos deste cinema em 2007



Começa hoje, dia 20/02, em São Paulo, um ciclo de filmes japoneses no CCBB. Serão 20 filmes de 17 diretores. Segundo o Cássio Starling da Folha:

"Mais que o volume de títulos e de criadores, a seleção ganha peso por seu recorte histórico, que cobre desde o início dos anos 30 até a produção recente. Outra de suas qualidades é não ter se limitado a um apanhado de obras-primas cuja exibição costuma ser periódica. Ao contrário, o ciclo traz mais os chamados filmes médios ou menores de grandes cineastas, o que evidencia a importância do cinema como revelador de profundas mutações históricas sofridas por um povo."

Apesar de Starling ressaltar o fato de não serem obras exibidas periodicamente, os filmes me parecem (grande parte eu constatei que é) do acervo da filmoteca do Consulado do Japão no Rio e outros de distribuidoras e colecionadores brasileiros. Apesar também deste fato não ser de maneira alguma repreensível, afinal dependemos das filmotecas e dos acervos para fazermos retrospectivas históricas, ressalta como é difícil trazer para o Brasil o novo cinema japonês ou mesmo retrospectivas significativas de obras de grandes diretores japoneses.(Nós mesmos contamos inúmeras vezes com o acervo do Consulado em 16mm para exibir Ozu, Mizoguchi, Yamada e alguns filmes novos dentro do Indie). Não acredito que dentro desta mostra tenha algum filme inédito completamente e que tenha sido trazido para o Brasil especialmente para isto ( se estiver enganada, aceito prontamente um coment a respeito).

Como disse antes, não acho que este fato em si deponha contra o ciclo, mas como este é o centenário da Imigração japonesa no Brasil, esperamos muito e ainda que haja muitos filmes japoneses inéditos, e novos também, durante o ano. É mais do que urgente, que os filmes japoneses cheguem ao país. Mas como é muito caro o transporte das cópias (etc,etc) até aqui, há a necessidade de um suporte institucional.

O que impressiona no cinema do Japão são os números e aí podemos perceber o que estamos perdendo.

Segundo a Associação dos Produtores Cinematográficos Japoneses em 2007 foram produzidos 407 filmes de longa-metragem japoneses ( contra 417 do ano anterior) e foram distribuídos 403 filmes estrangeiros no Japão (contra 404 em 2006). Os filmes japoneses, no ano passado, ocuparam 47,7% da cota de tela (53,2 em 2006) e fizeram 163,1 milhões de espectadores (caiu 0,8% em relação a 2006). Não são números inacreditáveis? O cinema japonês é um sucesso no seu próprio país. e aí não estão contabilizados os filmes curtos, os experimentais e vídeoarte... imaginem o quanto não se produz fora desta grande indústria.

Os filmes mais vistos no Japão, no ano passado (segundo Jason Grey) foram:


1. Hero (Fuji TV / Toho) $76.61m (Y8.15bn)
2. Pokémon: The Rise Of Darkrai (Toho) $47.19m (Y5.02bn)
3. Always: Sunset On Third Street 2** (NTV / Toho) $42.86m (Y4.56bn)
4. Monkey Magic (Fuji TV / Toho) $41.08m (Y4.37bn)
5. Love and Honour* (Shochiku) $38.63m (Y4.11bn)
6. Sky Of Love (TBS) Toho $36.66m (Y3.9bn)
7. Doraemon (Toho) $33.28m (Y3.54bn)
8. Dororo (TBS / Toho) $32.43m (Y3.45bn)
9. Unfair: The Movie (Fuji TV / Toho) $25.57m (Y2.72bn)
10. Detective Conan (Toho) $23.78m (Y2.53bn)

Notem que a distribuidora TOHO abocanha 1/3 de todo o mercado, seguida pela Shochicku e Toei.

Hero, o filme que mais arrecadou ano passado, foi dirigido por Masayuki Suzuki e é baseado na série de TV de mesmo nome. Leia o que diz o crítico Mark Schilling sobre o filme no Japan Times.

