blogINDIE 2006


Uma foto, um filme




Retrospectiva do fotógrafo Jeff Wall ocupando 10 salas do MOMA em Nova York até dia 14 de maio. Wall nasceu no Canadá ( Vancouver) e tem hoje 61 anos. Suas fotografias são verdadeiros filmes de um fotograma só, com esta sensação de ações sobrepostas e movimento e como diz a crítica Roberta Smith; " Ele combina a imobilidade e o artifício da pintura com a luz e o calor do filme; o estranho imediatismo do teatro com a escorregadia impersonalidade da publicidade. As pessoas estão mais próximas de uma "meia-vida", então, às vezes parece que vamos entrar nestas paisagens e interiores não naturais onde elas habitam." Confira mais no moma.org e clique na imagem para vê-la maior.
  Francesca Azzi    terça-feira, fevereiro 27, 2007    5 comentários
 
 


Quando crescer vou assistir ao Oscar

Ontem, domingo, calor, chuva e a noite todos na expectativa do Oscar. Meu filho antes de "ter que ir pra cama" disse: "quando crescer vou assistir ao Oscar até o final". Fiquei pensando nesta frase e neste siginificado do Oscar. Claro que há esta curiosidade, queremos ver o glamour, as celebridades. A mesma sensação temos ao ler uma revista de fofocas, ver todos os vestidos, todos os cabelos, saber quem está no Red Carpet, quem não foi, especular quem envelheceu, quem rejuvenesceu, quem está vestindo quem. Um mundo muito superficial e de pura diversão que não consome nem dois neurônios do seu cérebro, uma sensação próxima a de assistir uma série de TV. Um espetáculo-jogo de vaidades no qual nós somos meros espectadores, interessados superficialmente, meros consumidores. Mas o que mais me impressiona no Oscar, ou na sua transmissão, é como os comentaristas, e até mesmo críticos e interessados em cinema, levam a sério a premiação, o tom monumental de Rubens Ewald Filho, dono de citações memoráveis, que se coloca íntimo de tudo e de todos do mundinho hollywoodiano, estando ali no estúdio da TNT em SP! E ainda, vestidos a caráter, ele com seu pancake clássico e tuxedo (!), e a repórter com um modelito de mal gosto, como se estivessem lá, o que convenhamos ... ( Me pergunto já que Rubens curte tanto esta coisa de celebridades do cinema, porque não vai lá e não se mete no Red Carpet e não apresenta ao vivo!?). Pior ainda na Globo, a voz meio grave e comovida de José Wilker ( ele é um ótimo ator, sim), que leva tão a sério o Oscar a ponto de criticar filmes como "Dream Girls" e torcer para filmes como "Pequena Miss Sunshine" como se isto significasse pontos divergentes, fazendo análises medíocres dos filmes e diretores. Este ano foi duro e o espetáculo foi arrastado e desinteressante. Não há mais protestos ( todos banidos) e até filmes independentes já fazem parte da premiação... que falta de graça. O Oscar a tudo consome.

O Oscar não nos diz respeito. Esta verdade dói muito porque todos nós queremos fazer parte deste mundo do entretenimento. Veja lá este ano os mexicanos, (arrasaram?), com seu world movie "Babel" ou com o incredibile "Labirinto do Fauno", todos como se estivessem agora fazendo parte da grande nação-América."Entramos pela porta da frente desta vez"... E como brincou Ellen DeGeneres ( aliás tão certa no seu tom cômico/sem graça num certo déja vu debochado, sem constrangimentos excessivos, como manda o Oscar): "onde estão os americanos, eles são aqueles que preenchem os lugares quando ficam vazios?". E apesar de ter falado que Penélope Cruz é mexicana foi tão gentil e cuidadosa ( "o cinema não existiria se não fossem os gays e os negros"). Assim como foi gentil Clint Eastwood (que elegância, que fleuma!) ao traduzir o discurso do italiano Ennio Morricone, ou ao fazer "Cartas de Iwo Jima" em japonês. Porque a América é assim tão plural... mas o Oscar... Tudo no Oscar é diluído nas aparências, e hoje a boa política de mercado é esta.

O Oscar é uma longa sessão no salão de beleza, um mar de fofocas e depois você ainda pode ver todos os modelitos na internet (oba!), no E!, na Caras (irq, oh revista chata!). Mas não me venha falar de cinema, o cinema ali é mero detalhe. Não leve tão a sério o Oscar.
  Francesca Azzi    segunda-feira, fevereiro 26, 2007    3 comentários
 
 


Dias de Agosto na Catalunia

"Dias de Agosto" (Dies d´Agost) filme espanhol do diretor Marc Recha, que foi lançado nos cinemas na França em janeiro, pode ser comprado no pay-per-view da Net, aqui em São Paulo. Incrível esta opção do pay-per-view ( será que o cara que compra os filmes da Net sabe o que está comprando ou compra assim por acaso, pelo preço e condições?) mas enfim, quem sai lucrando somos nós.

"Dias de Agosto" é um filme bem independente, uma espécie de documentário no qual Recha de maneira mais do que reflexiva viaja com seu irmão gêmeo (David Recha) pela Catalunia (em port: Catalunha). O filme é uma homenagem ao jornalista catalão Ramon Barnils - um ativista que não queria deixar que a "Batalla del Ebro" caisse no esquecimento, uma Guerra Civil entre nacionalistas e republicanos na qual morreram mais de 30.000 pessoas nos anos 30. Mas nada disto é abordado pelo filme, não desta maneira, na verdade Recha utiliza deste argumento como mote para uma viagem na maravilhosa paisagem do sul da Espanha. A sinopse: o jornalista Marc está neste projeto sobre Ramon há meses, em busca de informações para sua história, mas um tanto frustrado chama o irmão para umas férias. Nestas andanças por terras catalãs, o encontro entre certos lugares, personagens (um peixe com bigodes de gato), memórias culturais e de muitas fotografias históricas. O silêncio é estupendo.

