blogINDIE 2006


Vaza, arregão (Postagem do Festival #4)

Vaza. Vas-y. Coluna do jornal O Globo na página do caderno de cultura ou entretenimento dedicada ao Festival do Rio (ironicamente ao lado de manchete que declara "Estômago" como o filme mais aplaudido na mostra competitiva): "Público sai no meio de filme de Cao Guimarães". O filme em questão é o documentário "Andarilho", que será exibido em BH durante os eventos da nossa mostra. O artigo é generoso com o filme, no entanto: a imprensa carioca no mesmo jornal já o elegera como um dos melhores documentários brasileiros do ano em artigos passados - o faz novamente na mesma coluna - mas vá lá, chama-o de o filme que rendeu o maior número de debandadas da sala de exibição durante a projeção.

Sensação estranha. As pessoas apreciam a oportunidade de se entrar em contato com cinematografias diferentes num evento tal qual o festival de cinema, mas quando a diferença se faz visível no escuro, elas mostram sua verdadeira face. Assistir a um filme exigente dá muito mais trabalho do que encher a boca para falar que se gosta de filmes mais exigentes. Talvez devessem continuar mentindo nas conversas de bar. Preocupa-me, enquanto projeto de curador de mostra: finalmente podemos exibir filmes que são apreciados mundialmente pela sua densidade, pela inovação, nós podemos apoiar sua seleção através dos prêmios conquistados, ensaios inspirados realizados em cima deles, críticas iluminadoras e especialmente seu potencial de inspirar elaborações pessoais no espectador que ousar dissertar sobre eles, mas para um público ou deseducado, ou desinteressado em ampliar-se, ou mais preocupado pelo pioneirismo de se assistir primeiro um filme que já será distribuído nos cinemas (um pioneirismo vazio, em época de vazamento na internet), não simplesmente estaríamos jogando pérolas aos porcos? E então, eu me vejo criticando José Padilha por desdizer a interpretação popular geral de seu filme ao mesmo tempo que vejo que serei tentado a, como curador de uma mostra, estabelecer/insinuar de antemão a relevância deste ou daquele filme selecionado. Não é uma atitude correta, me parece até doutrinante fazê-lo, mas quando é certo de que um filme será injustamente dispensado: a) pela ignorância do público do valor da argumentação cinematográfica; b) pela falta de comprometimento do espectador; c) pela intransigência do espectador que equivale qualidade com entretenimento fugaz, imediato, e; d) pela falta de tempo e paciência que uma maratona de cinema impõe sobre a experiência especular normal; fica difícil não tomar uma atitude mais radical. Não quero informar a nenhum espectador como ele deve se sentir ao assistir a um filme, mas vai tomar no cu se eu não quero que ele atente aos elementos que fazem o filme válido , mesmo quando o saco dele já encheu ao ponto de estourar (não porque o filme é chato, mas porque certamente não é o "Todo Mundo em Pânico 4" que ele espera que todo filme seja).

A ambição, a minha particular, claro, é a que algum espectador reconheça que o filme X ou Y que conseguimos trazer e exibiremos exclusivamente é aquele sendo discutido nos meios vanguardistas, e que se inspire a escrever um texto fuderoso, o melhor em língua portuguesa. Porque nos motiva a querer fazer melhor. Então quando eu convido alguns dos nossos visitantes cativos para freqüentarem o evento, se possível, não é por ibope; é porque no fundo da minha mente, eu lhes coloco confiança de que serão inspirados pelos filmes certos e farão os grandes ensaios nacionais, os pioneiros, inventarão publicações, ou sites ou algo bem melhor. Não preciso botar fé que pelo menos alguns dos filmes que serão exibido no INDIE integrarão os melhores debates cinematográficos - eles já estão sendo debatidos. Gostaria sinceramente que houvessem espectadores no INDIE 2007 que se erguessem e impusessem uma nova e renovada visão cinematográfica, uma nova escrita.

Voltando ao texto do jornal, por exemplo, falta ao repórter referência para acusar "Andarilho" como o grande expulsor de espectadores da sala (aliás, isso não quer dizer nada: público carioca insiste que todo filme que veja seja cômico, há uma predisposição a rir, a entender tudinho certinho, sem se deixar devanear, associar, pensar, enfim: se deixar afetar em todos os sentidos), simplesmente porque - e aí eu farei uma quebra na linearidade de nosso diário de sessões - ele não esteve na sessão de 22:15 do en-can-ta-dor "O Estado do Mundo" no Estação Ipanema 1. "Stellet licht" já tinha inspirado algumas saídas prematuras por parte de espectadores resistentes às imposições estilísticas e narrativas (teeeeeemmmpo) de Reygadas - mas, de acordo com a rigidez do filme, esperava-se um número bem maior de abandonos (acenderam-se as luzes e o cinema estava praticamente lotado). Imagino a cena vista de cima: a ocupação máxima da última sessão da sala 1 do Estação Ipanema, a medida que as experimentações avançavam, diminuía ao que as pessoas desistiam com grunhidos exaustos e abandonavam em grupos a sessão; feito tufos de cabelo caindo da cabeça de um infeliz sujeito sofrendo de calvície atômica, abriam-se buracos na platéia com o passar do tempo. No penúltimo episódio, "Tarrafal" do português Pedro Costa (eu juro que reconheço que ele é instigante, mas por que eu não consigo tirar da cabeça que a maioria de seus apreciadores o é por puro exercício egocêntrico de articulação, além da necessidade de querer se gabar aos pobres mortais por compartilhar - sem verdadeiras avaliações pessoais - do raciocínio Cahierístico?), já inspiravam-se saídas mais substanciais, mas no grande momento de Chantal Akerman, foi como se a sala estivesse em chamas e apenas alguns suicidas decidissem resistir nos lugares. O omnibus de intelectual é meio brabo sim e eu não alieno completamente as desistências. Eu mesmo tive que resistir e usar de boa dose de tolerância (mas menos aos experimentais e sim aos convencionais, que são meio dose). Passa o tempo, no entanto, e acredito que se torna, por essas reviravoltas misteriosas da rememoração e desejo de retornar a sentimentos evocados pelas imagens, um dos filmes mais estimulantes de todo o festival até agora. Instintivamente, insisto em querer retornar a ele. Se fizer sol, até faço uma lista dos meus filmes preferidos da programação do Festival do Rio. Continuo não gostando de listas (daquelas que só tem o título, um pódium e nenhuma justificação além disso), mas sei lá, 2007 é um ano para quebrar paradigmas.

No mesmo dia, tinha finalmente assistido ao último Tsai Ming-Liang, "Eu Não Quero Dormir Sozinho", parte do mesmo projeto New Crowned Hope que financiou "Síndromes e um Século", também na mostra. Um ano de espera que valeu a pena. Na boa, eu gosto muito de Weerasethakul e tal (ainda que prefire bem mais "Mal dos Trópicos" e "Blissfully Yours"), mas puta que pariu se eu não amei esse Tsai Ming-Liang. Talvez porque eu ainda seja meio padrão, mas gosto como o ritmo aumenta gradativamente de intensidade na narrativa, como as emoções ecoam no futuro e as ações tem conseqüências. E olha que eu lutei para não me aborrecer no começo (já tenho para mim que todo começo de filme de Ming-Liang é chato, porque assim fica mais fácil de viver: ainda que ele prime pelo sensualismo, na apresentação do universo do filme, ele simplesmente enrola pra caralho), mas o filme só fica mais e mais bonito com o tempo de duração: quando a fumaça de um incêndio que abala a Malásia cobre a cidade, o filme enevoa-se e fica literalmente onírico: Ming-Liang, como é de costume, personaliza uma série de objetos inanimados, uma espécie de antropomorfismo não-artificial que humaniza sacos plásticos, colchões e objetos encontrados no lixo apenas por relacioná-los à condição de seres humanos decartados que abalam os personagens, inventando, para ambos objetos e indivíduos, novas utilidades, evidenciando-lhes uma relevância escondida, ignorada. No final, tudo vira fumaça. Isso só ele consegue fazer. De dar vontade de invadir a cabine de projeção, roubar a cópia e fazer passar no INDIE. Porque mostra pequena tem desses radicalismos, a gente seqüestra mãe dos produtores, faz chantagem com diretor, rouba cópia dos eventos dos outros... Falando nisso, "4 meses, 3 semanas e 2 dias", romeno vencedor da Palma de Ouro em Cannes (para o qual tentarei conseguir ingresso no dia, pois os antecipados estão esgotados para todas as sessões), está compradíssimo pela Lumière, com cartaz brasileiro e o angu inteiro. Será que eles não querem deixar os mineiros darem uma espiadinha antes de SP (alguém pega o caderninho de telefone)?

Saída de "Eu Não Quero Sair Sozinho", geral está decepcionada. Os jovens cinéfilos queixam-se que o filme anterior de Ming-Liang, o horroroso "The Wayward Cloud" (não é triste que o pior Ming-Liang seja o único a conseguir distribuição comercial no Brasil), nada tinha a ver com este (pela cara de aborrecimento, admiti que elogiavam o anterior em detrimento deste). Bem, esqueça que ambos os filmes compartilham do mesmo ator principal, são musicais (aquele, de modo kitsch a conquistar moderninhos; este, o seu filme mais sutilmente musicado) e apreendem a questão afetiva entre humanos marginalizados socialmente e as expressões sexuais que ebulem dessas novas diretrizes emocionais; realmente rien de rien. Não me preocupo porque eles crescerão, evoulírão e entenderão o filme melhor. Quem sabe, até se torne um de seus preferidos, ou até escrevam sua tese de mestrado em cima do diretor. Quem aposta em Ming-Liang não é um espectador rígido, arrogante, intransigente; só se pode esperar o melhor de quem o assiste.