Com certeza, se você analisar filme por filme, verá que os grande sucessos são logicamente filmes muito comerciais. Mas há uma grande produção indie no Japão. O próprio Mark Schilling, que é a antena ocidental do cinema japonês, comenta as pérolas indies do ano passado, no meio de toda esta pesada massa de filmes comerciais. Sua lista contém os 10 melhores filmes indies no Japão, leia aqui aqui e comente.
  Francesca Azzi    quarta-feira, fevereiro 20, 2008    0 comentários
 
 



Tropa de Elite influencia brincadeiras de meninos

O que poderia ser apenas mais uma headline de algum jornal por aí é, na verdade, um fato constatado na minha casa. O filme "Tropa de Elite" criou uma empatia entre as crianças de tal maneira que a brincadeira predileta agora é se vestir improvisadamente de Bope (com coletes de couro preto, espadas fingindo ser cacetetes, gorros e bonés tipo quepe) e fingir ser o Capitão Nascimento. Meu filho de 11 anos, que ainda não viu o filme na íntegra, mas que já teve acesso a cenas pelo YouTube, sabe as falas e repete as máximas "pede pra sair" e outras pérolas como "quem manda nesta porra sou eu", etc. Agora que o filme ganhou Berlim ( que fato mais inesperado, será que sem legendas o filme é melhor?), os meninos ontem estavam inspirados e com uma câmera de celular a brincadeira ficou mais fidedigna ao original. Ele filmou seus amigos fazendo a perseguição do Capitão Nascimento ao que eles chamaram de "fogueteiro" (o traficante que avisa aos demais). Num plano-sequência a perseguição filmada tem momentos de tensão quando então o fugitivo sobe ao 15o andar do prédio. Logo meu filho deve postar o filminho dele que ele está chamando de "Tropa de Elite 2!!!!" no youtube pros amigos verem...( e pensar que o filme brasileiro dele preferido já foi "O Homem que Copiava", dá até tristeza) e assim os amigos poderão rir também da brincadeira.

Quem na infância não gostava de brincar de polícia e ladrão? E quem até hoje não gosta de filmes policiais não é? Hoje decidimos deixá-lo assistir ao filme na íntegra, (coisa que a maioria dos pais já fez!), mas para quem sabe ele entender o que diz o rap do morro do dendê que ele canta sem parar, e quem sabe desistir da brincadeira de Capitão Nascimento. Tomara que seu olhar crítico possa ir além do entretenimento que supostamente o filme como ficção-diversão-brincadeira oferece.

Fiquei pensando porque "Tropa de Elite" gerou esta simpatia instântanea popular e com as crianças...? E vendo bem por um outro lado talvez seja isto, seja este fato de tratar a violência de forma tão estilizada e com requintes, que se torna mesmo um filme infanto-juvenil como qualquer outro filme comercial americano (que aliás Berlim parece estar acolhendo com força). Tente ver Tropa de Elite com os olhos de um garoto de 12 anos que não vive na favela, que é constantemente bombardeado por notícias sobre violência urbana do Rio e de São Paulo, para quem tudo aquilo parece ameaçador mas ao mesmo tempo atraente. O Capitão Nascimento pode ser um héroi dos quadrinhos Marvel, com seu lado sombrio e ameaçador que manisfesta sua perversão, e que talvez não fique tão longe assim de um Batman... um Rambo ou um Charles Bronson. Homens e meninos adoram esta coisa de soldado e capitão, entre uma ordem e outra, a fantasia rola solta.

Quando Padilha diz que os críticos não entenderam seu filme, acho que de certa maneira ele tem razão. Ele como documentarista ( gerou uma expectativa), fez um filme baseado numa realidade que para nós, críticos, é urgente, é real demais para ser fantasiosa. E se levamos o filme muito a sério não conseguimos vivenciar aquilo que ele tem simplesmente de ficcional. Este prêmio deve servir como um tapa de luvas a todos nós que detestamos este filme mas ao mesmo tempo sabemos que talvez um júri estrangeiro possa ter observado esta ficção/realidade como algo extremamente exótico. Numa espécie de prêmio paternalista à diversão esquizofrênica gerada pela violência no Brasil.

Mas enfim, o que interessa é que se o Capitão Nascimento virar uma série de TV vai ser um grande sucesso entre as crianças e Wagner Moura vai ser mais badalado do que a Xuxa. Daria até um parque temático do Tropa com várias brincadeiras divertidas e na lojinha poderiam vender aquele gorro do Padilha, com o qual ele recebeu o prêmio, seria sem dúvida vendido as dúzias!