"Dias de Agosto" mostra mesmo lugares incríveis e quer ser um "filme-viagem" - coisas encontradas a esmo e a própria experiência de viajar irão mudar a essência de cada um que viaja. Mas como um pseudo-documentário, no qual os protagonistas são os próprios atores, peca um pouco pela falta de articulação entre os fatos narrados e as imagens. Os personagens ficam tão distantes que você não consegue alcançar. Compreendo a opção, mas o tempo é preenchido por uma voz feminina que narra os sentimentos, as idéias e as intenções de Marc e David, não há a ação em si, apenas a narração, e para preencher todo este vazio entre estas linhas que separam o que se escuta e o que se imagina, imagens da paisagem, da história de Ramon e do "dolce far niente" dos irmãos num sol escaldante de agosto. O filme é uma proposta completamente diferente do que seria um documentário ou um filme de ficção tradiconal, porque cria uma lógica temporal quase audio visual ( assim mesmo em separado) e por isso mesmo talvez tenha participado de tantos festivais em 2006 ( Selecionado para Locarno e Toronto) e tenha sido lançado nos cinemas na Europa. Alguma experiência, no mínimo. Compre!

Website oficial Dias de Agosto
  Francesca Azzi    sexta-feira, fevereiro 23, 2007    0 comentários
 
 


Um cinema de homens

Se eu falasse aqui que John Cassavetes, o super cultuado diretor e ator americano considerado o precursor do cinema independente norte-americano, era machista, talvez eu estivesse com alguma razão mas talvez eu estivesse sendo um tanto injusta. Nos anos 60 e 70, a sociedade era machista, e como Cassavetes retratava os conflitos interpessoais da classe média americana, criticava a hipocrisia e a falta de comunicação na relação homem-mulher. Mas tudo isso com uma mão bem firme.

Falo especialmente de "Faces" e "Noite de Estréia" que assisti numa Mostra do CineSesc-Sp esta semana. Os cinco filmes são da coleção de Filmes do Estação, as cópias estão bem gastas e com legendas em português de Portugal, mas valem muito a pena, ver em cinema (35mm) a obra deste que foi um dos primeiros a executar uma produção fora dos grande estúdios, com atores jovens, buscando revelações, inaugurando, de certa maneira, o termo independente como conhecemos hoje - filmes densos produzidos intencionando um mercado de distribuição (o que é bem diferente de um cinema experimental que não visa "necessariamente" um mercado).

"Noite de Estréia" é de 1977. A história é tão forte e interessante que você nem pisca e se afunda no dilema de uma atriz de teatro Myrtle Gordon (Gena Rowlands), cheia de conflitos pessoais, que está estreando a peça " A segunda Mulher" que trata de um tema que aflige todas as mulheres: o envelhecimento. Myrthe se recusa assim a compartilhar o dilema da sua personagem, como se isto tocasse a sua própria decadência. Ela tem alucinações, e se sente perseguida violentamente por uma jovem fã de 18 anos, morta, atropelada na porta do teatro numa noite de muita chuva e assédio dos fãs.( Daí Almodovar se inspirou com certeza para o ínicio de "Tudo Sobre Minha Mãe").

Bebendo e fumando todas, segue sem saber seu destino como atriz em Nova York, começa a mudar as falas da personagem e se comporta de maneira estranha no palco, enlouquecendo o diretor (Ben Gazarra) e a autora da peça (a assustadora, Joan Blondell com 65 anos). Mas o mais interessante ali, a relação homem-mulher, enfatizada pela permissividade na qual produtor, diretor e ator convivem com a protagonista, uma diva bajulada por todos mas impressionantemente egóica e frágil. Na "Opening Night"ou noite de estréia, última e inesquecível parte do filme, Gordon irá estrear alcoolizada, sem condições de ficar em pé.

Os homens de Cassavetes são tão duros quanto imaturos, e isto ainda é a nossa realidade. Ele, que faz o ator par da personagem na peça e ex-da atriz do filme e par de Rowlands na vida real, está irresistível e jovial. Pensar que ele só atuou e filmou até 1985 e que morreu tão prematuramente em 89... Incrível como se vivia com uma certa pulsão de morte, escrita nesta margem que a vida acontecia. Os homens tinham que ser homens e fumar e beber parecia fazer parte desta masculinidade.

Em "Faces"(1968) isto fica muito claro. Apesar do filme ser um tanto histérico ( muitos diálogos, gargalhadas excessivas, gritos) predomina uma visão masculina da realidade. Desta vez Gena Rowlands é Jeannie, a amante que representa a solução para a desilusão dos homens diante da já obsoleta instituição do casamento. Como estes homens não querem perder um certo "status quo", adquirido com o trabalho e garantias do casamento numa sociedade extremamente careta, a solução parece ser: institucionalizar também a amante.