Pulamos para hoje e seguimos a ordem normal dos acontecimentos. Sessão de 12:30 do elogiado argentino "O Assaltante". Imagine um filme de assalto (heist movie) dirigido pelos irmãos Dardenne et voilà. Em menos de 70 minutos, acompanhamos o personagem principal, passo a passo, enquanto ele efetua uma série de roubos matutinos. Incrível oportunidade de se realizar um exercício de estilo dentro de uma trama de gênero, de se incorporar um olhar mais espirituoso e profundo àquilo que primeiramente sugere - e recebe - injeções de adrenalina e estéticas modernosas vazias a la "Ocean's 13". Tal qual o personagem utiliza de sua arma, Pablo Fendrik precisa utilizar de sua câmera para armar um esquema cinematográfico que fique a altura dos planos criminosos de seu objeto de pesquisa. Não se sabe quem blefa mais: o diretor ou o assaltante do título - e o encantamento do filme é justamente o jogo de gato e rato que eles parecem dinamizar entre si; quem é que pisca primeiro? Realmente intrigante. E o final é memorável.

Sigo em seguida - após almoço e um passeio - para assistir o elogiado "As Testemunhas" de André Techiné. Algo muito peculiar aconteceu durante os créditos finais e a escritura deste post. Saí satisfeito da sessão, mas refletindo-o mais a fundo, agora acho-o um dos filmes mais desonestos do ano. É a história de um grupo de personagens franceses durante o surgimento da AIDS na Europa: uma escritora de livros infantis que tem o seu primeiro filho, seu marido policial com quem mantém um relacionamento aberto, um médico homossexual que se afeiçoa a um jovem que não corresponde às suas investidas e deseja apenas sua amizade. Não acho o filme ruim, mas um bocado cruel e mais para o lado do conservadorismo raivoso do que ele se faz crer. Para fazê-lo justiça, é preciso dissertar detalhadamente sobre ele, mas preciso sair para mais outra sessão. Esse é um dos grandes medos: esquecer de elementos essenciais da resenha de filmes anteriores com a inclusão de mais outro longa no catálogo mental.
  Bernardo Krivochein    sexta-feira, setembro 28, 2007    2 comentários
 
 




Está no ar a programação do Indie 2007!!

O processo foi longo ( e é sempre longo, afinal todo festival começa 1 ano antes de acontecer) e foi um pouco doloroso também porque tivemos que mudar a data de agosto para outubro por problemas de patrocínio. Incrível como este ano foi literalmente longo, mas depois de agosto as coisas melhoraram... o sol começou a brilhar novamente e conseguimos manter o Indie com sua entrada bem franca. Alguns ajustes daqui e dali, algumas perdas inevitáveis, mas sobrevivemos.

Ao longo da mostra devo comentar aqui a programação por enquanto é só um sinal. Vai lá conferir e diga o que achou. Caneta e papel, sejam confiantes!

INDIE 2007 - MOSTRA DE CINEMA MUNDIAL
  Francesca Azzi    quarta-feira, setembro 26, 2007    10 comentários
 
 


Postagens de Festival: 1/4 de dia

Quando se tem sorte, um filme só basta para fazer seu festival. Segunda-feira, me aventurei apenas na sessão de 17h45 para assistir ao fenômeno de bilheteria italiano "Meu Irmão É Filho Único", roteirizado pelo mesmo time que fez o espetacular "O Melhor da Juventude" (filme que me foi recomendado por um leitor anos antes do crítico do New York Times elegê-lo o melhor filme de 2005). Local: Estação Ipanema. Velhas falantes na sessão: como não?

Mas seria necessário um pé-de-cabra nos dentes para me irritar, pois o prazer de assisti-lo é gigantesco. História sobre uma família italiana durante os anos pós-guerra na cidade de Latina, Itália, o filme revolve em torno de Accio, o irmão caçula que se associa ao partido fascista local apenas para se rebelar contra sua mãe e seu irmão. Não saberia dizer se é um grande filme (existem cenas que apreendem beleza através de enquadramentos não ideais, improvisados, que sugerem que o diretor tem uma verve mais experimental do que a acessibilidade do filme deixa acreditar), é sim uma versão mais acessível e diluída de "O Melhor...", começa um pouco "italiano" demais (o ator mirim que interpreta o jovem Accio me irritou um pouco), mas existem tantas ousadias divertidas ao longo do filme (a cena em que cantam a versão "defascistada" de "Ode à Alegria" de Beethoven é uma hilária provocação à correção política tanto da época quanto a vigente), o protagonista Elio Germano tem uma performance irresistível como o revoltado personagem principal e a satisfação ao final da sessao é tamanha que fica difícil não recomendá-lo. É um belo filme, um com fundo político fortíssimo, mas que prefere sufocá-lo com o humano, consciente que é a ele que a política finalmente serve. Ando fetichizando os italianos ultimamente, algo que sempre fiz mais timidamente. Vou acabar aprendendo essa língua. Acaba o festival, me aventuro nas 300 horas de duração de "O Melhor da Juventude" de novo. Espero apenas escrever um texto que fique à altura do filme.
  Bernardo Krivochein    terça-feira, setembro 25, 2007    0 comentários
 
 


RAINDANCE FILM FESTIVAL exibirá filmes simultaneamente via web

O festival de cinema independente britânico Raindance exibirá sete longa-metragens de sua seleção oficial, em acordo com os cineastas e com o servidor de banda larga Tiscali, simultaneamente às exibições que ocorrem nos cinemas de Londres a partir de hoje até 7 de outubro. Eles ficarão disponíveis a partir das 9pm - hora local - do dia em que forem exibidos na programação. Entre os filmes estão:


"Flames In The Looking Glass" - documentário sobre três indianos que precisam conviver com o HIV

"The Inheritance" - ficção: road movie escocês

"South Coast" - sobre a cena hip-hop de Brighton

"The Good Times Kid" - filmado com latas de película 35mm roubadas de uma grande produção

"U & Me And Tenessee" - sobre o romance entre o dramaturgo e Konrad Hopkins

"Carambola" - sobre um grupo de personagens que freqüentam um salão de bilhar no México

"Frank & Cindy" - documentário sobre um astro pop decadente dos anos 80 e sua mulher que o força a viver no porão.


Para ver os filmes (ver programação), visite o site aqui.


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Numa outra delirante nota: "Naisu no Mori - O Primeiro Contato", exibido no INDIE 2006, acabou de ser comprado para distribuição cinematográfica limitada e em DVD pela VIZ Media. Fantástica notícia.

  Bernardo Krivochein    terça-feira, setembro 25, 2007    1 comentários
 
 


Postagens do Festival: Dias 2 & 3

O Festival do Rio se revela aos poucos. Na manhã de sábado, a mencionada propaganda gigante na fachada do Rio Sul - que ainda está em obras, diga-se - deu as caras: está, no entanto, num lkugar tão absurdamente alto que as pessoas à caminho de Botafogo não consegue vê-la. Para dizer a verdade, somente os moradores do Morada do Sol devem ser capazes de vê-la. Mas lá está: Cristo Redentor, mutilado pelos ecrãs, sobre a Lauro Müller.

Foi somente no sábado que a eternamente polêmica vinheta do Festival do Rio deu as caras, precedendo as sessões. Diferente das vinhetas temáticas dos anos passados, a de 2007 é humilde. Humilde até demais. Mais uma glam piece do Festival, com imagens de suas aberturas de gala, premiações e o que mais, sempre dispostos nos diferentes formatos de tela, lê-se: "O Rio de Janeiro irá revelar mais uma nova maravilha" e mostra-se o (cobiçado?) troféu Redentor a ser agraciado às melhores produções nacionais em competição. Fico imaginando se o Redentor invalidará o Óculos de Sol/logo do Festival que fora o troféu para os filmes premiados até então no evento.

Esse é o grande problema para um evento de ambições internacionais estabelecer-se no Brasil, que abala tanto a premiação quanto as vinhetas do Festival do Rio: nossa falta de tradição. Nós temos essa necessidade de renovar tudo, implodir aquilo que foi construído precipitadamente para reconstruir outro projeto melhor pensado, mas ainda incompleto. Quando o Festival de Cannes foi interrompido pela guerra, ele não retornou Grande Nova Mostra de Cinema Praiano; reinvestiu-se no nome de Cannes para garantir-lhe o peso da tradição, de sua premiação. Prêmios precisam ser dinastias, especialmente se tiverem um nome próprio, como é o caso do Redentor (e que nome esquisito para um prêmio... quer se redimir o filme nacional de quê? Da sua baixa qualidade, pouca freqüência, baixa auto-estima?) - não se muda de idéia quando o evento está prestes a fazer 10 anos de difícil existência. pode-se mudar o tema, mas é preciso ter uma vinheta padrão, que inspire no espectador uma certa pompa de se estar freqüentando um grande evento cultural internacional - e pode se fazer isso com o despojamento que a organização procura evidenciar constantemente em entrevistas.

É preciso que as premiações também sejam mais ousadas, mais destemidas. Se lembrarmos que filmes como "Seja o que Deus quiser" (sob justificado protesto de Cláudio Assis) e "Bellini e a Esfinge" foram eleitos "melhores filmes" em seus respectivos anos em competição, isso conspira contra a qualidade da premiação. Bem, este ano, a francesa Chantal Akerman está no júri, assim como o hypado diretor de fotografia Affonso Beato. Espera-se que eles não sejam obriagdos a baixarem seu nível de exigência.

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Toda vez que eu acho que vou parar de falar de "Tropa de Elite", inventa-se mais alguma coisa ridícula que obriga-me a comentar. Segundo Caderno, jornal O Globo desta segunda-feira: "Platéia vibra com a primeira sessão aberta ao público de 'Tropa de Elite'". A foto de um playsson infeliz, bombado, trajando a camiseta do Justiceiro (aludindo à caveira do símbolo do Bope... José Padilha não gosta, viu?), mostrando orgulhoso o ingresso. Aliás, o elenco da foto é só de marginal. Ainda se acabasse por aqui:

"Quero Capitão Nascimento para presidente!"