** Na foto acima o boneco do Capitão Nascimento que eu desconhecia, será que tem a linha completa? Quem será que está fabricando?
  Francesca Azzi    domingo, fevereiro 17, 2008    10 comentários
 
 
Manifesto Nueva Sangre procura estimular o cinema de gênero latino

No VIII Festival de Cine Latinoamericano de Caverna Benavides, três cineastas chilenos, expoentes da crescente produção de cinema de gênero na América do Sul, expuseram seu Manifesto Nueva Sangre ao público, no intuito de estabelecer um método de trabalho que ajudará jovens diretores a realizarem seus filmes de Cinema Fantástico de forma rápida e barata, ao mesmo tempo em que possam ter um produto final comercializável.

O Manifesto Nueva Sangre é uma espécie de Dogma 95 voltado para o cinema de terror (vale lembrar que uma das regras do manifesto dinamarquês proibia tiros, assassinatos ou outras "ações artificiais") e, mal foi estipulado pelos talentosos Ernesto Díaz Espinoza ("Kiltro" e "Mirageman"), Jorge Olguín ("Sangre Eterna") e Miguel Ángel Vidaurre ("Oscuro/Illuminado", "Corazón Secreto" e diretor da Escuela de Cine de Chile) e já está sendo alvo de represálias em seu país natal. As regras que validam o seu filme para ser diplomado um autêntico Nueva Sangre são:
1) Os filmes devem ser feitos sem roteiro, apenas um guia visual e uma sinopse de três páginas.

2) Os filmes devem pertencer ao gênero de Horror ou de Cinema Fantástico.

3) O fato fantástico não pode ser explicado racionalmente.

4) Os filmes devem ser realizados num máximo de 20 dias.

5) O número máximo de membros da equipe de filmagem não pode passar de 10.

6) Os filmes devem incluir um mínimo de cinco mortes explícitas e uma delas deve ocorrer dentro dos três primeiros minutos do filme.

7) Você não pode usar mais do que três refletores para iluminar a cena.

8) O filme deve durar entre 70 e 90 minutos.

9) Os filmes devem ser filmados no formato digital e nunca serem kinescopados para 35mm.

10) A trilha-sonora deve incluir uma canção de músicos chilenos.

11) A pós-produção deve estar ao nível para a distribuição de DVDs, ou seja, som 5.1, etc.

12) O filme deve ser exibido em algum festival de cinema.
13) O filme deve incluir alguma forma de tributo a algum mestre do cinema de horror.


Algumas regras causam desconfiança: a rigidez formal das regras do Dogma, por mais sufocantes que fossem (e esse era o curioso; como lidar criativamente com tantas obstruções) jamais faziam restrições no próprio roteiro, ao que o Nueva Sangre me incomoda com as regras do "assassinato obrigatório em 3 minutos", "nunca explicar racionalmente a ameaça" e "pagar tributo a algum mestre do terror" (que pode sinceramente transformar os filmes num "Onde Está Wally?"). Todas as outras regras que restringem os aspectos da produção, no entanto, me deixam muito curioso para ver os resultados (uma vez que o cinema de terror e fantástico costuma ser dispendioso em efeitos, pelo menos), enquanto outras são bem intencionadas (a promoção de bandas chilenas e as exigências de pós-produção), servem para criar uma alfândega que separe os candidatos honestos dos oportunistas, mas meio dispensáveis, se pararmos para pensar.

Este manifesto nem bem foi apresentado e já cria ondas no Chile. Desconfiado da empreitada, o cineasta Nicolás López ("Promedio Rojo" e do aguardado "Santos") já fez questão de espinafrá-lo num comentário irônico intitulado "Manifesto Nueva Mierda", aqui traduzido:

" -Através de nossos filmes, trataremos de fazer todo o possível para transmitir aos 'chilenitos' a maravilhosa cultura norte-americana.

- Todas nossas obras audiovisuais serão cópias de outros filmes, aplicando algumas modificações para que pareçam originais.

- Todos os planos e cenas copiados de outros filmes serão vendidos como 'homenagens' aos criadores originais de tais planos e cenas.
- Nossa missão principal será cultivar a arte de vendermos a nós mesmos para que assim vejam os nossos filmes.
- Nosso ego estará acima de todas as coisas."

Pode parecer apenas veneno irônico, mas López (que ironicamente se inspira em Kevin Smith e cujo dois filmes lidam com "superheróis") acusa perfeitamente a forma como muitos diretores canalhas podem enxergar o Nueva Sangre - como uma galinha dos ovos de ouro que lhes garantirá visibilidade fácil - e o perigo que o manifesto corre caso não haja um processo de curadoria consciente dos filmes a integrarem o movimento. Ainda assim, num país onde os realizadores sinceramente se acreditam acima de um cinema "pobre" como o fantástico apenas para regurgitarem a mesma obra auto-congratulatória disfarçada de denúncia social, é impossível posicionar-se contra um movimento que estimule o cinema do qual a América Latina justamente careça. Que existam brasileiros que abracem a iniciativa dos chilenos. Acho que devo mandar um e-mail para o Espinoza, perguntando detalhes sobre este movimento. Se bobear, eu ajudo a produzir uns dois.