As mulheres tem um papel fundamental em "Faces", a mulher de Richard Forst (John Marley), Maria ( Lynn Carlin, um rosto incrível) resolve levar as amigas para viver uma noite depois que Rick lhe dá a notícia do divórcio. Ela e Richard tem um relacionamento sem filhos e sem muito sexo, talvez a justificativa para que ele procure a irresistível Jeannie. Mas a parte o desenrolar da narrativa, impressiona muito os diálogos entre homens e mulheres e seus papéis. Como os homens tinham que ser engraçados e espirituosos (sempre contando piadas e dando gargalhadas) e como as mulheres estavam subjulgadas a um papel coadjuvante, não são donas de seu próprio nariz, leia-se, desejo. Mas com o diferencial de que já sabiam disto. Já se sentiam excluídas do mundo masculino e estavam insatisfeitas.(Quando Maria fala que quer que Richard a leve para ver um filme do Bergman, ele diz não estar afim de se aborrecer aquela noite e critica o fato de que ela, ao invés de dormir com ele, quer ir ao cinema. Ela reforça que está entediada).

Cassavetes trata todos estes temas de maneira desafiadora, mostrando que a sociedade estava ali vivendo na ponta do abismo. Uma arqueologia do comportamento, numa visão masculina. A impressão que se tem é que algumas discussões tão debatidas por Rowlands e Cassavetes deveriam se repetir em casa, desta vez, de verdade. Na forma predomina um certo jeito "nouvelle vague" de câmeras incertas e próximas que seguem os personagens pelas belas e amplas casas dos anos 60.


*** Todos os 5 filmes exibidos foram lançados em DVD num pacote chamado John Cassavetes - Five Films que você pode comprar na Amazon.com, novo ou usado, se tiver uma boa grana sobrando.
  Francesca Azzi    sexta-feira, fevereiro 16, 2007    3 comentários
 
 


Batismo de Sangue

Escolhi um filme brasileiro pra voltar a escrever no blog, após o puxão de orelha de nossa editora. Tive a oportunidade de assitir em uma projeção fechada ao filme “Batismo de Sangue” de Helvécio Ratton. O que me levou à sessão foi um compromisso profissional e na verdade estava ali em função protocolar que devia cumprir. Estavam na sessão o diretor, Frei Beto (autor do livro que originou o filme e um dos protagonistas da história), o ator Cássio Gabus Mendes (que interpreta o delegado torturador Fleury) e outras pessoas ligadas ao cinema e à produção do filme.
Confesso que sai comovido com o filme, com a história de Frei Tito e o envolvimento dos freis dominicanos com o movimento de resistência civil à ditadura militar brasileira nos seus anos mais truculentos. O filme tem uma boa produção e Helvécio Ratton teve o cuidado de se cercar de excelentes profissionais do nosso mercado cinematográfico: ótimos figurinos e direção de arte, fotografia e montagem expressivas, um roteiro que consegue amarrar o enredo de forma criativa e bons atores – a interpretação de Cássio Gabus Mendes no papel de Fleruy é marcante. O próprio ator que estava assistindo à projeção relatou seu incômodo ao ver na tela grande a brutalidade com que ele imprimiu ao personagem o que, certamente, é uma das marcas interessantes do filme: mostrar de maneira simbólica, mas sem ser apelativa, a tragédia da tortura na vida daquelas pessoas.
Um filme em que os fatos históricos e as ações relativas a estes acontecimentos não sufocam os aspectos humanistas e mais intrínsecos aos motivos que levaram aquelas pessoas a se envolverem com a guerrilha. Obviamente, em função desta abordagem, o filme não está isento de assumir suas moralidades e visão ideológica sobre os fatos – apelando para o maniqueísmo - mas isto não afeta a integridade e honestidade com que a história é contada. Certamente Batismo de Sangue não se trasnformará em um sucesso de público: é um filme muito triste. A sua importância está, sem dúvida alguma, em ajudar a mais uma vez trazer para perto de nossa realidade contemporânea, aspectos fundamentais de nossa história recente que as vezes dão a sensação de estarem muito distantes, fatos estes que não podem ser esquecidos.
  Roberto Moreira S. Cruz    quarta-feira, fevereiro 14, 2007    0 comentários
 
 




  Max_D!    terça-feira, fevereiro 13, 2007    0 comentários
 
 



Happy song or sad song? Elliot Smith for ever!

Sabe quando uma música cola no seus ouvidos? Você acorda tem um milhão de coisas pra
fazer mas a vontade é de ficar descalço, perdido no dia, cantarolando aquela música que está soprada ali. Engraçado, falando assim até parece com um pouco de felicidade. Não é bem isto. Cancela. Rewind.

Sabe aqueles dias que você acorda com um nó no peito? Achando a vida muito mais ou menos, reavaliando seu trabalho, se perguntando milhões de perguntas sem nenhuma resposta, olhando da janela para lugar nenhum, e te vem uma música que cola com toda força em seus ouvidos? Você quer colocar esta música no repeat para sempre, até passar a sensação...

Esta música pra mim é "Between the Bars" do Elliot Smith.

Ouvi, ouvi, ouvi e fiquei assim com a sensação de que ela não responde nada, mas expressa um vazio adolescente que um adulto também pode se permitir sentir, ou não?

Elliot Smith é um dos meus indies favoritos e fui atrás de imagens dele, já que morreu tão prematuramente em 2003, aos 34 anos( uma morte muito mal explicada, atribuída a uma facada que ele se infligiu). E no You Tube, claro, como sempre tem algumas coisas como ele cantando no Oscar a música Miss Misery ( do filme "Good Will Hunting", Gus Vant Sant). Ali na apresentação do Oscar, apesar de estar elegante, Smith consagrava-se como alguém fora, outsider, o olhar para baixo, o tom, uma certeza de que as perguntas não iriam ser respondidas.