Alguém mais vai duvidar quando eu digo que agora fodeu, a gente vai ter que ficar aturando uma enxurrada de filmes no estilo, de discussões sobre o raio do filme ser ou não bom, mais discussões sobre a violência que não vão levar a nada, porque vai ser um tal de um acusando a incompetência e ineficácia do outro. Padilha, na moral, você sabe que o seu filme louva a violência do Bope sim por dois motivos: 1) porque a seqüência de treinamento de cadetes, onde corruptos não são tolerados, é coisa de "Predador", "G.I. Jane" e o caralho - só Schwarzenegger para dar conta do trabuco e todo mundo se sente seguro tendo esses homens para olhar por eles, tão másculos, tão incisivos, tão... insolentes. Ai, que saudade de Tebas!; 2) a dita seqüência final, onde acusaria-se teoricamente a violência do Bope, tem os personagens torturando outro explicitamente bandido e envolvido com o traficante procurado.

Essa porra já virou piada. "Ironia ou hipocrisia", alguém comentou num post lá embaixo. É hipocrisia, e da braba. Apoiar a incursão do Bope nas favelas é que nem apoiar a guerra no Iraque. Classe média quer mais é que geral se foda se for para prender bandido porque na favela só tem marginal mesmo. E para os inocentes que são pegos no meio do tiroteio, um chacoalhar de ombros e a famosa fala, tão pouco assumida quanto a compra de maconha nas casinhas da PUC com a qual ninguém mesmo se identifica: "quem mandou morar na favela?" Você sabe, porque entre uma cobertura e a favela, o cara preferiu conscientemente o barraco lá na boca. O morro desce todo dia, meu amigo. Para trabalhar lavando a merda da sua privada cagada.

Honestamente, que se foda "Tropa de Elite" e o cavalo que me trouxe a cópia pirata. Foda-se que o filme é bem feito (apesar da primeira meia hora final ser toda exposição em narração off - sabe escrever roteiro visualmente não, filho?). Foda-se que é uma febre. Foda-se que incita a discussão, porque honestamente o filme não a merece mais do que a realidade. Chega dessa porra.
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No sábado, o sol nasceu ao meio-dia e se pôs às 14h20. "Stellet Licht", inacreditável Carlos Reygadas pós-"Batalha no Céu", cantou uma cantiga para uma platéia estupefata, esgotada, encantada. Em questão de segundos, o filme derrotou qualquer espírito de deboche por parte dos espectadores cariocas (por que eu tenho a impressão de que o público carioca sempre deseja assistir a um filme de comédia em qualquer sessão que entre?) com os planos-seqüência de abertura e encerramento do ano. Eles são tudo isso que os textos internacionais vêm comentando. A dificuldade no filme de Reygadas está na aceitação da lentidão do tempo - algo mais difícil na época do dinamismo - que o relaciona a Tarkovsky. Pois o filme é perfeitamente acessível, de uma delicadeza rústica, na qual a câmera leva um tempo enorme para deixar que uma flor entre em foco no travelling frontal. Primeiro grande filme do festival até agora.

Em seguida, Nicolas Philibert relaciona a degradação natural do material de acervos culturais com a gradual perda da memória no documentário "Retorno à Normandia", elogio e réquiem ao legado cinematográfico. Philibert trabalhou como assistente de direção de René Aillo no filme "Moi, Pierre Rivière, ayant engorgé ma mère..." baseado no livro de Michel Foucault e interpretado por atores não-profissionais. Ele retorna à região das filmagens 30 anos depois para se reencontrar com os fazendeiros que se tornaram astros de cinema pelo período que a produção lá se instalou. Bela conjunctura acidental que uniu a exibição do filme de Reygadas - realizado sob basicamente os mesmos princípios de Aillo - com este documentário bucólico, tranqüilo e bastante agressivo em momentos (explícitos: o parto de um leitão e o sacrifício de um porco). Persiste um suspense ao longo do filme, uma vez que o protagonista, que conheceu uma carreira artistíca de início promissor, desapareceu da França.

Domingo, arrisquei um lugar perigoso: Estação Ipanema. Para quem não conhece, o Estação Ipanema (duas salas) é o seu típico cinema de velha faladeira. São essas senhoras meio ricaças com nada pra fazer da vida senão viajar pro exterior, jogar conversa fora, almoçar juntas, etc. e que preservam esse ranço de culturalmente bem informadas, ainda que só se aventurem naquilo que lhes prometa satisfação imediata: os filmes agradáveis, de background luxuoso, filme de velha, sabe? Elas têm a tendência meio irritante de falar sem parar durante o filme, qualquer um. Como eu sei que lá elas dominam, não adianta pedir para fazer silêncio, com ou sem educação. Quando se vai ao Estação Ipanema, você sabe muito bem onde amarrou a mula.

Mas lá estava eu, cedo, para assistir a aposta cega número um: "A Felicidade dos Sakai", drama japonês com toques de humor e de uma convencionalidade gigantesca. Com cores Ozu-escas, acompanha a história de uma família típica: mãe, filho adolescente rebelde, filha mais nova e o padrasto. Entre conflitos tolos, eles seguem a vida e aprendem a rir de seus problemas em geral. Inofensivo e uma delícia de se assistir, acaba frustrando quando o filme insinua ter dentes mais afiados do que se imagina, mas sem a mordida: o padrasto surpreendentemente sai de casa por causa de uma revelação pessoal, o que nos faz acreditar que o filme colocará em pauta algumas questões de maior relevância. Mas não demora e o filme se acomoda num estado de conformação menos interessante do que aquilo que havia sugerido. Assiste-se com prazer, esquece-se sem esforço.

Da Sala 1 para a Sala 2, uma das sessões disputadas do Festival: "Mister Lonely" de Harmony Korine, projeto de artista avant-garde americano que ainda precisa fazer uma obra que vingue o hype que o circunda. "Gummo" é mais interessante do que meu ódio pelo filme me deixa enxergar (bem, é definitivamente diferente) e "Julien Donkey-boy", Dogma 95 diplomado norte-americano, será assistido um dia desses, je promis. Sua primeira grande produção segue um sósia de Michael Jackson (Diego Luna) convidado por uma sósia de Marilyn Monroe (Samantha Morton) a integrar uma comunidade isolada de sósias de celebridades, que aspiram armar o maior espetáculo da Terra, tudo marcado por títulos de canções de Jackson ("The Man In The Mirror", "Beat It", "Thriller", "You Are Not Alone"). Lembra um pouco "Henry Fool", assim sendo. Inmteressante, mas aborrecido, o filme não passa de uma piada iconográfica que permite que Korine profane alguns monumentos visuais com mucho gusto (Chaplin estupra Monroe, etc.). No meio de tudo isso, uma subtrama na qual Werner Herzog interpreta um missionário que descobre um grupo de freiras voadoras - mais evidentemente relacionável com a idéia da trama principal do que querem fazer-nos imaginar (algo sobre o depósito de fé que fazemos sobre o ridículo, ou seja, as celebridades e os sósias que por elas se apaixonam, ainda vou fazer o texto). Não me impressionou, não me fez rir, mas não achei ruim. Só... normal, se é que isso é possível. Alguns belos momentos visuais que mostram a evolução de Korine como esteta visual. E não toca a música do Akon, o que sempre será ponto positivo para qualquer filme.

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Mais filmes vistos, mais textos a serem feitos que se acumulam. Talvez eu devesse ligar o foda-se e escrever de qualquer jeito. Não gosto muito dessa pressão para escrever sobre os filmes, preciso encontrar/reencontrar o que pensei, o que queria dizer, as associações, as palavras certas que me fogem o tempo todo. Faltam coisas a serem ditas sobre "Shortbus" (o texto fica parecendo que eu encasquetei no sexo explícito; o que me incomodou foi a resignação com que eles o faziam: se você está deprimido, o que você está fazendo com um pau na boca? Vai chorar, procurar um analista; depois que se resolver, aí sim trepa... ) sobre "Den Bryssomme Mannen", nada do que estou escrevendo está bom o bastante. Mas as coisas são o que elas são. Tomara que eu seja permitido a retornar aos raciocínios. Vou mantê-los em aberto.
  Bernardo Krivochein    segunda-feira, setembro 24, 2007    19 comentários
 
 


Postagens de um Festival: Dia 1

É preciso demolir a abjeção da mídia eletrônica de internet; isto quer dizer: adotarmos as termologias das ferramentas interativas das quais realmente se faz uso. Abordagens de festivais, em vários sites e blogs, denominam-se "diários", "blocos", "cadernos", eufemismos da escrita virtual que ambicionam essa nobreza tradicional associada ao papel, ainda que os textos jamais tenham conhecido outro formato senão o computadorizado. Vejamos o caso da edição virtual da Cahiers du Cinema (a qual adota o folhear artificial de uma reprodução da revista impressa; irônico que uma publicação vanguardista se atenha ao tradicionalismo e preserve-se sem mudanças ou reconhecimento das peculiaridades do novo meio) cujo blog de festivais mantido por Emmanuel Burdeau sempre é um "diário", uma "coleção de anotações". Novos meios - para quê velhos modos?

Aqui, as letras digitadas serão o que são: postagens (e se o termo era inicialmente para meios de papel, certamente não é mais agora!). Usamos o computador; que se usem - com louvor! - termos de computador, termos adequados, termos apropriados, termos verdadeiros, termos seus, mesmo que haja o risco de soarmos vítimas de uma neofilia deslumbrada com a tecnologia destinada a sempre ser ultrapassada. Mas esse é o nosso agora e essas são as nossas ferramentas. Não queremos que sejam outras senão elas mesmas - assim como os filmes. É somente o meio virtual, que respeita a revisão e reformulação de pensamentos e de opiniões assim que ocorrem na mente, que liberta os filmes das posições intransigentes de textos precipitados - o maior gênero de textos escritos numa maratona de cinema. Os filmes na memória são textos virtuais, sempre propícios à transformação.