  Bernardo Krivochein    sexta-feira, fevereiro 15, 2008    7 comentários
 
 



"Inequivocamente" comprovando a vitalidade do gênero, como diz Amir Labaki, 18 documentários são anunciados dentro da seleção nacional do festival É Tudo Verdade, 2008

O fest É Tudo Verdade divulgou a lista da competitiva nacional hoje e também das mostras informativas. No total, serão 30 filmes brasileiros participantes do festival. Na sua 13a edição, acontecerá entre 26 de março e 6 de abril, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Confira a lista dos competidores.

Longas e médias:

O ABORTO DOS OUTROS - Carla Gallo
DIA DOS PAIS - Julia Murat e Leonardo Bittencourt
JOÃO SALDANHA - André Siqueira, Beto Macedo
NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI – WILSON SIMONAL - Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal
PAN-CINEMA PERMANENTE - Carlos Nader
SUMIDOURO - Cris Azzi
O TEMPO E O LUGAR - Eduardo Escorel


Segundo release de divulgação do evento:

"Dentre os documentários em concurso, três retratam personalidades polêmicas que fazem parte da recente história do país. Em João Saldanha, de André Siqueira e Beto Macedo (RJ, 80’, 2007) a incursão biográfica destaca este comentarista esportivo, jornalista, militante comunista e técnico da seleção brasileira, demitido às vésperas da Copa de 1970.

O diretor Carlos Nader, que já teve seus filmes premiados e exibidos nos principais canais de TV do planeta, traz em Pan-Cinema Permanente (SP, 83’, 2007), um olhar singular sobre o poeta Waly Salomão, que acreditava que realidade é ficção, vida é teatro e tudo é cinema. Por sua vez, Ninguém sabe o duro que dei - Wilson Simonal, de Cláudio Manoel, Micael Langer, Calvito Leal (RJ, 84’, 2007), reconstitui com detalhes inéditos a ascensão e queda do mais popular cantor negro brasileiro dos anos 1960 e 70.

Os questionamentos contemporâneos são focalizados em três filmes selecionados para a Competição Brasileira de longas e médias-metragens. O Tempo e o Lugar, de Eduardo Escorel (RJ, 97’, 2008), conta a história de Genivaldo, agricultor familiar da região semi-árida de Alagoas, que se tornou dirigente do MST e militante do PT. Já O Aborto dos Outros, de Carla Gallo (SP, 72’, 2007), mostra a discussão sobre o aborto por meio da investigação dos casos permitidos pela lei brasileira, colocando a maternidade em situação limite. Por sua vez, o processo de migração de duas comunidades que foram alagadas pela construção da Usina Hidrelétrica de Irapé, no Vale do Jequitinhonha/MG, é o tema de Sumidouro, de Cris Azzi (MG, 72’, 2008).

Dia dos Pais, de Julia Murat e Leonardo Bittencourt (RJ, 73’, 2007), faz uma viagem pelo cotidiano de cinco cidades da antiga região do café. A busca por conhecer o Vale do Paraíba se mistura com a busca pela identidade da família da diretora. O filme foi também selecionado para a mostra competitiva internacional do Cinema du Réel de 2008, um dos principais eventos europeus dedicados ao documentário."


Curtas na competição:

BEIJO NA BOCA MALDITA - Yanko del Pino
CLARITA - Thereza Jessouroun
DOSSIÊ RÊ BORDOSA - Cesar Cabral
IVY KATU - TERRA SAGRADA - Eduardo Duwe
MAR DE DENTRO - Paschoal Samora
O MENINO E O BUMBA - Patrícia Cornils
OCIDENTE - Leonardo Sette
REMO USAI – UM MÚSICO PARA O CINEMA - Bernardo Uzeda
SOLIDÃO PÚBLICA - Daniel Aragão
SOLITÁRIO ANÔNIMO - Debora Diniz
TARABATARA - Julia Zakia

Além disso algumas mostras informativas como VIDAS BRASILEIRAS (retratos de personalidades nacionais agrupados numa sessão específica) apresenta:

Errante Navegante – de Fernando Andrade (Brasil – SP, 68', cor, 2008)
Uma viagem intimista com Caetano Veloso pelo mundo afora, comentada por participações de David Byrne, Michelangelo Antonioni e Pedro Almodóvar, entre outros.