Elliot também participou de dois curtas sobre si mesmo, um com o talentoso Jem Cohen chamado "Luck Three" (1997) que em apenas 11 minutos mostra Smith tocando três músicas, entre elas "Between the Bars", e um pouco do seu silêncio, sua aparênica gentil, seu olhar calmo mas um pouco perdido, sua fala suspirada, sua timidez. O outro filme se chama "Strange Parallel" é de Steve Hanft, de 98( Não coloco os links aqui porque as imagens estão péssimas). Espero muito passá-los no Indie este ano.

Smith está associado a um mundo de drogas, introspecção e, principalmente, álcool e tudo isto não passa de química no sangue para aliviar um bocado de coisas difíceis... e talvez explique melhor seu suicídio, mas olhando assim seu rosto, sua voz, e talento, ele mais parece um anjo.

Bem, mas para quebrar o clima melancólico de Smith comecei a ver os links do You Tube ( já que o lema é Broadcast Yourself ou qual seria a melhor tradução pra isto (santo deus!!) a não ser exponha-se, super exponha-se!) no qual várias pessoas tentam tocar "Between The Bars" e acabei dando umas boas gargalhadas. Saí rapidamente do estado de pequena melancolia para uma sensação de que a tristeza não tem lugar neste mundo hiper-plugado, que chato! Bem, mas alguns são perfeitos! Aliás um concurso de covers no YTube ia ser muito legal!

Segue alguns links dos covers.

Este é muito bom, mas Emo demais,Smith não é Emo!

Este tem um vozeirão que não combina nada com a música, melhor cantar algo do Elvis!

Esta só tenho a dizer:hahahahaah!Muito bom!

Este japa toca melhor que o próprio Smith e ensina as cifras

Este é um belo cover, num concurso de covers, quase oficial!

O Original pra vc ter uma base de comparação, no filme do Jem Cohen, "Lucky Three"

E a letra pra vc cantar a plenos pulmões:

Between The Bars

Drink up, baby, stay up all night.
With the things you could do,
You won't but you might.
The potential you'll be,
That you'll never see,
The promises you'll only make.
Drink up with me now,
And forget all about
The pressure of days.
Do what I say,
And I'll make you okay,
And drive them away
The images stuck in your head:
People you've been before
That you don't want around anymore—
That push and shove and won't bend to your will.
I’ll keep them still.
Drink up, baby, look at the stars.
I'll kiss you again
Between the bars,
Where i'm seeing you there,
With your hands in the air,
Waiting to finally be caught.
Drink up one more time,
And I'll make you mine.
Keep you a part,
Deep in my heart,
Separate from the rest,
Where I like you the best,
And keep the things you forgot.
The people you've been before
That you don't want around anymore—
That push and shove and won't bend to your will.
I'll keep them still.
  Francesca Azzi    terça-feira, fevereiro 13, 2007    2 comentários
 
 


Possibilidades
Wisława Szymborska

Prefiro cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos nas margens do Warta.
Prefiro Dickens a Dostoievski.
Prefiro-me gostando dos homens em vez de estar amando a humanidade.
Prefiro ter uma agulha preparada com a linha.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não afirmar que a razão é culpada de tudo.
Prefiro as excepções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar com os médicos sobre outra coisa.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas ao ridículo de não os escrever.
No amor, prefiro os aniversários não redondos para serem comemorados cada dia.
Prefiro os moralistas, que não me prometem nada.
Prefiro a bondade esperta à bondade ingênua demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos países conquistadores.
Prefiro ter objecções.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de fada de Grimm às manchetes de jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães com o rabo não cortado.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que aqui não disse, a outras tantas não mencionadas aqui.
Prefiro os zeros à solta a tê-los numa fila junto ao algarismo.
Prefiro o tempo dos insectos ao tempo das estrelas.
Prefiro isolar.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro levar em consideração até a possibilidade do ser ter a sua razão.

(se você não entendeu o que esse poema tem a ver com esse blog, leia de novo até entender)
  Locadora do Werneck    segunda-feira, fevereiro 12, 2007    2 comentários
 
 


"Por que o filme do Super Mario Bros. é uma obra-prima subapreciada"

Artigo definitivamente antológico de Reverend Anthony para o site gamemaníaco Destructoid. Definitivamente o melhor texto da semana. Leiam e não se incomodem se eles deixam escapar que o filme tem canção-tema do Roxette.

Clique aqui para o texto mais esclarecedor dos últimos tempos.

Já estou com o desejo de fazer uma blogatona há muito tempo, então que hora mais oportuna de fazer a pergunta: qual filme VOCÊ acha uma obra-prima subapreciada? Qual pérola esquecida ou fracassada você acha que merece ser revisitada, que esconde temáticas muito mais profundas e que foram ignoradas à época de seu lançamento oficial? Já que a bodega é minha, sou obrigado a reservar os títulos "Showgirls", "Gremlins 2" e "Deu a Louca nos Monstros", três dos meus filmes favoritos e que se encaixam perfeitamente nas regras que eu mesmo estabeleci.

É assim que vai acontecer, caso dê certo: vocês publicam seus detalhados artigos em seus blogs (e espalhem para outras pessoas que se interessem, lá nesses Orkuts, MySpace, forums ou qualquer porra de moda com que os jovens estejam perdendo tempo hoje em dia) e cada um escolhe os mais interessantes para linkar em posts futuros. Claro que tô com o cagaço de ninguém estar lendo essa merda e fazer papel de babaca ao dizer "vocês" para ninguém, mas vou arriscar. Qualquer coisa a gente deleta o artigo e fica por isso mesmo.