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Em tempo: o Festival do Rio também adotou um blog. O Notícias do Front, dedicado exclusivamente a ajudar os espectadores a encontrarem filmes menos hypados, mas dignos de atenção, conta com conteúdo exclusivo, uma boa maneira de se manter atualizado.

Aliás, é impressão minha ou a assessoria de imprensa do Festival do Rio está um tanto mais disposta do que os anos anteriores? Não que eu me importe em saber o que Mariana Ximenes achou de "Tropa de Elite" (ela adorou) ou que seja de alguma serventia saber das festas "xiquedéiz" que tomam conta da tenda, erguida na Praia de Copacabana inicialmente para o mercado de filmes e atendimento a imprensa (quando cheguei lá para pegar a credencial, uma senhora que achava que as sessões ocorriam lá dentro ia entrando normalmente, até ser devidamente interpelada pelos seguranças: que fofa... agora sai, pobre!), mas de qualquer maneira é bastante dedicado. Periga ir para o exagero, no entanto: só é o primeiro dia e o número de mensagens chegou a quase dez.

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"O cineasta José Padilha fica incomodado quando as pessoas encaram seu novo filme 'Tropa de Elite', como uma defesa às forças especiais do Rio de Janeiro no combate contra os criminosos." - Andrei Khalip, da matéria "'Tropa de Elite' não é elogio à brutalidade, diz Padilha", O Globo Online

"-No lounge final, como se fosse o altar de uma catedral, arrematando a decoração, a caveira gigante do Bope, do cartaz do filme, estará num painel de 6 metros por 3, ao lado de um jardim "dar", que é uma floresta de flores secas, contrastando com as flores coloridas na entrada - explica Jorge Alberto" - Giovanni Lettiere em matéria sobre festa de abertura do Festival do Rio, O Globo Online

Aliás, teve canapé com a caveira do Bope, para quem quer saber.

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Cabines de imprensa do Festival são como a cidade de "Den Brysomme Mannen" (cujos ingressos antecipados foram esgotados): freqüentados, em teoria, apenas por críticos e repóteres (o que é uma falácia: o que tem de gato pingado supera o número de profisisonais ridiculamente), as sessões têm essa atmosfera sinistra de mundo desapegado do real, habitado apenas por seres superiores. É como se temessem, na presença de um intruso, serem confrontados com a noção de que a visão autoritária e arrogante que tem de si mesmos não passa de um delírio egocêntrico gerado como técnica de auto-defesa das agressões externas. São uma raça de gente muito feinha e mal cuidada, os críticos. Acho que filmes não gostam de perceber que são apreciados por gente ou ignorante, ou não atraente: se melhorar estética e intelectualmente é uma forma de respeitar os filmes os quais se aprecia, além de, claro, ser uma ótima forma de defendê-los das agressões de malfeitores vanguardistas e malcheirosos.

Por causa das cabines de imprensa, que serão freqüentes e em grande número ao longo do festival (com direito a um cinema - de rua - dedicado somente a elas), o número de ingressos permitidos a serem retirados pelos membros da imprensa passou de 20 (que já era pouco) para 10 (quase nada). Eu poderia até me beneficiar da situação e, após o décimo filme, falar: agora que acabou, não tenho mais que cobrir - mas, lo and behold, lá estava eu dando facada na conta bancária, garantindo mais ingressos. O burro.

Mas nem adianta, porque eu preciso participar do festival em si, gosto da sensação de escolher eu mesmo os filmes que verei naquele dia, conversar com as pessoas sobre as situações de festival, não tem essa de ficar se isolando. Projetei minha programação deste ano não para viver o festival, mas para conviver com o festival. Poucos filmes por dia em geral, mais acumulados nos fins de semana. Existem dias da semana em que não verei nada - porque é preciso aprender a viver feito gente nesta época, sem aquela histeria de largar tudo, viver na rua, escrever até as 5, 6 da manhã apenas para tentar pegar mais outra sessão de meio-dia. E, verdade seja dita, porque a programação deste ano em particular está permitindo isso.

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Primeiro dia. O clima do Espaço de Cinema está bom, animado para uma tarde de sexta-feira. Bastante gente se considerarmos o Festival do Rio 2005, no qual o primeiro fim de semana esteve tranqüilo até demais, quase às moscas. Diferença gritante entre as duas sessões do meu dia. O espaço de meia hora entre elas revelou um Espaço de Cinema agora apinhado de gente, com filas para as sessões e o escambau. Até eu dar azar de chegar atrasado num filme disputado, é assim que gosto de ver o festival: freqüentado.

Primeiro filme do dia, "Ciudad en Celo", 12h. 30. Onde que eu li que essa porra ganhou o Festival de Cinema Independente de Buenos Aires? Aliás, por que esqueci que o texto (que não encontrei mais) se lia: "'Ciudad en Celo' ganhou o prêmio, mesmo embora o melhor filme fosse... (esqueci o título)"? Esse filme poderia trazer riscado na película a receita para a cura do câncer e eu ainda mandaria queimar a lata. Perda de horas de vida perfeitamente utilizáveis para a prática de, sei lá, modelagem de sombrancelha.

Segundo filme do dia: "Irina Palm", produção elogiada estrelada por Marianne Faithfull, na qual uma senhora de idade, precisando de recolher dinheiro para o tratamento de seu neto, passa a masturbar homens por dinheiro e vira uma sensação do mercado do sexo local. Bom filme que me surpreendeu por manter-se fiel às suas raízes sombrias e degradantes, sem jamais aliviar o espectador com comédia escrachada (mas ainda assim, existem bons risos: o filme é inteligente o bastante para não ser tiranizado por eles), o que se esperaria da trama típica de filmes britânicos comerciais, no estilo de "Ou Tudo ou Nada"; comparado com o anterior, uma obra-prima. Está comprado pela Imovision e legendado.

"Irina Palm" foi projetado em HD pela Rain Digital (mas o filme é originalmente 35mm). Em termos de definição de linhas, um desbunde. A hierarquia de profundidade dos objetos salta da tela. Se a Rain faz o encoding a partir do master digital ou de fita, nem interessa, porque a projeção é generosíssima com as linhas, com a definição.

Mas as cores, meu amigo... vou considerar que o projetor talvez estivesse mal calibrado, porque os pretos não tinham profundidade nenhuma. Parecia uma televisão na qual alguém exagerou o controle de brilho e as imagens ficam com aquela névoa esbraquiçada pairando sobre tudo. Nos momentos de escuridão, a maior parte do filme, ficava triste de se assistir.

O restante do dia, apesar do meu desejo de assistir "O Homem Que Matou o Facínora" no cinema (ainda que eu não goste do cinema da Caixa Cultural), parte da mostra dedicada a John Wayne, reservei-me para outras atividades, tais quais dar conta dos textos a serem postados e, claro, tornar-me uma pessoa digna dos filmes que amo e dos que verei nos dias seguintes.
  Bernardo Krivochein    sexta-feira, setembro 21, 2007    3 comentários
 
 


Padilha exibiu Tropa de Elite como ´tem que ser visto´: em vídeo?!

O diretor José Padilha de "Tropa de Elite", vítima da recente e famigerada pirataria, avisou ontem, dia 20, antes da exibição do filme na abertura do Festival do Rio: "Agora vocês vão ver o filme como tem que ser visto."

Hoje recebo o email da Rain Digital que diz o seguinte (clique para ampliar):



Santa ironia!!
  Francesca Azzi    sexta-feira, setembro 21, 2007    4 comentários
 
 


Festival do Rio 2007: Ausências (confirmadas e ameaçadas)

Estou varrendo os releases de imprensa, os e-mails, tudo em busca de uma programação prévia do Festival do Rio na qual eles mencionavam, entre muitos outros filmes, a vinda de “Les Chansons d’Amour” de Christophe Honoré. Tinha certeza de que este filme, ausente da programação lançada ontem, tinha sido mencionado oficialmente em algum momento. Será que eu inventei isso? Seria um texto especulativo com o qual me confundi?

A cultura em geral (e não apenas cinematográfica) não apenas admira ou prestigia um evento como o Festival do Rio: a cultura depende dele para atualizar-se, integrar-se na discussão artística corrente no mundo afora, especialmente num momento em que recebe-se notícias do cinema mundial sem atraso, sem espera. Imagino a angústia de platéias brasileiras em décadas anteriores, lendo em revistas importadas ou em cartas de amigos morando no estrangeiro, sugestões de filmes que elas não saberiam se sequer teriam acesso (ainda que isso renda acessos de saudosismo como aquele de Artur Xexéo, da sensação incomparável de se ter acesso a um filme proibido). Não sei se é uma questão de curadoria ou de custo (ou ambas), mas cada vez mais chego à conclusão de que o grande valor dos festivais de cinema não são os grandes filmes celebrados que, exatamente pelo êxito com público, crítica e imprensa, garantem sua distribuição local. Os festivais de cinema, para mim, se justificam muito mais pela exibição dos injustiçados, dos não-tão-bons, dos decepcionantes, dos ambiciosos-mas-sem-chance-alguma-de-sucesso-comercial, de todos os filmes cuja chance já fora negada em suas exibições frustradas mundo afora. Acho que o espectador comum poderá se identificar com o seguinte: da mesma maneira que ele é atraído por um filme elogiado e se impõe a obrigação de verificar “se ele é bom mesmo”, os filmes desprezados me convidam a descobrir se eles são realmente tão ruins quanto dizem. É nessas “provas dos nove” que normalmente encontra-se a sensação mais ambicionada por freqüentadores de festival: a revelação absoluta.

Existem surpresas na programação do Festival do Rio 2007, mas senti ausência de muitos títulos que pessoalmente aguardava assistir, a grande maioria filmes rejeitados pela crítica no Festival de Cannes e divisores de público em Toronto. 2007 se encerrará, novamente, com lacunas – como fazer listas de melhores do ano sem ao menos ter uma oportunidade de se perder determinado filme?