A Paixão segundo Callado – de José Joffily (Brasil-RJ, 57', cor, 2008) -
Um dos principais escritores e jornalistas brasileiros da segunda metade do século 20, Antonio Callado (1917-1997), autor de clássicos como “Quarup”, pela lente de um dos mais importantes cineastas brasileiros. Entre os entrevistados, Ana Arruda Callado, Carlos Heitor Cony, Fernanda Montenegro, Ferreira Gullar, Moacyr Werneck de Castro e Villas Boas Corrêa.

Paulo Gracindo - O Bem Amado – de Gracindo Jr. (Brasil – RJ, 84', cor, 2008)
Dois grandes atores, pai e filho. Em sua estréia como documentarista, Gracindo Jr. celebra a vida e a obra de Paulo Gracindo (1911-1995): ator, apresentador, locutor, compositor, redator, humorista, produtor, poeta. Uma viagem pela vida cultural brasileira, da era do rádio ao auge da televisão, do teatro moderno ao Cinema Novo.

Procura-se – de Rica Sato (Brasil – SP, 43'10, cor, 2008)
Um retrato de um nome esquecido da música brasileira de vanguarda do final dos anos 60 e começo dos 70, Mário Rocha. Entre os entrevistados, a cantora Wanderléa e o crítico Carlos Calado.

Waldick Sempre no meu Coração – de Patrícia Pillar (Brasil-RJ, 58', cor, 2008) - Em sua estréia na direção, a premiada atriz retrata um dos ícones da música romântica brasileira, sob a ótica das mulheres que o amam e amaram.

e mais...MOSTRAS INFORMATIVAS

De braços abertos - de Bel Noronha (Brasil-RJ, 54’, cor, 2008) – Verdades e mitos em torno da construção do Cristo Redentor, eleito no ano passado como uma das dez novas maravilhas do planeta.

Entre a luz e a sombra – de Luciana Burlamarqui (Brasil-SP, 157, cor, 2007) – Uma atriz tornada voluntária social, uma dupla de rappers de sucesso formada por detentos do Carandiru, um juiz ainda iluminista. Sete anos de encontros e desencontros em torno do sistema carcerário de São Paulo, na aurora do século 21.

Moro na Tiradentes - de Henri Gervaiseau e Cláudia Mesquita (Brasil-SP, 54’, cor, 2008) – Um mergulho no bairro paulistano de Cidade Tiradentes, para além dos estigmas de desamparo e violência.

Quilombo: Do Campo Grande ao Martins –de Flávio Frederico (Brasil-SP, 49’, cor, 2008) – O terceiro episódio da trilogia em torno da Serra da Mantiqueira do diretor de “Serra” e “Caparaó”. Nem só de Palmares vive a história dos quilombos brasileiros.

O último kuarup branco – Bhig Villas-Boas (Brasil-SC, 72’, cor, 2008) – Memórias, lendas e histórias indígenas sobre o estabelecimento por Orlando e Cláudio Villas-Boas do Parque Nacional do Xingu, em 1961.


O ESTADO DAS COISAS

DE BRAÇOS ABERTOS - Bel Noronha
ENTRE A LUZ E A SOMBRA - Luciana Burlamaqui
MORO NA TIRADENTES - Henri Arraes Gervaiseau, Claudia Mesquita
QUILOMBO, DO CAMPO GRADE AOS MARTINS - Flavio Frederico
O ÚLTIMO KUARUP BRANCO - Bhig Villas Bôas
CARTA A RATZINGER - Moara Rossetto Passoni (curta)

FOCO LATINO-AMERICANO

PACHAMAMA - Erik Rocha
  Francesca Azzi    terça-feira, fevereiro 12, 2008    0 comentários
 
 


Com o nome de MOVIEMOBZ, nova empresa pretende exibir filmes ao gosto do freguês, 'on demand' mas compartilhado nos cinemas

Foi anunciada no fim de janeiro, e inclusive saiu na imprensa online, a nova empreitada dos empresários Marco Aurélio Marcondes (Ex-Europa Filmes) e os donos da Rain Digital, José Eduardo Ferrão e Fábio Lima. Mas na verdade ainda não ficou muito claro como funcionará a MOVIEMOBZ.