BÔNUS: O fenômeno se repete! Justin Timberlake e Andy Samberg cantando "D*** In A Box" AO VIVO no Madison Square Garden ontem à noite.
  Bernardo Krivochein    quinta-feira, fevereiro 08, 2007    16 comentários
 
 


Ocelot em "As Aventuras de Azur e Asmar"



O diretor de Kirikou, Michel Ocelot, optou em seu último filme " As Aventuras de Azur e Asmar" por deixar grande parte dos diálogos em árabe sem tradução ao contar a história de dois garotos, um francês e um de origem árabe ( Magrebiano, talvez marroquino), criados pela mesma mulher. A africana Jenane é ao mesmo tempo mãe de Asmar e ama-de-leite de Azur. E o mais interessante é que as falas em árabe como estão, a música acalentando os bêbes, as brigas entre estes dois meninos tão distintos mas criados como irmãos, são tão compreensíveis que revelam uma fala em outro nível. Nenhuma criança na platéia, já que eu vi a versão dublada, pareceu estranhar o que estava em árabe. O árabe é uma língua fascinante, cheia de melodia e ritmo. Ocelot usa o árabe como o gancho de sedução, de algo a desvendar, tratando as crianças com inteligência e intuição.

Não me esqueço da fala da mãe de Kirikou: "uma criança que nasce sozinha, também pode se lavar sozinha" ( eu repetia tanto isto para meu filho toda vez que ele me pedia coisas que ele mesmo era capaz de alcançar), este espírito das lendas africanas, nas quais as crianças são seres independentes capazes de mudar o curso da história da humanidade é a base do trabalho de Ocelot. Com técnicas de animação tradicionais e desenhos que recuperam uma sensação primitiva, completamente diferente dos desenhos dos grandes estúdios, Ocelot, hoje com 43 anos, passa com " As Aventuras de Azur e Asmar" a usar o 3D. O desenho que às vezes parece um pouco duro nos movimentos, é de uma grande perfeição, e cada cena é construída como um quadro. E apesar dos pequenos problemas nos movimentos dos personagens, no seu desenrolar o filme é capaz de captar a atenção, a curiosidade e enfim, construir a idéia de que um mundo virtual, assim construído de uma lenda ou fantasia, pode se fazer maior que seus meios tecnológicos, ou seja muitas vezes o conteúdo supera a forma ( ou você pouco se importa se o desenho quebra com uma lógica tradicional, você mergulha assim mesmo). Mas há também momentos primorosos do próprio desenho, em que se enxerga uma complexa gama de cores vivas e detalhes tão ricos como na cidade no Magreb, construída com cores impressionantes e nos detalhes dos personagens e dos animais.

A dicotomia entre o branco e o negro, os olhos azuis e castanhos, uma Europa em tons azulados e amarelos (inspirada na pintura impressionista?), e uma África em tons berrantes e vivos ( ricamente bizantina em seus adereços), torna tudo mais perfeito. Se as duas crianças foram separadas pelo destino ( um pai autoritário e escravagista), a força da língua materna ( a lenda da Fada Djinn, contada pela Mãe Negra, carinhosa e gentil) os unirá. Azur segue em busca de sua família de coração. Atravessando os mares irá encontrar sua Babá rica com a vida feita, dona de comércio e seu irmão postiço também um homem em busca do amor. O senso de justiça e igualdade poderiam "infantilizar" demais o filme, e minha preocupação era a de que Ocelot teria feito um filme para crianças pequenas até 6 anos. Mas que nada, o sentido de aventura, a questão da conquista de lugares inimagináveis, os desafios e a procura do amor, são surpreendentes também para os quase adolescentes. E quando ao final as escolhas e as combinações são refeitas, deixam um gostinho de que vale a pena ter "a moral da história", que filmes assim nasceram de histórias emblemáticas e que mesmo com final feliz, não banalizam a inteligência do espectador nem de nenhuma criança rebelde. E como disse um dos espectadores mirins não tem nada a ver com o Big Brother, ainda bem!

(Francesca Azzi)
  INDIE    quarta-feira, fevereiro 07, 2007    1 comentários
 
 


Vai faltar filme no mundo: Itália ganha mais um festival de cinema
fonte: Yahoo! News

Eles já tem o Festival de Veneza e o recém-inaugurado RomaCinemaFest (criado justamente em protesto à comercialização do primeiro) se debatendo no calendário. Eles já tem o Festival de Taormina na Sicília. Eles já tem o Festival de Cinema de Turim, cheio de problemas operacionais, mas que continua lá, firme e forte.

Agora, os italianos ganham o Festival Internacional de Cinema de Drake, com foco em cinema independente e novas tecnologias, programado para acontecer entre 23 e 30 de junho (praticamente a mesma época de Taormina), em Nápoles. O festival tem direção de Laura Marcellino, chefe da seção de indústria e mercado cinematográfico do Festival de Veneza.

Ano passado, o diretor de Veneza chamou o Festival de Roma para a chincha, acusando a criação do concorrente como puro despeito de entojados, dizendo sem querer dizer que os filmes selecionados para o segundo eram "menores". Pelo menos, Drake parece ter um nicho específico. Tanta gente no mesmo barco, vamos ver se rola colaboração ou veneno.