Para falar a verdade, pude assistir alguns títulos surpreendentes do Auckland International Film Festival – NZ, que consistem-se em alguns dos melhores filmes que vi no ano, e que se revelaram também ausentes da programação do Festival do Rio. Recomendo depois que ajeitar minha coluna depois do evento. Por um lado, é até bom: a enxurrada de filmes do Festival testará sua permanência na minha memória. Estou aberto.

Mas o verdadeiro perigo é da ausência dos filmes já programados. Todo festival está propenso a atrasos, cancelamentos e imprevistos – e certamente o Festival do Rio já conheceu a trifecta o bastante a ponto de adotar maior prudência ao publicar a programação (identifiquei apenas dois filmes “A programar” no catálogo: “Lust, Caution” e “Ne Touchez Pas La Hâche”). Como a venda de ingressos antecipados e passaportes começou hoje, ainda preciso verificar a lista de filmes ainda não-liberados. Angústia dupla: não saber se o filme virá e, quando o filme for liberado, os ingressos se esgotarem antes de ser capaz de comprá-los. Vida de festival. E a má alimentação. E a dor na coluna. E o cansaço. Mas a gente volta por causa de uma terceira angústia: a de se encontrar um grande filme. É o grande jogo.

O filme anterior de Christophe Honoré, “Dans Paris”, será exibido.

* O filme de Sidney Lumet, "Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto", não faz mais parte da programação do Festival do Rio.



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É Diferente para Cariocas

"Aos que compraram o DVD pirata de Tropa de elite, um aviso: não é preciso revê-lo no cinema. Não há diferença significativa entre a versão alternativa, que circula livremente pelas esquinas da cidade desde o início de agosto, e a definitiva, a oficial, que abre hoje à noite, em sessão para convidados, a edição 2007 do Festival do Rio, que traz 420 longas. Afora a reconfiguração de alguns planos, a inclusão de pequenos trechos na narração em off e a retirada dos intertítulos, que dividiam a narrativa em tópicos, o filme, exibido ontem para a crítica especializada, é o mesmo, com o mesmo poder de fogo. Os "contraventores" que não conseguiram segurar a curiosidade até o lançamento em circuito do polêmico filme de José Padilha, marcado para o dia 2 de outubro, no entanto, só perceberão a distância na qualidade técnica." Carlos Helí de Almeida (que não deve gostar de alguém da produção) na reportagem "Muito Barulho por Nada", capa do Jornal do Brasil de quinta-feira. Link.

Eu sei que estou devendo um texto sobre "Tropa de Elite", mas já estou tão saturado pelo assunto que estou pensando em revolucionar e não falar. A quem interessar possa, o filme de Padilha teve os ingressos antecipados para sua única sessão público no Festival do Rio esgotados em 1 hora.

É um rito de passagem diferente para cariocas, assistir "Tropa de Elite". Diria-se que o carioca sofre uma obrigação de assisti-lo que não afeta moradores de outros estados. Reconhece-se a história, reconhece-se "na" história, os lugares, os costumes. Pior, é transmitida uma sensação (fabricada) de correspondência quase infalível com a realidade do Rio de Janeiro, com o adendo de, ao contrário de um filme americano, não promover uma cultura de medo, mas uma cultura de auto-afirmação. O BOPE assassinando marginais com vassouras na bunda é o carioca classe-média se vingando do pivete que roubou sua carteira, algo inconcebível no politicamente incorreto importado da vista grossa de organizações internacionais. O carioca atual é meio frustrado: precisa se mostrar civilizado quando seu desejo interno animalesco já não mais se contém. Engraçado como o carioca não se reconhece nos playboys fumando maconha no morro (o papel que mais lhes seria adequado), na hipocrisia da ONG dirigida por privilegiados, na universidade (PUC-RJ) que distorce a realidade com o politicamente correto e discursos humanitários, mas se reconhece na brutalidade do BOPE (que é justa, independente do que José Padilha quer forçar as pessoas a interpretarem de seu filme), na virtuosidade do personagem de Wagner Moura, no heroísmo de Batista. Mas enfim, é Rio de Janeiro e é Festival de Cinema. A imagem positiva vem primeiro.
  Bernardo Krivochein    terça-feira, setembro 18, 2007    5 comentários
 
 


O filme "MUTUM" de Sandra Kogut abre o INDIE 2007

A sétima edição do evento exibirá cerca de 130 filmes. A programação completa será anunciada no próximo dia 26.





O INDIE 2007- Mostra de Cinema Mundial será aberto oficialmente no dia 04 de outubro com o filme "Mutum", da carioca Sandra Kogut. Na abertura, o filme será exibido para convidados mas terá nova sessão no sábado, dia 06, aberta ao público. A programação completa desta sétima edição do evento, que acontecerá entre os dia 5 a 11 de outubro, em Belo Horizonte, será divulgada no dia 26 de setembro. O Indie 2007 exibirá mais de 130 filmes, de 20 países, e acontecerá nas salas do Usina Unibanco de Cinema e Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes, todas as sessões terão ENTRADA FRANCA.

O filme "Mutum" é o primeiro longa de ficção da diretora carioca Sandra Kogut, participou este ano da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e do Festival de Toronto, é uma adaptação da novela Campo Geral, do livro Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa. A diretora Sandra Kogut, atualmente morando entre a França e os Estados Unidos, é reconhecida internacionalmente pelos trabalhos videográficos e documentais, apresenta em "Mutum" o universo delicado de Thiago, um menino de 10 anos, que vive com a família no sertão de Minas. O filme foi inteiramente filmado em Minas Gerais, na região de Três Marias, e traz muitos atores não-profissionais da região.

Este ano não haverá a distribuição de ingressos antecipados, as bilheterias serão abertas 30 minutos antes de cada sessão. Toda a programação estará no site INDIE 2007.

O INDIE 2007 tem patrocínio da Usiminas e Oi, apoio da Contax e Oi Futuro, e é realizado através dos benefícios das Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas, e da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
  Francesca Azzi    terça-feira, setembro 18, 2007    4 comentários
 
 


A Vida em Tempos de Festival do Rio (para não-cariocas)

Sinais de mudanças? A enorme fachada em obras do shopping Rio Sul (passagem obrigatória da maioria das cariocas na Zona Sul) está nua em 2007: desde sua primeira edição, não houve um Festival do Rio sequer que não a cobrisse com sua publicidade-tema (mais o primeiro do que o segundo). Atualmente, ainda que o pôster do festival faça-se presente em grande parte dos pontos de ônibus da cidade (mas nenhum outdoor – pelo menos, até agora), o acontecimento do Festival do Rio marca presença modesta – bastante modesta, se comparado com todas as edições anteriores - nas perspectivas e conversas do cenário cultural carioca. É como se o evento hesitasse em se fazer mais presente, como se sofresse o risco de ser cancelado no último minuto. É, inclusive, o perigo iminente de todo e qualquer evento cultural brasileiro (dizem-me que o evento foi privado de 3 milhões de reais que lhe seriam dedicados; o que seria bom é saber para onde foram).

Não foi a última mudança no padrão pré-Festival do Rio de abordagem ao público. Na maioria das edições (não vou arriscar a dizer que foram todas, pois não me lembro se foi assim nas primeiras vezes), a programação “completa” do Festival (aspas, pois qualquer festival está apto a inclusões e exclusões de títulos durante sua temporada) saía num suplemento do Jornal O Globo no sábado da semana que precedia a abertura oficial. Este ano, filmólogos, cinéfilos e afins tiveram uma manhã decepcionante: nada de suplemento. Ainda que venha a ser publicado na – mais vendida – edição dominical (estou supondo, amanhã veremos)*, a quebra do costume desequilibra um comportamento ao qual muitos haviam satisfatoriamente se acomodado. Tão essencial tornou-se a publicação sabadinal (isso é uma palavra?) que outros eventos cinematográficos cariocas também adotaram o dia da semana como propício ao lançamento de suas publicidades: semana passada, a programação do último ReCine foi publicada nos mesmos moldes do festival de cinema em questão.

As mudanças não são todas ingratas: ainda que a vinheta do ano passado trouxesse plágios, desculpem-me, “referências” (é assim que se chama plágio nas empresas publicitárias; veja-os assaltando vídeo locadoras em busca de “referências visuais”) de várias outras obras audiovisuais que apreendessem um “Rio de Janeiro/cinema de sonho” (especialmente do suspense húngaro “Kontroll” – a menina fantasiada dentro do metrô – e do clipe de Spike Jonze para “California” da banda Wax – o senhor correndo com o corpo em chamas), era uma evolução dos anúncios simpatiquinhos e cariocas demais de anos anteriores, que pretendiam estabelecer os ídolos do Festival (assombroso o ano em que cinéfilos precisaram encarar os dedos cabeludos do pé de Luigi Barricelli ou a presença de Luma “I love a man in uniform” de Oliveira fazendo o-corpo-do-burro-não-é-transparente frente ao pôr-do-sol) e a atmosfera de glamour ao qual o Festival parece pretender em alguns momentos, recorrendo inclusive a clichês cinematográficos. É tão estranho que, em seu evento maior, o Grupo Estação, que graças ao bom Deus se aventura a abastecer o país com uma proposta alternativa ao cinema comercial corrente, acabe se permitindo ser representado por alusões a Forrest Gump.