A idéia é que o consumidor escolha contéudos inéditos através do conceito de filme "on demand" ( que na Internet significa simplesmente a escolha de um conteúdo que o usuário opta por baixar e assistir no seu PC, geralmente sozinho). Já a nova empresa, MOVIEMOBZ, atuará nas salas de cinema. Oferecerá primordialmente filmes inéditos, raros ou clássicos para seu público e solicitará as salas de cinema que exibam aquele filme quando e onde os usuários quiserem.

Esta escolha de um usuário será compartilhada com outros usuários via web, formando uma rede de comunicação e um banco de dados para a nova empresa, que através do perfil destes poderá oferecer novos conteúdos.

A idéia de fornecer filmes de escolha personalizada para um público no cinema é inédita no Brasil e se inspira na TV interativa (que já domina certos países, onde o usuário pode escolher quando e o que assistir) e, claro, na Internet, sem a qual seria quase impossível angariar espectadores para esta comunidade, ou "mob".

Eles prometem em sua divulgação: "A MOVIEMOBZ permite ao usuário conectar-se com pessoas que compartilham interesses em comum por filmes e desejam compartilhar sessões de cinema on-demand juntos. Podendo escolher desde filmes alternativos a clássicos, o usuário agenda as suas próprias exibições. Ao invés de distribuidores definirem a programação das salas de cinema, o público poderá ter voz neste processo, dizendo o que quer assistir, quando e onde. Todos podem ter acesso ao conteúdo de qualidade disponível no mundo inteiro, disponibilizado de acordo com gostos pessoais em uma escala nunca antes atingida."

Os serviços fornecidos pela web serão: - acervo de cinema digital, com títulos de arte, alternativos a clássicos e raridades; - informação gerada pelo público (wiki) e resenhas de filmes; - criação de Cine-clubes pela comunidade; - venda de ingressos online;- perfis pessoais.

As promessas são muitas e não páram por aí. Com esse produto, o público poderá:
- Assistir a filmes de festivais internacionais renomados;
- Ter acesso a filmes que não foram comercialmente lançados;
- Aproveitar diferentes estilos de filmes e gêneros ao redor do mundo.

A idéia é boa e resolveria uma parte da "fome" por conteúdos que não chegam ao Brasil. Ficam as dúvidas: como irá funcionar e se as comunidades e espectadores interessados terão alguma afinidade com o cinema independente. Será que alguém escolherá o mesmo filme que você e tornará sua sessão possível?

O fato é que há uma certa "causalidade" em ser um espectador que vai ao cinema nos horários dados, e nos filmes oferecidos. Será que este espectador está a fim de fazer tantas escolhas, mais do que as habituais? Além disso será que o número de espectadores será suficiente para cobrir os gastos de compra de direitos, tradução, exibição e marketing ? Com certeza, um empreendimento como este deve ter se cercado de muitas pesquisas para definir seu conceito de "on demand" e seu público. Aguardamos ansiosos pelos filmes (observe-se que apenas onde houver salas com o sistema da Rain Digital)


**Ah! E se você ficou curioso para entender o que quer dizer o nome, eles explicam que "a escolha de MOVIEMOBZ foi inspirada no recente fenômeno social provocado pelo rápido desenvolvimento de novas tecnologias e da expansão do acesso a elas: o “smart mob”, ou “turma inteligente”. Trata-se de um grupo que se relaciona de forma perspicaz e eficiente, por conta do crescimento exponencial de redes que permitem conexões com outras pessoas. Da decorrente troca de informações, o fenômeno cria, assim, uma forma de organização social." Traduzindo em bom internetês, mob é quase o mesmo que "comunidade online"
  Francesca Azzi    segunda-feira, fevereiro 11, 2008    3 comentários
 
 
Pretensioso, moi? (Post de discussão sobre "Onde os Fracos Não Têm Vez)

Torture Porn

Existem comentários espalhados por diversos posts convidando-me a discutir sobre a resenha escrita sobre "No Country For Old Men". Neste post, pretendemos concentrá-las e ampliar a discussão.

Alienante. Se eu posso resumir o efeito da resenha que fiz para o último filme dos irmãos Coen através dos comentários em uma palavra, seria essa. O pior de tudo é que o texto demorou quase três semanas para ser concluído, pois eu precisava me assegurar de que nada o que eu tinha refletido sobre o filme ficaria de fora (e enquantao nada realmente ficou de fora, algumas coisas não ficaram expressas da maneira que eu esperava). Daí a frustração de escutar - duas vezes! - que eu estava "desaprovando" o filme por princípios de contrariedade (como se cumprindo a citação de Matt Singer escrita no texto, que os comentaristas inclusive fazem questão de reproduzir).