Onde comem três, comem quatro: "Baixio das Bestas" é um dos ganhadores do Tiger Awards - Rotterdam '07

Tradicionalmente, são três os vencedores do prêmio Tiger Awards, louro principal do sempre vanguardista Festival de Rotterdam. A 36a. edição torna-se a primeira exceção, culpa mais uma vez de brasileiro (nem isso a gente sabe respeitar?). Nessa sexta-feira foram anunciados os ganhadores dos Tigers. Segue lista abaixo:

1° prêmio: "Love Conquers All" de Tan Chui Mui (Malásia)
2° prêmio: "The Unpolished" (Die Unerzogenen) de Pia Marais (Alemanha)
3° prêmio - empate: "Baixio das Bestas" de Cláudio Assis (Brasil) e "APR" de Morten Hartz Kapler (Alemanha)

Além de exibição televisiva garantida pela rede VPRO (patrocinadora dos prêmios), cada filme ganha um prêmio de 10.000 Euros (Assis vai ter que dividir com Kapler, tomara que não dê briga). Rotterdam sobe no telhado de uma vez nesse domingo, no qual os ganhadores dos últimos prêmios - pelos votos do público - serão revelados.

Da série "eu odeio gente com dinheiro": Fox Searchlight compra "Once"

Eu já estava de olho nele para o Indie. Quando mandei um e-mail para um conhecido gringo perguntando o que ele tinha visto de bom em Sundance, esse foi o filme que ele mencionou, um musical irlandês irresistível que muita gente duvidava que fosse conseguir distribuição. A Fox Searchlight bateu o martelo nos direitos de distribuição nos EUA de "Once" de John Carney, Glen Hansard e Marketa Irglová. Direitos internacionais pertencem a Summit Entertainment, que agora vai jogar o preço do aluguel lá em cima, não tenha dúvidas. Vamos precisar de um novo Jimmy.

E Francesca, falando em preço de aluguel da película lá em cima, acabei de ver certo filme que nos cobraram uma fortuna para exibir ano passado e que acabamos desistindo, com direito a comentários jocosos (de nossa parte) ao modo ríspido e rasteiro da exigência feita. Veredito final e lição que deveríamos tomar de coração para o Indie 2007: de vez em quando, precisamos nos permitir uma certa extravagância. O tal filme é ótimo, muito bom mesmo. Teria feito bastante sucesso e daria o que falar (eu sei que vou falar). Acho que deviam reservar parte da verba para arriscar a vinda de pelo menos três títulos mais... high profile. Tipo... Lynch.
  Bernardo Krivochein    sábado, fevereiro 03, 2007    11 comentários
 
 


Não importa o filme que se vê, mas o filme que se faz.

Na página oficial da ZetaFilmes há uma nova entrevista com o diretor/roteirista/ator John Cameron Mitchell sobre seu filme "Shortbus". A citação que abre o link segue assim: "a experiência de se fazer um filme é mais importante do que o resultado." A declaração de Mitchell é uma das mais oportunas a surgir nessa era cinematográfica. Há muito tempo, o cinema já deixou de ser ilusão de ótica, porque todos conhecem o mecanismo que o realiza de cor (será que estaríamos próximos do conceito de Imagem Modelo, segundo Paolo Cherchi Usai?). Mais além, o cinema foi vítima da era das desmitificações, que criam fenômenos tais como "O Código Da Vinci" ou revistas sobre intrigas entre celebridades, alimentando o desejo de grande público de sentirem-se superiores aos ídolos e/ou bem-nutridos com o revelar de seus podres potencializados. A experiência de se assistir um filme prevê imediatamente a desconstrução de sua fantasia em seus termos técnicos, especialmente na era do DVD e seus "extras" que detalham o passo-a-passo das produções. Nada é deixado à magia, tudo é referenciado em manuais de instruções, termos que se popularizaram entre os espectadores casuais graças a uma cultura de críticas cinematográficas burras instituída nos meios de comunicação a partir dos anos 80. Nesses textos, os autores, a fim de reafirmar a autoridade de suas cotações gratuitamente oferecidas, vomitam seus termos técnicos de primeiro período de Escola de Cinema (ou de Jornalismo, haja visto a possibilidade de eletivas friamente voltadas à prática crítica) como se isso fosse uma validação automática de sua perspectiva arrogante (essa tradição perpetua até hoje entre os críticos mais populares - até porque os críticos que instituíram essa filosofia continuam na ativa; em nenhum momento estou me abstendo dessa acusação e que eu já tenha caído nessa armadilha me é causa de grande arrependimento, prova da minha ignorância juvenil, prometo que me esforço para sair dessa escrita viciada).

É uma época outra. Vejamos o exemplo de "300 de Esparta", adaptação dos quadrinhos de Frank Miller pelo diretor Zack Snyder, superprodução realizada no esquema "galpão digital" tal qual "Sin City" (também baseado na obra de Miller), "Casshern" e "Immortel". A estréia do produto final nos cinemas ainda está há dois meses de distância, porém os making-of's - na forma de "diários de produção" - estão perfeitamente disponíveis na Internet, em pílulas de vídeo. Tomando a partir do trailer, vemos a completa inexistência dos desertos, dos exércitos em grande escala, dos mares revoltos; só o "blue screen". O que acontece quando o espectador vê a realização das filmagens, conhece o processo de projeção e depois assiste ao filme completo é o além-Imagem Modelo? Como e por que o espectador assiste ao filme sem que a completa desmitificação o incomode?

Talvez seja porque o que se vê na tela já se libertou do estigma de concretizar fantasias e apenas propõe idéias, imagens e ângulos. Uma sugestão é mais palatável do que uma ordem, pois é acatada sem tanto debate. O que se verá em "300 de Esparta", independente da avaliação final que o espectador dará, será sempre a sugestão para uma aventura visual segundo Miller e Snyder. O quanto essa aventura irá capturar a atenção e imaginação do indivíduo, a saber após a derradeira experiência.