Apenas se outras instituições ao redor do Festival do Rio também optassem pela mudança. Explico – e isso é essencial para os não-cariocas saberem. Todo ano, o caderno de cultura e entretenimento publicado na primeira sexta-feira de festival do supracitado jornal, recicla a mesma ofensiva reportagem na qual o leitor é convidado a realizar um teste para descobrir a qual tipo de público e mostra pertence. O jornal adjetiva venenosamente o leitor com apelidos que falham em se popularizar no vocabulário dos freqüentadores (aquilo que os jornalistas, aspirantes a trendsetters, secretamente desejavam) e a lista de filmes proposta para cada “segmento”, ainda que correta, sugere somente o óbvio, sem apontar para apostas que o leitor primeiramente não arriscaria. Pode ser prematuro escrevê-lo e o referido jornal reserva uma grande surpresa em 2007, mas tal reclamação justifica-se pelo histórico sólido até então. Mais além, no balanço geral sobre os erros e acertos do festival, certamente teremos reclamações sobre o sistema de legendagem eletrônica, cuja sincronia, localização na tela e tradução deixam a desejar. Noticiá-lo esconde como o público na realidade, é compreensivo com o sistema (sabem exatamente que é a melhor opção) e tolerante (não é sinônimo de “conformado”) com suas eventuais falhas. Até o surgimento de tecnologia melhor – não podemos parar de buscá-la – seria mais digno se pudéssemos relatar tantos os acertos quantos os erros da legendagem eletrônica. Digo isso por causa da exibição de “Inimigos do Império” no Espaço de Cinema 1 no festival do ano passado. Filme chinês ao qual o responsável pela legenda eletrônica foi obrigado a sincronizar sem o auxílio de legendas em inglês impressas na cópia (o filme veio purinho de seu país de origem), a sessão de meio-dia transcorreu com a precisão de uma máquina: o texto entrava e saía de cena nos momentos exatos, resultado de um esforço, diria, miraculoso do pobre diabo resignado àquela tarefa ingrata. A legendagem correu a perfeição tal que, ao evidenciar como o sistema pode ser satisfatório com um tanto de sorte e atenção do operador, aplausos deveriam ter sido-lhe dedicados.

O slogan da edição 2007 do Festival do Rio lê-se: “Cinema: o espetáculo de todas as telas”, acompanhado de uma espécie de mosaico multi-formatos cinematográficos e digitais montando imagens de cartão-postal da cidade (praias, pontos turísticos, etc.). As mais características das peças de mosaico, poderemos reconhecer, são as que representam a tela de um palmtop, de uma janela de reprodutor de vídeo em flash e de uma janela de quicktime (há também a tela de uma televisão de plasma/LCD, um fotograma de película, etc.). A mais “abstrata”, por assim dizer, é o retângulo cinematográfico padrão – ou, como a geometria reconhece, um retângulo e ponto final. Não há nada que realmente caracterize a tela cinematográfica por si só além de suas dimensões engrandecidas e aqui temos, talvez, a primeira campanha publicitária do Festival do Rio que acomode em si não apenas uma chamativa ostentação (é inclusive sua campanha mais visualmente modesta), mas uma idéia, uma discussão sobre cinema: o espetáculo de todas as telas é para todas as telas? As mesas de discussão abertas neste ano prevêem debates, entre outros, em cima da crescente onda de pirataria no mundo inteiro e do casamento entre vários formatos de mídia audiovisual. Antagonismos são previstos. A grande questão é menos sobre tecnologia – já estabelecida no modo de consumo especular cotidiano e que agora só amplia seu alcance para classes sociais antes excluídas dos avanços – mas uma de distribuição de cultura (questão que já estaria mofada pela idade, não fosse seu uso constante). Será que queremos os já anunciados e aguardados grandes planos de abertura e fechamento de um “Stellet Licht” experimentados pela primeira vez por nós no visor minúsculo de um iPod Video ou de um reprodutor de vídeo no computador? Claro que não. Mas quando não há acesso convencional ao filme (nem todos os cinéfilos do Brasil moram no Rio e em São Paulo, ou tem dinheiro, liberdade e condições para adotarem temporariamente essas cidades em épocas propícias ao seu cinema), a decisão é mais radical: ver o filme da maneira que dá ou morrer sem conhecê-lo? Faz-se necessário que o cinema se torne espetáculo com todas as telas. Considerando o filme de abertura do festival, pode-se dizer que tal objetivo já foi alcançado. Mais além, da mesma maneira que faz pouco sentido freqüentar em festival a pré-estréia de um filme prestes a entrar em cartaz dentro de poucos dias após o término do evento, qual é o sentido de se freqüentar a sala de cinema para se assistir a filmes cujo lançamento em formato caseiro é iminente? Muitos defenderão a experiência cinematográfica, sem considerar que esta se transformou há muito tempo. A falta de educação do público, os altos preços e as condições das salas (preservação das antigas e diminuição das escalas das telas das recentes) fazem a conveniência contemporânea muito mais atraente do que a preservação saudosista de um espetáculo que banaliza-se e deterioriza-se pelos fatores acima citados – e aos quais os gerentes de salas parecem fazer vista grossa, uma vez que iniciativas não são tomadas (também deveríamos perguntar se esse é sequer seu papel: de fato, a falta de educação pertence ao público). Por isso a tarefa de criticar-se um evento como o Festival do Rio, ao qual o freqüentador só quer ver maior, melhor, mais abrangente, mais eficiente, num país que tende a sufocar suas manifestações artísticas, é ingrata, algo que se faz com reticência. Ninguém quer contribuir para sua extinção.

Eventos com celebridades e celebridades eventuais à parte, o Festival do Rio é merecidamente reconhecido por sua imensa programação, o que implicaria em maior abrangência, muito mais pela quantidade do que pela curadoria. Pois na edição de 2007, o trabalho de uma curadoria se fez muito mais evidente, especialmente na mostra Panorama Mundial, que traz infiltrada em si uma mini-mostra de cinema português contemporâneo (some-se ainda aos longas “Portugal S/A” de Ruy Guerra, “Dot.com” e “20,13 Purgatório”, a presença dupla de Manoel de Oliveira com o afrancesado “Belle Toujours” e “Cristóvão Colombo – O Enigma”, e do episódio de Pedro Costa em “O Estado do Mundo”), a transformação da Mostra Dox na mais temática Fronteiras, fazendo com que a Panorama assimilasse os documentários dissidentes (dois explicam-se: são dois filmes sobre Michael Moore, ainda que apenas um seja dirigido por terceiros), dois(!) filmes sobre o circuito de vale-tudo (nenhum deles na mostra gay; que aliás, vem forte neste ano, mais pelo conteúdo e menos pela massa muscular) e a completamente inesperada presença de “O Homem que Desafiou o Diabo” fora da Première Brasil. Talvez seja um erro do release de imprensa, mas até sua correção, vamos nos divertir com a idéia que a curadoria reclamou a brasilianidade de Moacyr Góes com seu suassunesco cine-repentista, boneca de barro souvenir de marujo do Queen Elizabeth II. É bem o que o cinema deslumbrado da Globo Filmes ambiciona: ser cinema hollywoodiano, ou pelo menos de padrões hollywoodianos, ou melhor, ser um cinema acima-brasileiro. Ostentando na escala das produções, na reciclagem do star-system e linguagem televisivos, e no alto número de incautos que se arriscam na bilheteria, conseguiram o acima-brasileiro. Falharam foi no cinema. Diabo por diabo, melhor escolher o de Sidney Lumet (“Antes que o Diabo saiba que você está morto”) ou o argentino “Satanás”. Melhor ser você mesmo xenófilo e deslumbrado do que um diretor global sendo-o por você.

O futuro é incerto. Por ora, filmes.

* Segundo assessoria do Jornal O Globo, o suplemento só será publicado na edição de segunda-feira.

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Serão dias puxados, já que a cobertura do Festival do Rio atrapalhará-se com a realização do festival mineiro organizado pela Zeta Filmes (Deus, é muito se pedirmos que tudo corra bem?), mas estou nos cinemas cariocas até o final do evento e minha ambição é cobri-lo custe o que custar. Aproveito, para os amigos do blog e curiosos, compartilhar a alegria de alguns desenvolvimentos do INDIE – Mostra de Cinema Mundial.

Quem acompanha os posts e os comentários há mais tempo, sabem que existem alguns filmes específicos que venho sugerindo, desejando, propondo para a curadoria do festival. Essa semana acabamos vivendo nosso pequeno momento “O Segredo” do ano, no qual o pensamento positivo atraiu alguns longas inesperados para Belo Horizonte. Digamos que, segundo os comentários alguns posts abaixo, um comentarista ficará bastante feliz de realizar seu desejo de conhecer certo filme no cinema (tu vai estar em BH, não é?). E esse é só um dos filmes. Não demora, a programação do INDIE entra no ar, logo ficar fazendo suspense é besteira; mas sem autorização, nada de citar títulos. Só posso dizer que um dos filmes citados nas reportagens sobre o movimento mumblecore (e um daqueles mais defendidos por mim) – um filme que orbita muito mais na esfera de “The American Astronaut”, no entanto – está na programação e poder apresentá-lo no Brasil particularmente me enche de satisfação, assim como o diretor chinês em ascenção que poderemos apresentar ao público brasileiro pela primeira vez. Ou então o superpremiado não-terror inglês. Ou a febre dos cinéfilos japoneses que abalou o distrito de Shibuya em 2006. Poder conciliar essa apresentação de novidades de vanguarda com alguns títulos de grande visibilidade em festivais mundo afora e que saciem a cinefilia/filmologia dos espectadores mineiros é algo que causa grande satisfação.

A programação oficial do INDIE - Mostra de Cinema Mundial será divulgada no dia 26 de setembro.

  Bernardo Krivochein    domingo, setembro 16, 2007    3 comentários
 
 



Filme mexicano de diretor uruguaio leva o FIPRESCI em Toronto 07

O prêmio FIPRESCI (Prêmio da Imprensa Internacional dado à um diretor estreante), entregue no 32o Festival Internacional de Toronto foi concedido ao uruguaio, radicado no México, Rodrigo Plá com o filme "La Zona" ( que já havia abocanhado, no último Festival de Veneza, o "Leão do Futuro").