Acho que a alienação parte mais do fato das pessoas desejarem discutir o filme mais a fundo e não terem um espaço para ventilar esse desejo (ou assim eu acredito). Não creio que será possível fazê-lo para cada filme que escrever (e nem eu terei a energia para escrever sobre o mesmo filme duas vezes na semana, em dois sites), mas é carnaval, e como vou começar a adiantar os textos por aqui (enchi a burra de filmes neste feriado, cumpri algumas pendências e saciei o desejo de ver outros há muito aguardados, para minha satisfação), optei por estender a reflexão em cima de "Onde os Fracos Não Têm Vez". Os comentários que encontrei espalhados aqui no blog reproduzo abaixo:

"O que foi este texo sobre Onde os Fracos não tem Vez na Zeta Filmes?
Isto tá parecendo mágoa de crítico que viu o filme tarde de mais. "Ah todo mundo já viu, todo mundo ta comentando, esse não fui eu que descobri, sem graça, vou falar mal". É porque o filme ficou pop? É que nem a música Young Folks, que não entrou nas listas de melhores do ano porque virou famosa? [nota: não, é porque aquela música era insuportável e não passava de um "Love Generation"-música-do-assobio para indie descoordenado] Então também vai excluír o filme por estar com sucesso, como a indicação no Oscar? O texto inteiro fala mais sobre como estão falando de mais sobre o filme do que de fato sobre o maldito filme! Compreensível, afinal todos estes anos coisas como o Oscar vem tentando nos empurrar que Titanic, Crash, Os Infiltrados, etc são os melhores do ano que fica difícil de acreditar quando um filme realmente bom é indicado. Eu nem consigo compreender como as pessoas gostaram de Onde os Fracos não tem Vez, é o tipo de filme que era pra todo mundo estar odiando. Ao contário da conclusão do texto lá na Zeta, que diz (Gostar de "No Country For Old Me" é reconhecer o seu fracasso. Ao contrário do que seus fãs ardorosos acreditam, seus elogios prejudicam e diminuem o filme) eu acredito que as pessoas estarem gostando de um filme como este dá até mais esperança na humanidade. Ironicamente, em um filme que prevê o apocalipse." Filipe, no post sobre Persépolis.

Eu acabei respondendo:

"A reclamação é válida: eu realmente estou analisando o filme através de sua recepção escandalosa. Eu não diria que é amargor de não descobrir o filme antes, mas acredito sinceramente que tê-lo descoberto agora, após tudo já ter sido dito e escrito (minha e sua condição de espectadores latinos que precisam aguardar longos períodos para ver um filme) nos dá a uma perspectiva mais vantajosa sobre o todo: você pode contrariar tudo o que já foi dito apenas de implicância - que é como você me acusa - ou simplesmente ser assertivo com os elogios inflamados para poder pertencer ao senso comum - como eu acredito os espectadores brasileiros que abraçam cegamente ao filme nesta sua chegada aos cinemas.

Adoro como o último trecho de seu comentário (" as pessoas estarem gostando de um filme como este dá até mais esperança na humanidade. Ironicamente, em um filme que prevê o apocalipse") ilustra EXATAMENTE o que eu quis dizer com:

"Existe um desejo de se conferir gravidade à análise resignada do mundo como se o filme ansiasse por sincronizar-se com a importância que o espectador mais pretensioso exige de seus filmes"

Que as pessoas, que você acusa de tenderem ao mau gosto, gostam de um filme que "prevê o apocalipse" não é ironia: "No Country..." simplesmente está SINCRONIZADO ao pessimismo geral e a resignação do grande público em não fazer porra nenhuma, apenas observar o circo pegar fogo, lastimando a tragédia. É um mero "crowdpleaser" por vias da negatividade fashion. Me diga se isso - gostar de um filme assim - é algo para afirmar a crença na humanidade.

Abraços."

E no post sobre "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias", tem mais esse:

"Bernardo...não entendi sua crítica sobre "No Country for Old Men"!!!Você fala que "várias cenas são iguais a X que eu vi no Gosto de Sangue" mas isto acontece com vários bons diretores...(Allen e outros). O que você acha de Dead Man do Jarmusch?? É muito parecido com "No Country"... Realmente vc quis ser muito pela contrariedade!! Não sei ..mas qual o problema de todo mundo gosta de Pulp Fiction???É bom...qual o mal..." - Fausto Carva.