Essa é só uma ramificação periférica de um raciocínio inspirado pela declaração de Mitchell. A questão é outra. Bem outra, aliás. Andy Warhol dizia (cito em paráfrase, porque a tradução tem um play-on-words): "Cinema é muito fácil: é só ligar a câmera e o filme se faz sozinho." Por anos eu debati essa declaração, achava que Warhol estava fazendo pouco do processo cinematográfico, que envolve todo um dedicado processo de conceitualização, produção, o esforço de uma equipe profissional, etc. Novamente, um preciosismo técnico pessoal influenciado pelas já citadas "críticas burras" e pela filosofia corrente sobre o que fazia de um filme "bom" (que é bem uma ampliação da mentalidade Syd Fieldiana de roteiro para o âmbito técnico). Eu era otário pra caralho - me custou perceber a beleza da declaração de Warhol: não interessa a iluminação, não interessa o ângulo, não interessa o roteiro; o que você escolher filmar - e você tem a liberdade de escolher o que bem entender - invariavelmente se tornará Cinema. Parece que a Vida aumenta de escala quando se torna Cinema, mas isso depende do grau de afeto que você nutre por um ou pelo outro. Para os amantes de Cinema, elevar a Vida ao mesmo patamar é a maior das honras: é também se engrandecer (que, basicamente, é o que Godard queria dizer ao afirmar que "Pierrot Le Fou" era um atentado ao cinema, a vida em CinemaScope - mas Deus proíba que eu esteja fazendo eco à filosofia godardiana). Então, você deveria filmar o que bem entender e aceitar os erros de foco, os tropeços do diretor de fotografia, o gaguejar dos seus atores, o helicóptero na captação do som. Aceitar o dia de chuva quando o roteiro exige invariavelmente um dia de sol. Um filme só pode ser verdadeiramente ruim se a equipe não estiver vivenciando verdadeiramente as filmagens - é aí que a desmitificação do filme através de seu making-of acessível cumpriria sua função social de forma saudável.

É preciso acabar com a noção elitista de que o "fazer cinema" é apenas para os capacitados. Se os cineastas protegem a filosofia de que todos deveriam ter acesso ao "assistir cinema", por que o "realizar cinema" é mantido à distância do público? É aí que entra a maliciosa disseminação dos making-of's para o público, doutrinando-o com a imponência da maquinária, atores capacitados (academicamente ou geneticamente) e cenários em grande escala, de acesso impossível, mantendo-o acomodado na ilusão de que o "realizar cinema" dedica-se aos poderosos (isso é fato consumado exatamente porque são os poderosos protegendo seu território). Tal técnica de opressão não é tão diferente da disseminação do pensamento de inferioridade das raças. Enquanto a tecnologia cinematográfica avançou ao ponto de se tornar bastante acessível (para a classe média, sejamos claros), a perspectiva por trás da câmera pouco evoluiu desde que os irmãos Lumière escolheram o primeiro bebê para ser registrado pelo cinematógrafo. Branco feito leite, óbvio.

Com a disseminação dos making-of's, o longa-metragem final torna-se um simples propósito para a final experiência de filmar. O espectador não vive mais os filmes, mas deseja fazer parte de sua realização, quando não deseja ser o homem que os idealiza/realiza de fato. Ele já conhece o "set". "A experiência de se fazer um filme é mais importante do que o resultado". De fato, o é. Nunca mais o espectador abusado que ousa se transformar em realizador precisa se preocupar com a comparação de sua obra com outras melhor financiadas. Nunca ele deverá se preocupar em fazer do ato de filmar seu sustento (pense em Carlos Drummond de Andrade, servidor público e excelente funcionário). Nunca mais ele precisa se preocupar se sua obra será bem aceita ou sequer vista (quantas obras nunca vistas - ou perdidas - compõem a História do Cinema? Centenas). O "filme" talvez dependa dessas questões, mas não o "filmar", não a reunião de pessoas com o propósito da realização cinematográfica, registrando seus acidentes, sua corrente de pensamentos numa tarde de calor infernal, debaixo de um sol de rachar, fodidos e mal pagos. Antes pregava-se que a interferência do espectador em um filme se resumia ao modo em que ele o retrabalhava em sua mente. Hoje, o espectador deve interferir no próprio cinema. O espectador que não assiste meramente - o espectador que filma.
  Bernardo Krivochein    sexta-feira, fevereiro 02, 2007    2 comentários
 
 



A.R. Rahman - Som feito Imagem

Fosse fazer um filme agora, eu filmaria 3 horas de coisas quaisquer e sem nenhuma ligação apenas para A.R. Rahman musicar. Quanto será que ele cobraria?

Meu despertar para a obra de A.R. Rahman foi tardio, mas ainda em tempo. "Lagaan: Era Uma Vez na Índia" (2001) foi o primeiro filme autenticamente Bollywood que assisti na vida, é o único que tenho (orgulhosamente) em DVD. Ainda que o cinema indiano de Bollywood me encante, se o acesso hoje em dia deixou de ser um problema (vou arriscar e dizer que muito provavelmente "Lagaan" é o único filme do gênero jamais lançado no Brasil) continua muito difícil manter uma espécie de filtro, decidir o que vale a pena ou não ser visto, dado o enorme número anual de produções realizadas. Como é o caso de qualquer indústria, não são todos os produtos que merecem ser consumidos. Mas foi por causa do interesse que descobri Ram Gopal Varma (e seu espetacular filme "Company"), que foge dos moldes musicais de tal cinema, e, finalmente, A.R. Rahman. Se tenho esses nomes anexados aos créditos da produção, meu interesse está automaticamente no nível máximo.