"La zona" narra a trágica incursão de três ladrões num condomínio de luxo onde a volta impera a pobreza ( alguma lembrança ou semelhança com algum país bem próximo?).

O prêmio do público foi para o canadenses David Cronenberg por "Eastern Promises", com Viggo Mortensen e Naomi Watts.

Outra produção latina, o mexicano "Cochochi", que está na lista do Rio lá embaixo, levou U$10.000 do prêmio "Diesel Discovery" . O filme relata as aventuras de duas crianças indígenas mexicanos em busca de um cavalo perdido.

O Festival de Toronto que acabou neste sábado, dia 15, exibiu 349 filmes de 55 países. Do Brasil, na mostra Contemporary World Cinema, apenas "Mutum" de Sandra Kogut. Ah! e Hector Babenco com sua co-produção Brasil-Argentina, "El Pasado" no programa, Masters.

Saiba mais TIFF07
  Francesca Azzi    domingo, setembro 16, 2007    0 comentários
 
 



A lista

Acabei de receber a lista do Festival do Rio. Não sei explicar ainda, depois com certeza o Bernardo vai falar melhor sobre os filmes, mas a primeira vista me pareceu com menos força do que nos anos anteriores. Será que estou louca? Talvez seja o foco China que me pareceu meio déja vu. Aliás este é o grande desafio para todo festival: não se repetir/repetir fórmulas ( o que é inevitável) e não cair nas próprias armadilhas que cria ( o que é evitável). Claro que manter certo grau de repetição é humano e saudável, porque cria vínculos e conceitos... mas vamos "a lista". Pegue seus bloquinhos e uma conexão, faça suas contas e veja o que você quer mesmo ver, de verdade. Serão mesmo 300 filmes em 15 dias.


PANORAMA DO CINEMA MUNDIAL
- La Môme (La vie en rose) de Olivier Dahan, (França)
- Goodbye Bafana (Goodbye Bafana) de Bille August, (Alemanha)
- Irina Palm (Irina Palm) de Sam Garbarski, (Bélgica)
- Les Témoins (The Witnesses) de André Techiné, (França)
- Fay Grim (Fay Grim) de Hal Hartley, (Estados Unidos)
- Interview (Interview) de Steve Buscemi, (Estados Unidos)
- Paranoid Park (Paranoid Park) de Gus Van Sant, (França)
- Hei Yan Quan (I Don't Want to Sleep Alone) de Tsai Ming-Liang, (Taiwan)
- Fados (Fados) de Carlos Saura, (Espanha)
- Portugal S.A. (Portugal S.A.) de Ruy Guerra, (Portugal)
- Rescue Dawn (Rescue Dawn) de Werner Herzog, (Estados Unidos)
- Ne touchez pas la hâche (Don't Touch the Axe) de Jacques Rivette, (França)
- Dot.Com (Dot.Com) de Luís Galvão Teles, (Portugal)
- A Mighty Heart (A Mighty Heart) de Michael Winterbottom, (Estados Unidos)
- Dialogue avec mon jardinier (Conversations with my Gardener ) de Jean Becker, (França)
- I'm not there (I'm not there) de Todd Haynes, (Estados Unidos)
- Inland Empire (Inland Empire) de David Lynch, (França)
- Soom (Breath) de Kim Ki-Duk, (Coréia do Sul)
- Une vieille maitresse (An Old Mistress) de Catherine Breillat, (França)
- Se, Jie (Lust, Caution) de Ang Lee, (China)
- Planet Terror (Planet Terror) de Robert Rodriguez, (Estados Unidos)
- Waitress (Waitress) de Adrienne Shelly, (Estados Unidos)
- 3 saptamini si 2 zile (4 Months, 3 Weeks and 2 Days) de Cristian Mungiu, (Romênia)
- Sicko (Sicko) de Michael Moore, (Estados Unidos)
- La fille coupée en deux (A girl cut in two) de Claude Chabrol, (França)
- Death Proof (Death Proof) de Quentin Tarantino, (Estados Unidos)
- Elle s'appele Sabine (Her name is Sabine) de Sandrine Bonnaire, (França)
- Vratné Lahve (Empties) de Jan Sverak, (República Tcheca)
- The Brave One (The Brave One) de Neil Jordan, (Estados Unidos)
- Sonic Mirror (Sonic Mirror) de Mika Kaurismaki, (Suíça)
- Le rose del deserto (The Roses of the Desert) de Mario Monicelli, (Itália)
- Sleuth (Sleuth) de Kenneth Branagh, (Estados Unidos)
- It's a Free World... (It's a Free World...) de Ken Loach, (Reino Unido)
- Belle Toujours (Belle Toujours) de Manoel de Oliveira, (Portugal)
- Death at a Funeral (Death at a Funeral) de Frank Oz, (Alemanha)
- Bashing (Bashing) de Masahiro Kobayashi, (Japão)
- Hairspray (Hairspray) de Adam Shankman, (Estados Unidos)
- Solnze (The Sun) de Alexander Sokurov, (Rússia)
- Mon meilleur ami (My Best Friend) de Patrice Leconte, (França)


EXPECTATIVA 2007
- Hyazgar (Desert Dream), de Zhang Lu (Coréia do Sul)
- Boldog új élet (Happy New Life), de Árpád Bogdán (Hungria)
- Goodbye, Southern City (Goodbye, Southern City), de Oleg Safaraliyev (Azerbaijão)
- Vanaja (Vanaja), de Rajnesh Domalpalli (Índia)
- Adama Meshuga´at (Sweet Mud), de Dror Shaul (Israel)
- A Culpa é do Fidel (La faute à Fidel) de Julie Gavras (França) com Julie Depardieu, Stefano Accorsi
- Rêves de poussière (Dreams of Dust), de Laurent Salgues (França)
- Running With Arnold (Running With Arnold), de Dan Cox (Estados Unidos) com Arnold Schwarzenegger, Alec Baldwin, Danielle Craig
- Nue propriété (Private property), de Joachim Lafosse (Bélgica) com Isabelle Huppert, Jérémie Renier, Yannick Renier, Kris Cuppens
- Terra Sonâmbula, de Teresa Prata (Portugal)
- The 11th hour , de Nadia Conners, Leila Conners Petersen (Estados Unidos) com Leonardo DiCaprio (narrador)
- Oxalá cresçam pitangas, de Kiluanje Liberdade, Ondjaki (Angola)
- The Jane Austen Book Club, de Robin Swicord (Estados Unidos)
- That Samba Thing, de Teddy Hayes (Reino Unido) com Joseph Marcell, Martinho DaVila, Saul Reichlin, Laura Tavares

FOCO CHINA
- Lost in Beijing, (Ping guo ) de Li Yu
- Getting Home, (Luo Ye Gui Gen) de Zhang Yang
- The Post Modern Life Of My Aunt, (Yi ma de hou xian dai sheng huo) de Ann Hui
- Bliss, (Fu sheng) de Sheng Zhi-min
- A maldição da flor dourada (Curse of the golden flower, Man cheng jin dai huang jin jia) de Zhang Yimou
- The Knot, (Yun shui yao) de Li Yin
- You & Me, (Women Liang) de Ma Liwen
- Blind Mountain, (Mang Shan) de Li Yang
- Luxury Car, (Luxury Car) de Wang Chao
- The Park, (gong yuan) de Yin Lichuan
- Hi Frank! , (hi Frank!) de Huang Shuqin
- Electric Shadows, (Meng ying tong nian) de Xiao Jiang

DOX
- 9 Star Hotel (Malon 9 Kohavim), de Israel, Cor, 78, 2006
de Ido Haar.
- Le papier ne peut pas envelopper la braise (Paper cannot wrap up embers)
França, Cor, 90, 2006, de Rithy Panh
- War / Dance. de Sean Fine, Andrea Nix Fine
Estados Unidos, Cor, 105, 2006
- Strange Culture, de Lynn Hershman Leeson
com Steve Kurtz, Thomas Jay Ryan, Tilda Swinton, Peter Coyote
Estados Unidos, Cor, 76, 2007


FRONTEIRAS
- Sisters of No Mercy: The Afro-European Sex Slave Trade, de Lukas Roegler. (Alemanha)
- Crossing the line, de Daniel Gordon (Reino Unido)
- Ghosts of Cité Soleil, de Asger Leth (Dinamarca)
- Ezra, de Newton I. Aduaka (França)
- Lumo ( Lumo), de Bent-Jorgen Perlmutt, Nelson Walker III (Zaire)
- Beyond the Call ( Beyond the Call), de Adrian Belic (Estados Unidos)
- Hot House ( Hot House), de Shimon Dotan (Israel)
- Taxi to the Dark Side ( Taxi to the Dark Side), de Alex Gibney (Estados Unidos)
- Enemies of Happiness ( Vores lykkes fjender), de Eva Mulvad (Dinamarca)
- Ghosts of Abu Ghraib ( Ghosts of Abu Ghraib), de Rory Kennedy (Estados Unidos)
- Welcome Europa ( Welcome Europa), de Bruno Ulmer (França)

MIDNIGHT MOVIES
- The Notorious Bettie Page, de Mary Harron
- Shortbus, de John Cameron Mitchell.
- Kurt Cobain: About a Son, de AJ Schnack.
- Control, de Anton Corbijn (Reino Unido)


MUNDO GAY
- La León La León, de Santiago Otheguy (Argentina)
- Férfiakt Men in the Nude, de Károly Esztergályos (Hungria)
- Riparo Shelter, de Marco Simon Puccioni (Itália)
- Schau mir in die Augen, Kleiner Here's Looking at you, Boy, de André Schaefer (Alemanha)
- XXY XXY, de Lucía Puenzo (Argentina)
- Naissance des pieuvres Water Lilies, de Celine Sciamma (França)
- Dos Patrias, Cuba y la noche Two Homelands, Cuba and the Night, de Christian Liffers (Alemanha)
- Avant que j'oublie Before I Forget, de Jacques Nolot (França)
- A Jihad for Love A Jihad for Love, de Parvez Sharma (Estados Unidos)
- Love and Other Disasters Love and Other Disasters, de Alek Keshishian (França)
- Tick Tock Lullaby Tick Tock Lullaby, de Lisa Gornick (Reino Unido)
- Black White + Gray, A Portrait of Sam Wagstaff and Robert Mapplethorpe Black White + Gray, A Portrait of Sam Wagstaff and Robert Mapplethorpe, de James Crump (Estados Unidos)
- Finn's Girl Finn's Girl, de Dominique Cardona, Laurie Colbert (Canadá)