O que me dá satisfação é notar que não tem ninguém jogando cocô na minha cabeça por ter dito que o filme era ruim - o que eu sinceramente não acho. Primeiro: quem sou eu para dizer que um filme é bom ou ruim? Um filme é um filme e eles sempre dispensam uma carga enorme de trabalho, dedicação e pessoal, ninguém está nessa posição de desmerecer toda uma produção, apenas expressar desgosto ou decepção com os resultados finais. Acho sim "Onde os Fracos Não Têm Vez" um bom filme, aliás, um filme magistralmente arquitetado, onde é quase possível ver a geometria da produção desenhada no ar: as linhas de todos os departamentos se convergindo para o centro daquele plano ideal, indispensável, precisamente enquadrado. Quando falo isso no texto, estou louvando esta capacidade dos Coen de precisar (no sentido de ser preciso) sua câmera no ângulo impossivelmente ideal.

Mas, para mim, "Onde os Fracos Não Têm Vez" nunca foi além desse bom e certamente não chegou nas alturas prometidas por tantos outros. Se sou vítima do hype, que seja: Deus sabe lá quantos filmes eu também não inflei de elogios e antecipação para os outros, então isso é só meu karma. É estranho, portanto, ler que eu estou sendo contrário de implicância, como se o texto do site tivesse só dois parágrafos curtos e uma cotação de jornal. O esforço não foi para diagnosticar minha decepção com o filme, mas sim fazer todas aquelas reflexões genuinamente decepcionadas (não estou fabricando celeuma artificialmente, isso eu garanto) se articularem entre si. O filme, tal como a última cena de Tommy Lee Jones perfeitamente ilustra, me parece aquelas reminiscências amarguradas de velho reclamando como o mundo está perdido e no tempo dele era muito melhor, "quando se podia comprar uma garrafa de Coca-Cola com 10 centavos". Aí o velho resolve que vai te encher a paciência com aquelas histórias de guerra e de seus tempos de glória, aquelas anedotas de família, e você quer ser educado, mas quer fazer outra coisa mais interessante da vida (tipo, ver tinta secar ou engolir um punhado de alfinetes), e então ele larga aquele termo racista do nada e, sendo o sujeito o seu avô, você fica envergonhado, mas não pode falar nada, por respeito aos velhos.

"Onde os Fracos Não Têm Vez" é um velho dizendo: "esta geração está perdida." Esta falta de valores que o filme se queixa de estarmos sofrendo está não apenas ligada ao dinheiro, à violência: há um subtexto de intolerância racial, religiosa e cultural, uma queixa sobre os efeitos negativos dos EUA terem um dia sequer aberto as portas para qualquer elemento não-americano na sociedade, um discurso conservador típico. Lembremos que toda a desgraça do filme começa na mãos de traficantes... mexicanos.

Talvez isto até explique porque eu me assutei um pouco com o final do último comentário, que pergunta qual o problema de todo mundo gostar de "Pulp Fiction". Não há problema nenhum em gostar genuinamente de alguma coisa, mas convenhamos que é bem mais fácil concordar com o gosto comum do que assumir gostar de algo amplamente detestado (e tentar fazer seu argumento ser ouvido quando todo mundo passa a te vaiar por não estar de acordo). Acusar-me de estar sendo puramente contrário é como dizer: é impossível você não ter apreciado o filme porque todo mundo deve apreciá-lo. E de repente eu me sinto no meio da mesa de "Freaks" com todos os deformados gritando "One of us! One of us!". Mas já fiquei sabendo de espectadores saindo um bocado desapontados com o filme nos cinemas, o que me é um pouco reconfortante (ainda que eu ache que deva ser uma reação meramente finalcêntrica). Falo que "No Country..." é igual em cenas a "Gosto de Sangue" apenas para ligar o fato que, assim como "Gosto de Sangue" virou motivo de ressaca crítica (como descrito no começo do texto), talvez "No Country..." também venha a sê-lo e que precisamos ser cautelosos na maneira que decidimos apreciá-lo hoje, para não termos nem arrependimento moral e nem elogios vazios no futuro.

  Bernardo Krivochein    terça-feira, fevereiro 05, 2008    8 comentários
 
 
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