Demoram mais de 30 minutos para que o primeiro número musical de "Lagaan" surja na tela, mas quando acontece, especialmente o impacto auditivo é inesquecível. Todas as canções do filme são assinadas por A.R. Rahman e eu me assegurei de nunca mais esquecer esse nome. Como um típico filme bollywoodiano, o fator de revisita é um bocado taxativo, dada a longa duração, mas não tenha dúvidas que superada a covardia de colocar o DVD para rodar, o prédio inteiro pára ao som da trilha-sonora que explode escandalosa do home theater. Um dos último domingos de 2006, passei a tarde inteira assistindo o referido filme de Ashutosh Gowariker enquanto a casa, cheia por causa dos feriados, lentamente foi se acumulando em torno da tela plana. Mal terminada a minha sessão, foi a vez dos espectadores casuais atrasados, exigindo para assistí-lo desde o começo. Assim, "Lagaan" foi posto para uma segunda sessão - e que foi reassistida na íntegra.

Mas seja no fantástico "Dil Se" ou "Bombay", no seminal "Roja" (eleito pela TIME Magazine uma das 10 melhores trilhas-sonoras já feitas) ou na trilogia elementar de Deepa Metha (cujo episódio final "Water"ele assina com Mychael Danna) ou no chinês "Guerreiros do Céu e da Terra", a trilha-sonora torna-se a estrela. Hibridizando melodias orientais (é filho do compositor cinematográfico R. k. Sedhar Mudhaliar, convertido ao islamismo, realizando turnês mundiais como tecladista desde os 11 anos junto à orquestras e artistas indianos) com orquestrações eruditas ocidentais (é formado em música clássica ocidental pela Universidade de Oxford), a música de A.R. Rahman é emocionante porque é imprevisível. Pode-se imaginar as grades da partitura se espiralando até os céus em busca da nota mais aguda possível para o arranjo - o trajeto nunca é o mesmo. A grandiosidade nos temas de A.R. Rahman não equivalem a uma opulência cafona e não apelam a temas fáceis como trilheiros ocidentais tais quais John Williams. Você literalmente não sabe para onde os arranjos estão indo - o que te excita - mas todas as notas, todos os passos dados parecem fazer parte de um plano maior. E a música se estende, se alonga, rodopia numa montanha-russa dentro de sua cabeça, ao ponto que sua perspectiva da rua de dentro da janela do ônibus está completamente virada e A.R. Rahman - vibrando para fora dos seus headphones e incomodando as pessoas em sua volta. Poderia-se dizer que a mistura de influências culturais é a responsável pela novidade, mas reduzir a potência das obras de A.R. Rahman a isso indicaria um cansaço criativo, o que parece bem longe de acontecer. Nem andar ao lado de más companhias como Andrew Lloyd Weber parece macular seu gênio. A música de A.R. Rahman não é maior do que a vida; é tão grande quanto a vida. Não é opressora, muito pelo contrário: convida ao espectador/ouvinte a imaginar-se por ela acompanhado. Até porque é pop até o caroço.

Nada mais adequado para filmes que flutuem soltos feito a vida do que uma música que abrace a imprevisibilidade e denuncie um grande plano mágico, um enquadramento solto e espontâneo. Meu iPod Shuffle foi pra cucuia há muito tempo (por causa de conflito de software na hora do update, mas tudo bem, devo comprar outro daqui há pouco espero), então meu CD Player foi desenterrado, assim como a coleção portátil de CDs, a maioria compilações caseiras em CDs sem rosto, mas reluzindo entre elas, a trilha sonora importada de "Dil Se", indecifrável, irresistível e infalível nas viagens de ida e volta ao trabalho ou aos compromissos. Dedico meu filme imaginário de 3 horas de duração às músicas de A. R. Rahman.
  Bernardo Krivochein    quinta-feira, fevereiro 01, 2007    1 comentários
 
 


D.O.A. - Dead Or Alive (Corey Yuen, 2006) disponível em Google Video


Lançado nos cinemas daqui em 10 de novembro do ano passado, a adaptação do jogo da Tecmo produzida por Paul W.S. Anderson e dirigida por Corey Yuen ("So Close" e "Carga Explosiva") para longa-metragem de cinema está disponível para assistir via streaming na Internet. Todos os seus pixelados 90 minutos. Legalmente.

Versão estrogênio de"Mortal Kombat" (o elenco de beldades inclui Devon Aoki, Jamie Pressly, Sarah Carter, além do topete erótico de Eric Roberts), "D.O.A." concentra-se num grupo de quatro garotas escolhidas para participar de um torneio de lutas numa ilha isolada. Elas precisam saltar do avião e passar por múltiplas tarefas. Elas começam inimigas, mas com o andar da carruagem, tornam-se amigas... ou amantes... Desde a primeira cena de sexo entre mulheres que vi num filme pornô, eu me pergunto: será que lésbicas só transam de salto alto e colar de pérolas, derramando champagne no peito da outra enquanto Kenny G. toca clarineta (sem trocadilhos) (infelizmente) ao fundo?

Resumindo: "D.O.A." é sobre garotas peitudas chutando pessoas.

Não assisti o filme ainda porque os block pixels me dão muita dor de cabeça, mas quem se aventurar, segue o link. Ao que parece, o filme preserva os melhores momentos do jogo: partidas de vôlei disputadas por garotas de bikini. Mas, para mim, só existe uma ilha para Jamie Pressly: a de "Piñata: A Ilha da Sobrevivência" - uma das experiências mais testicularmente neutralizantes que já tive ao assistir um filme. Mas eu ri para caralho.

Assista ao longa-metragem "D.O.A. - Dead Or Alive" no Google Video
  Bernardo Krivochein    quinta-feira, fevereiro 01, 2007    2 comentários
 
 
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