PREMIÈRE LATINA
- El otro, de Ariel Rotter (Argentina)
- Madrigal, de Fernando Pérez (Espanha)
- Ciudad en celo, de Hernán Gaffet (Argentina)
- El Camino de San Diego, de Carlos Sorin (Argentina)
- Nacido y Criado, de Pablo Trapero (Argentina)
- El bufalo de la noche, de Jorge Hernandez Aldana (México)
- Déficit, de Gael García Bernal (México)
- Stellet Licht, de Carlos Reygadas (México)
- Lo bueno de llorar, de Matias Bize (Espanha/Chile)
- Cochochi, de Laura Amelia Guzmán, Israel Cárdenas (México)

Mais info:www.festivaldorio.com.br
  Francesca Azzi    segunda-feira, setembro 10, 2007    10 comentários
 
 


O Genial Howie Tsui



Ele, Howie Tsui, The Mongrel (ou O Mestiço) está na intitulada revista de design Zupi de agosto (Você conhece? Custa 14,00 reais, é toda colorida e, [mais importante], uma publicação nacional! Compre, se puder. A revista quase não tem propaganda e é linda. Você pode inclusive mandar seus trabalhos (artworks, que fique claro!)pra lá. Veja como em: http://www.zupi.com.br).

O Mestiço é chinês, morou na Nigéria e mora atualmente no Canadá, mistura homens, animais, monstros e deuses, peles e dentes em suas ilustrações. Veja mais em seu site http://www.howietsui.com
  Francesca Azzi    terça-feira, setembro 04, 2007    6 comentários
 
 


Privacidade é tema de mostra em Belo Horizonte



Imperdível! Este mês, com curadoria de Daniella Azzi, a mostravídeo Itáu apresenta o tema [Privacidade]. Confira abaixo o texto da curadora e os filmes que serão exibidos no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes em BH, nos dias 05, 12, 18 e 26, às 19. Entrada franca.

Além disso, Daniella manda o seguinte recado por e-mail:

"O tema é [Privacidade] e traz quatro filmes que talvez não tenham sido ainda exibidos por aqui. São quatro programas, mas gostaria também de indicar um quinto que tem total relação com este assunto e que você poderá assistir aí mesmo de onde está. Se trata do novo projeto do Jonas Mekas, 365 FILMS, aonde ele se propõe a postar todos os dias um novo vídeo pessoal_veja em Jonas Mekas."


:::::::::::::::::::::
PRIVACIDADE [CINEMA PRIVADO]
(Daniella Azzi)

As câmeras estão apontadas e prontas para filmar, clicar, enquadrar, para que qualquer objeto vire filme. Os suportes são móveis, acessíveis e os meios de exibição são públicos, mundiais. Todos querem e podem filmar e ser filmados. Não há mais fronteiras para a expansão do audiovisual? Todos podem mesmo ser cineastas? Câmeras digitais, celulares ou câmeras fotográficas produzindo milhares de imagens por segundo. YouTube, Google Video, sites e blogs clamando para que você, pessoa/realizador(a), poste seu vídeo, faça contato. Todos os vídeos caseiros, amadores e independentes do mundo estão ali para ser vistos.

Antes de ser uma novidade contemporânea, a história do audiovisual (seja cinema seja vídeo) esteve ligada inicialmente à proximidade do realizador para com as imagens que captava. Antes de contar histórias, os diretores direcionaram suas lentes à família, ao amor, aos filhos, aos amigos, às suas viagens pessoais, à sua visão privada, ao seu entendimento do mundo.

Se na contemporaneidade, o privado pode se tornar facilmente público, fazendo com que as distinções pareçam soar antiquadas e banais, a idéia desta curadoria traz quatro filmes que fazem do privado cinema.

A programação será iniciada com o trabalho do húngaro Péter Forgács, que realizou, de 1988 a 2002, uma série intitulada Private Hungary (Hungria Particular), que buscava explorar a história e a cultura húngara pelo viés da vida privada de seu povo. Usando imagens de arquivos pessoais, Forgács recontextualiza esses diários fílmicos, íntimos e cotidianos, para recontar a história política, social e cultural do seu país.

A vida e a obra são uma só no filme Double Blind, da artista francesa Sophie Calle, co-realizado com Greg Shephard, em 1992. Cruzando os Estados Unidos num Cadillac, de leste a oeste, munidos com suas câmeras, eles queriam fazer uma narrativa da viagem, um portrait de um relacionamento. Pode-se dizer que tudo era um pretexto para o possível casamento no final, desejo dela, ou para fazer um filme, desejo dele. Um legítimo road movie particular.

O programa seguinte traz o cinema aleatório, as notas de viagem que o cineasta americano Jon Jost fez de Londres há dez anos. Jost, nascido em 1943 em Chicago, fez seu primeiro filme em 1974. Nome importante da cena do cinema independente americano, dirigiu filmes premiados como All the Vermeers in New York (1990), Frameup (1993) e The Bed You Sleep in (1993). A partir de 1996, Jost descobre o cinema digital e passa a fazer todos os seus filmes nesse formato. London Brief, produzido em 1997, é a primeira realização dessa fase. Feito quase que acidentalmente, resulta num documentário pessoal, casual, por vezes turístico, da cidade.

La Chamelle Blanche, do belga Xavier Christiaens, foi especialmente escolhido para encerrar a programação. Junção pungente do real com o imaginário, do documentário com a ficção, o filme sintetiza toda a idéia por trás desse plausível cinema privado. Com imagens reais, documentais, de lugares como o mar de Aral, entre o Cazaquistão, o Uzbequistão e a Rússia, traz todo o onírico, o poético, o surreal e o particular que pode haver na realidade das imagens e nas ressignificações de cinema e arte.

::::::::::::::::::::::
Programação


|| 5 de setembro_19h

The Diary of Mr. N: 1938-1967 (Private Hungary 4)
Péter Forgács, Hungria, 1990, 51 min.
Se o mundo não cruzasse com a guerra, uma vida idílica seria a recompensa. Esse filme é a história do amor entre o herói Mr. N e Ilona: drama e antropologia. Pela lente da câmera 9.5 milímetros desse meticuloso engenheiro militar, seguimos os acontecimentos que se sucedem em sua vida-fábrica-família. Tendo como cenário o drama na Europa, Mr. N traz uma mensagem especial para o público. O documentário abrange 30 anos da história da Hungria, com cenas de terror e de regimes ditatoriais, de uma pacata vida familiar e da revolução.

||12 de setembro_19h

Double-Blind
Sophie Calle e Gregory Shephard, Estados Unidos, 1992, 76 min
Sophie Calle e Gregory Shephard unem-se para documentar uma viagem que, na verdade, ilustra seu relacionamento. Armados com suas câmeras, embarcam num Cadillac conversível para viajar pelos Estados Unidos, enquanto narram e registram, individualmente, seus diários pessoais, apresentando versões notavelmente diferentes sobre o relacionamento e a viagem. O observador é desafiado a reconsiderar os papéis subjetivos e culturais impostos pelo gênero, pela sexualidade, pelo poder e pela tradição. Calle, por meio de uma investigação pessoal, busca redefinir o conceito de sujeito/objeto, público/privado, verdade, ficção e encenação.

|| 19 de setembro_19h

London Brief
Jon Jost, Inglaterra, 1997, 90 min.
“London Brief é, bem, exatamente isso – um tipo de caderno de notas de uma curta visita a Londres, feita acidentalmente. Eu não tinha intenção nenhuma de fazer um filme de qualquer tipo. Estava me divertindo, experimentando as possibilidades de uma nova câmera DV. Tentava reunir imagens que eu queria ter à disposição para outros projetos. O coração do filme foi filmado em janeiro de 1997, em menos de três dias; a maior parte dele foi feita aleatoriamente, em filmagens casuais enquanto administrava outros negócios em Londres. Já em casa, tornou-se claro, ao olhar o material que havia ali, um vigoroso, vívido e, talvez, instrutivo retrato de Londres aproximando-se do milênio. [...] Enviei uma versão sem edição (apenas selecionada) para o festival de documentários de Yamagata, Japão. Eles me surpreenderam ao me convidar para a competição que só aceitava filmes de no mínimo 60 minutos. Retornei a Londres por uma semana, filmando propositalmente coisas que pensei seriam interessantes para fazer um tipo de retrato da cidade – incluindo locais turísticos, mercados, Speakers’ Corner...” (Jon Jost)

|| 26 de setembro_19h

La Chamelle Blanche (The White She-Camel)
Xavier Christiaens, Bélgica, 2006, 52 min.
Uma viagem poética às áreas de fronteira da antiga União Soviética. Um homem volta para a casa depois de uma longa viagem e não reconhece nada do que já lhe foi familiar. Estendendo os limites entre a poesia, a ficção científica e o documentário, ele vagueia pelos restos do mar de Aral, metáfora para uma paisagem, um mundo e um país que não existem mais. Como se Ulysses retornasse para casa depois de seu exílio e encontrasse um mundo completamente novo, onde nada está como antes de sua partida.

local: palácio das artes_avenida afonso pena 1537_ belo horizonte_mg _fone 31 3237 7399. www.palaciodasartes.com.br
  Francesca Azzi    segunda-feira, setembro 03, 2007    1 comentários
 
 
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